Os edifícios públicos portugueses dos anos da crise vão à Bienal de Veneza

Doze projectos criados por arquitectos portugueses num contexto económico especialmente agudo estarão em destaque no projecto Public Without Rhetoric, que representará Portugal na Bienal de Arquitectura de Veneza.

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DANIEL ROCHA

Doze edifícios públicos criados na última década por arquitectos portugueses de várias gerações estarão em evidência na representação de Portugal na 16.ª Bienal de Arquitectura de Veneza. O projecto, intitulado Public Without Rhetoric, foi esta segunda-feira apresentado pelos seus mentores, o arquitecto Nuno Brandão Costa e o curador Sérgio Mah, numa sessão no Palácio da Ajuda, em Lisboa, na presença do ministro da Cultura Luís Filipe Castro Mendes, do secretário de estado da Cultura Miguel Honrado e da directora-geral das artes Paula Varanda.

Nuno Brandão Costa, um dos dois curadores da representação portuguesa em Veneza – que foram pela primeira vez seleccionados a partir de um concurso feito por convites pela DGArtes, como recordou o ministro da Cultura –, salientou que o projecto nasceu como resposta “à retórica que se instituiu nos últimos dez anos”, no contexto da crise económica, contra a edificação pública, na maior parte das vezes vista apenas como despesismo. Numa altura em que a Europa se confronta, diz Nuno Brandão Costa, “com os seus limites e possibilidades”, o projecto português pretende afirmar a arquitectura como celebração da experiência do espaço público, destacar a importância do arquitecto na construção de vivências em sociedade e reforçar o seu papel de intervenção política e social. Neste contexto, afirmam os curadores, a obra pública, quer ela se traduza em equipamentos culturais, projectos educativos ou infra-estruturas, pode em simultâneo reconstruir e reabilitar a forma da cidade, contribuindo para a renovação qualitativa do espaço público. 

A exposição, que vai ficar instalada no Palazzo Giustinian Lolin, sede da Fundação Ugo e Olga Levi, junto ao Grande Canal, em Veneza, materializará os 12 projectos de arquitectura através de desenhos, maquetas e fotografias, que tratarão de evidenciar os processos criativos que as desencadearam. Em paralelo serão mostradas as mesmas obras, tal como foram sendo apropriadas ou vivenciadas, “mas a partir de um olhar artístico mais subjectivo”, explicou Sérgio Mah, ou seja, a partir de instalações-vídeo solicitadas às realizadoras de cinema Catarina Mourão e Salomé Lamas e aos artistas visuais André Cepeda e Nuno Cera.

Pretende-se que a exposição, instalada em duas salas diferenciadas, corresponda também a dois momentos distintos. Num deles, através dos vídeos, abre-se espaço a uma maior subjectividade e vibração; num outro, através das maquetas, a uma análise mais objectiva e arquitectónica.

De acordo com a dupla de curadores, desde o início da crise, em 2007, e apesar do grande decréscimo de investimento em obras públicas, foram construídos edifícios de grande qualidade que, ao mesmo tempo, simbolizam a resiliência de entidades que não desistiram de desencadear ou concretizar projectos novos. Entre as obras edificadas na última década que serão apresentadas em Veneza, da autoria de arquitectos de diferentes gerações (nascidos entre os anos 1930 e os anos 1980), encontramos o Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, na Ribeira Grande, em São Miguel, de João Mendes Ribeiro e do atelier Menos é Mais; a biblioteca pública e o arquivo regional de Angra do Heroísmo, de Inês Lobo, o Centro de Criação Contemporânea Olivier Debré, em Tours, dos irmãos Aires Mateus, o Centro de Visitantes da Gruta das Torres, no Pico, do atelier SAMI; ou a estação de metro Municipio, em Nápoles, de Álvaro Siza, Souto Moura e Tiago Figueiredo.

O hangar do Centro Náutico de Montemor-o-Velho, de Miguel Figueira; o Instituto de Inovação e Investigação em Saúde, no Porto, da Serôdio Furtado Associados; os molhes do Douro, de Carlos Prata; o Parque Urbano de Albarquel (Setúbal), de Ricardo Bak Gordon; os pavilhões expositivos temporários do Parque de Serralves, encomendados a diversos arquitectos no âmbito da visita ao Porto da Bienal de São Paulo; o Teatro Thalia de Gonçalo Byrne, Diogo Seixas Lopes e Patrícia Barbas; e o Terminal de Cruzeiros de Lisboa, de Carrilho da Graça, são as outras obras escolhidas.

Em Veneza, serão mostradas sem uma ordem cronológica ou geracional, de maneira a formarem um todo condensado, sem que se perca a singularidade de cada uma ou a linguagem autoral que patenteiam. Recorde-se que a Bienal de Arquitectura de Veneza tem nesta edição como comissárias-gerais as arquitectas irlandesas Yvonne Farrel e Shelly McNamara, que escolheram o tema Freespace (espaço livre). O montante global disponibilizado para a representação de Portugal é de 450 mil euros: 200 mil euros são atribuídos aos autores do projecto e 250 mil euros destinam-se ao aluguer do espaço durante os seis meses da exposição, incluindo despesas de manutenção. A inauguração oficial do pavilhão de Portugal acontece a 24 de Maio, estando a exposição aberta ao público entre 25 de Maio e 25 de Novembro.

Notícia corrigida a 22 de Maio: o nome do arquitecto é Miguel Figueira e não Vieira 

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