Zuma foi a tribunal mas o julgamento por corrupção foi adiado

O ex-Presidente sul-africano enfrenta acusações referentes a um caso de compra de armamento durante os anos 1990. Centenas de apoiantes concentraram-se perto do tribunal.

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Jacob Zuma discursa perante os seus apoiantes à porta do tribunal de Durban Reuters/ROGAN WARD

O ex-Presidente sul-africano Jacob Zuma apresentou-se em tribunal para ouvir as acusações de corrupção contra si, num caso sobre alegadas irregularidades num negócio de compra de armamento no início dos anos 1990. Os juízes do Supremo Tribunal de Durban decidiram adiar a primeira sessão do julgamento para Junho, enquanto centenas de pessoas se concentravam à porta do edifício.

Em poucos meses, Zuma passou de Presidente a réu numa sucessão de acontecimentos sem precedentes na história pós-apartheid da África do Sul. Zuma é acusado de 16 crimes de corrupção, extorsão, fraude e lavagem de dinheiro, mas garante ser inocente.

“A verdade virá ao de cima. Que fiz eu? Sou inocente até que se prove a minha culpa”, declarou Zuma à saída do tribunal de Durban, perante várias centenas de pessoas que se juntaram para o apoiar.

Os manifestantes envergavam roupas verdes e amarelas que caracterizam os militantes do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla original), o partido que liderou a luta contra o apartheid e que governa o país desde 1994. Muitos consideram que as acusações contra Zuma fazem parte dos resquícios da perseguição motivada pelo ódio racial.

“Ele pode ter cometido os seus erros, mas devíamos permitir que um homem idoso se retire em paz. É uma conspiração, é politicamente motivado”, disse à AFP o empresário Sphelele Ngwnane.

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Reuters/Mike Hutchings

A primeira sessão do julgamento foi adiada para 8 de Junho e o ex-Presidente já prometeu recorrer das acusações que lhe são feitas, diz o jornal Mail & Guardian.

Zuma demitiu-se da presidência em Fevereiro, depois de intensas negociações com a nova liderança do ANC, chefiado por Cyril Ramaphosa, que prometeu lutar contra a corrupção para apagar a imagem de um partido que nos últimos anos parecia estar refém de escândalos.

O país vai a eleições no próximo ano e o ANC receia que a herança deixada por Zuma, cujos mandatos foram marcados por várias suspeitas de corrupção e por um recuo acentuado da economia, possa pôr em causa a sua posição de partido dominante no sistema político.

Porém, Zuma mantém um forte apoio em alguns sectores do partido. “Se ele permitir que os seus apoiantes façam subir a tensão, isso será uma indicação de que ele continua disposto a pôr os seus interesses à frente dos do ANC”, disse ao Guardian o analista Richard Calland.

O ex-Presidente nega todas as acusações apresentadas contra si e que remetem para a compra de armamento ao fabricante francês Thales numa altura em que Zuma foi ministro da Economia de uma província e depois passou a vice-Presidente do país. O negócio terá envolvido o pagamento de mais de quatro milhões de rands (cerca de 270 mil euros) a Zuma através de Schabir Shaik, um empresário que aconselhava o Governo sul-africano.

Em 2005, Shaik foi condenado a 15 anos de prisão por causa destas acusações, mas Zuma viu-se ilibado assim que foi eleito Presidente, em 2009. Durante toda a sua presidência, os seus rivais políticos tentaram usar as várias suspeitas de corrupção que pendiam sobre si para o derrubar, mas estas tentativas saíram sempre frustradas pela protecção garantida pela larga maioria parlamentar do ANC.

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