Academia Sueca surpreendida com saída de três membros por discórdia sobre assédio

Em Novembro, marido de um membro foi acusado de má conduta sexual. Três membros afastam-se por considerar que Academia está a mostrar “demasiada consideração pelo indivíduo e muito pouca pelos estatutos”.

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OLIVIER MORIN

Três membros da Academia Sueca, que anualmente atribui o Prémio Nobel da Literatura, afastaram-se na sexta-feira em protesto contra a forma como o organismo está a lidar com as alegações de má conduta sexual do marido de um dos seus membros.

Peter Englund, Klas Ostergren e Kjell Espmark anunciaram separadamente que não vão mais participar no trabalho da Academia - os lugares de membro da Academia Sueca são vitalícios, pelo que não é possível apresentar demissão.

Em Novembro, a Academia Sueca cortou ligações com um homem a quem tinha ajudado financeiramente a gerir um clube cultural em Estocolmo depois de terem surgido alegações de que ele teria tido uma conduta sexual irregular. Numa altura de preocupação global quanto ao tratamento das mulheres encabeçado pelo movimento #MeToo, a procuradoria sueca encetou uma investigação ao caso, mas depois deixou cair parte das acusações e não chegou a formular qualquer acusação. O advogado Bjorn Hurtig, que representa o homem em causa, disse à Reuters que aquele negou qualquer envolvimento em má conduta sexual.

A Academia Sueca ainda não tornou públicos os resultados da sua própria investigação interna. Mas Englund, autor e membro da Academia, disse sexta-feira num post num blogue que se foi criando uma divisão no seio do organismo sobre essa investigação e quanto às medidas tomadas pela secretária permanente da Academia.

Para ele, essas medidas mostravam “demasiada consideração pelo indivíduo e muito pouca pelos estatutos”. “Foram tomadas decisões nas quais eu não acredito e que não posso defender e por isso decidi não participar mais no trabalho da Academia Sueca”, disse.

Já Espmark disse à Reuters secunda a opinião de Englund. Ostergren não respondeu às perguntas da Reuters mas numa carta ao diário Svenska Dagbladet disse pensar que a Academia não está a corresponder aos seus próprios códigos. A secretária permanente da Academia, Sara Danius, não comentou o caso à Reuters, mas disse ao mesmo jornal que a Academia decidiu tentar perceber se se podia tornar possível que os membros possam demitir-se formalmente, embora se manifestasse triste pela sua saída. “É muito triste. Mas percebo os seus argumentos”, disse.

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