O Euro como instrumento de união ou como sinal de falta de democracia?

O último dia da Conferência Ulisses no CCB foi marcado pela discussão sobre o Euro. Mário Centeno, ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo, vê a moeda única como instrumento de paz e coesão. Martin Schulz, antigo presidente do Parlamento Europeu, realça, por outro lado, que a introdução do Euro deu um sinal de falta de democracia na Europa.

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Reuters/KAI PFAFFENBACH

Durante todo o fim-de-semana, no centro dos quatro painéis e oito mesas redondas que compuseram a Conferência Ulisses, esteve a Europa e o seu futuro, em todas as suas variantes. Para o final do segundo e último dia do evento, neste domingo, ficou guardado a discussão sobre o futuro do continente. E aí, o Euro foi visto, ao mesmo tempo, como um factor de união e prosperidade mas também como sinal da falta de democracia que se faz sentir ainda no seio da União Europeia.

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Durante todo o fim-de-semana, no centro dos quatro painéis e oito mesas redondas que compuseram a Conferência Ulisses, esteve a Europa e o seu futuro, em todas as suas variantes. Para o final do segundo e último dia do evento, neste domingo, ficou guardado a discussão sobre o futuro do continente. E aí, o Euro foi visto, ao mesmo tempo, como um factor de união e prosperidade mas também como sinal da falta de democracia que se faz sentir ainda no seio da União Europeia.

O painel que encerrou a Conferência Ulisses, que decorreu no Centro Cultural de Belém (CCB), e da qual o PÚBLICO foi media partner, contou com a presença de Mário Centeno, ministro das Finanças português e presidente do Eurogrupo, Martin Schulz, antigo presidente do Parlamento Europeu, Jan-Werner Müller, professor de Política na Universidade de Princeton, e Rui Tavares, historiador, colunista do PÚBLICO e que foi o comissário da conferência.

Centeno pegou no exemplo da introdução do Euro para falar da União Europeia como factor de prosperidade e de paz. “Gostava que pudéssemos discutir a importância do Euro para as nossas democracias”, referiu.

“O Euro é de facto, hoje, a prova mais tangível do que é a integração europeia”, disse ainda, acrescentando que a moeda única é “uma das instituições mais fortes na Europa”.

No entanto, esta, “como uma das mais jovens do mundo”, teve ao longo dos últimos anos “desafios muito grandes”, mas “saiu “reforçado desses desafios”, analisa ainda o ministro e presidente do Eurogrupo.

Tudo isto leva Centeno a concluir que o Euro é “um dos maiores e mais importantes instrumentos de prosperidade, paz e coesão”.

Já Martin Schulz pegou na questão do Euro por outra perspectiva. “A União Europeia é uma comunidade de nações soberanas que decidiram nas últimas décadas transferir a sua soberania nacional para um nível transnacional. O Euro é uma decisão de ceder a soberania nacional nos assuntos monetários”.

“Não há um único membro no parlamento português com influencia na tomada de decisão”, exemplificou. E esse sentimento de “falta de democracia” é, na óptica do deputado alemão, o “maior problema para a democracia europeia que surge de dentro da própria União Europeia”.

O segundo grande problema que Schulz aponta à Europa é aquele que vem de fora. Nomeadamente, “uma enorme ameaça de regimes autoritários”.

"Nível de qualidade altíssimo" marcou a Conferência Ulisses

Ao longo do dia de sábado e domingo, oito mesas redondas foram moderadas por jornalistas do PÚBLICO. Um deles foi Manuel Carvalho, redactor principal do jornal, que moderou duas discussões.

“As sessões a que assisti foram todas marcadas por um nível altíssimo de qualidade”, diz Carvalho em jeito de balanço.

“Aquilo que destaco é que em todos os painéis houve sempre uma ideia, um rasgo, uma luz completamente nova", diz, acrescentando que é isso que “permite vislumbrar novas maneiras de enfrentar os problemas”.

Sobre a necessidade de discussões amplas sobre a Europa como a que decorreu no CCB, e tendo como palco Lisboa, Manuel Carvalho refere a importância de os portugueses “discutirem mais a Europa”. “Mas que não a discutam como algo que é uma realidade distante”, mas sim “como uma coisa que tem impacto no que é a nossa política, a nossa sociedade, no fundo, a nossa vida”.