Um mês depois, Lisboa não deixa esquecer Marielle Franco

Evento em Lisboa vai reunir colectivos da cidade a 13 e 14 de Abril em nome das lutas defendidas pela vereadora assassinada no Rio de Janeiro.

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Mais de 500 pessoas estiveram reunidas para homenagear Marielle Franco na praça Camões, em Lisboa, a 19 de Março Miguel Manso

A ideia nasceu logo na manifestação de homenagem a Marielle Franco, em Lisboa, da vontade de continuar a “repercutir a voz da Marielle, uma voz que quiseram calar com esse assassinato que chocou a gente”. “Procuramos movimentos feministas, grupos LGBT, grupos políticos para se associarem”, conta ao PÚBLICO Fernanda Velloso, uma das organizadoras da manifestação cultural que, a 13 e 14 de Abril, vai marcar um mês desde o assassinato da vereadora no Rio de Janeiro e do seu motorista, Anderson Gomes, na noite do dia 14 de Março.

No sábado, na praça do Martim Moniz, reúnem-se movimentos de vários quadrantes para, através da arte, “ampliar a representatividade” das causas defendidas por Marielle Franco. Uma iniciativa de residentes em Lisboa, na maioria mulheres brasileiras, que se juntaram porque sentiram “a necessidade, o chamado, a vontade de marcar essa data” - um mês “de resistência”. A partir das 15h, haverá leitura de poesia dos colectivos AfroLis/Djidiu e Consciência Negra, performances de Thaís Zaki e da drag queen Paula Lovely, o batuque do grupo Baque do Tejo e ainda um debate sobre presença feminina na capoeira, com a presença do grupo Capoeira Angola Irmãos Guerreiros.

Na noite de sexta-feira, no espaço Anjos70, o debate começa com uma performance e uma conversa aberta com a presença de mulheres activistas imigrantes e portuguesas.

“Sabe aquele voto que você faz com gosto?”

Um mês depois do assassinato de Marielle Franco, pouco mais se sabe do que as informações que correram nos dias seguintes: que a vereadora foi atingida com quatro tiros na cabeça quando seguia num automóvel e que a polícia não põe de parte que tenha sido uma execução com motivações políticas.

Residente em Lisboa há apenas seis meses, Fernanda Velloso, 37 anos, relata o choque com que recebeu a notícia da morte de Marielle - a vereadora em quem votou nas eleições municipais de 2016, quando ainda morava no Rio de Janeiro. “Jamais iria imaginar que a vereadora em quem votei com tanto gosto... Sabe aquele voto que você faz com gosto? É coisa rara hoje em dia, votar em algum candidato em que se acredite verdadeiramente. E ver essa pessoa assassinada... Ela tinha a minha idade. Foi para mim muito forte”.

A organização do evento pertence agora a vários colectivos da cidade, mas a ideia nasceu entre amigas brasileiras. “Sairmos um pouco da discussão nas redes digitais, que para mim não tem levado a lugar nenhum”, aponta como objectivo. Não faziam parte de associações, explica esta jornalista de profissão e micro-empresária em Portugal, mas queriam “participar de uma forma positiva” e também conhecer outras pessoas em Lisboa que defendessem essas causas.

Trazer os movimentos sociais para o lugar central foi, por isso, imperativo. “Acho que uma coisa muito importante neste momento para nós, como brasileiros, é criar espaços para ouvir as pessoas a quem a voz é suprimida a todo o momento. É uma forma de dar voz ao que fazia Marielle”.

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