Trump promete fazer Assad “pagar” por dezenas de mortos em ataque químico

De acordo com os Capacetes Brancos, “70 pessoas sufocaram até à morte”, na maioria mulheres e crianças, mas as vítimas poderão ser mais. Douma é o último bastião rebelde nos arredores de Damasco.

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Crianças com máscaras para as ajudar a respirar
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Imagens de destruição em Douma LUSA/MOHAMMED BADRA

As imagens são aterradoras e lembram outras imagens, outras crianças mortas em fila, algumas crianças vivas, com máscaras para as ajudar a respirar. Diferentes ONG médicas e os Capacetes Brancos, grupo de resgate que actua nas áreas rebeldes da Síria, asseguram que foi usado gás de cloro e outro gás que não identificam no ataque contra Douma, que matou pelo menos 70 pessoas.

Bashar al-Assad e Governo de Moscovo garantem que o ataque com armas químicas neste último bastião de rebeldes nos arredores de Damasco não aconteceu e que as imagens “são fabricadas”. O regime sírio nunca admitiu atacar a sua população com armas químicas, mas já o fez várias vezes no passado, como confirmam as Nações Unidas em diferentes relatórios e a União Europeia.

Segundo testemunhos que chegam da cidade cercada por tropas leais a Assad, é provável que o número de mortos dos bombardeamentos de sábado cresça. Há quem fala de 150 mortos. A confirmar-se, este pode vir a ser o pior ataque com este tipo armamento desde o de Agosto de 2013, quando 1400 pessoas (incluindo 400 crianças) morreram em raides com gás sarin na mesma região.

Na altura, a Administração de Barack Obama ameaçou Assad com uma intervenção – o uso de armas de destruição maciça era a “linha vermelha” imposta pela Casa Branca. O que acabou por se seguir foi um acordo negociado por Moscovo para a Síria inventariar e abdicar de todas as suas armas químicas, mas sabe-se que continuaram a ser usadas em diferentes zonas do país, como Alepo.

Agora é Donald Trump que ameaça Assad: “um animal” que “pagará um preço muito alto” por este “ataque irracional”, escreveu o Presidente americano no Twitter. “Neste momento estamos a analisar o ataque”, disse à televisão ABC Thomas Bossert, conselheiro de Segurança Interna e Contraterrorismo da Casa Branca. “Todas as opções estão em cima da mesa”, acrescentou Bossert.

“Muitos mortos, incluindo mulheres e crianças, em ataque QUÍMICO irracional na Síria”, escreveu Trump. “A área das atrocidades está cercada pelo Exército Sírio, completamente inacessível ao resto do mundo. Presidente [Vladimir] Putin, a Rússia e o Irão são responsáveis por apoiarem o Animal Assad”. No ano passado, os Estados Unidos lançaram 59 mísseis contra uma base aérea síria em resposta a um ataque com gás sarin atribuído a Assad.

“Setenta pessoas sufocaram até à morte e centenas continuam a sufocar”, disse à Al-Jazira Raed al-Saleh, chefe dos Capacetes Brancos. Segundo Saleh, a maioria das vítimas são mulheres e crianças. Mas há membros de associações médicas que falam de 150 mortos.

“Douma tem sido sujeita a intensos ataques aéreos e a maior parte da cidade está destruída”, descreveu à mesma televisão o médico Moyaed al-Dayrani. “Agora estamos a lidar com mais de mil casos de pessoas com problemas para respirar depois da bomba-barril com gás de cloro ter sido largada. O número de mortos deverá aumentar”.

Diferentes organizações, como a Associação Médica Sírio-Americana (SAMS, na sigla inglesa) ou a União de Organizações de Ajuda Médica (UOSSM), ONG americana que trabalha com hospitais sírios, confirmaram a morte de pelo menos 70 pessoas junto de médicos que se encontram em Douma. “Já há muito poucos médicos tratar tantas vítimas”, acrescenta ainda Ahmad Tarakji, presidente da SAMS.

Famílias inteiras

Há relatos de famílias inteiras mortas na cave das suas casas, onde tinham procurado abrigo dos constantes bombardeamentos. Tawfiq Shamaa, um médico sírio a viver em Genebra, membro da UOSSM, disse também à Reuters que os mortos são 150. “A maioria são civis, mulheres e crianças encurraladas em abrigos subterrâneos”.

“Armas químicas como o gás de cloro chegam às caves. As pessoas que lá estavam ficaram intoxicadas, por isso é que há tantas vítimas”, explica Shamaa. De acordo com vários residentes, em Douma estão ainda mais de 100 mil pessoas, cercadas e a precisar de assistência urgente.

A pedido dos EUA e de outros diplomatas, o Conselho de Segurança da ONU deverá reunir-se na segunda-feira para debater este último ataque.

Douma é a única cidade da região de Ghouta Oriental, nos arredores de Damasco, a escapar ao controlo do regime. Ghouta resiste há quatro anos a um cerco, mas desde Fevereiro que a falta de alimentos aliada aos duros bombardeamentos russos e ao avanço de forças terrestres sírias e libanesas tem permitido ao regime recuperar o controlo de quase toda a área.

Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (associação ligada à oposição com uma rede de activistas e médicos no terreno), a ofensiva contra Ghouta já matou mais de 1600 civis.

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