Infra-estruturas de Portugal estuda ligações ferroviárias aos aeroportos

Empresa foi instada a pensar ligação a Faro mas vai estudar conexões a LIsboa e ao Porto, também.

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Ligação ferroviária beneficiaria acessibilidade ao aeroporto Virgílio Rodrigues

Depois dos portos de mar, os aeroportos. Com um projecto em curso que pretende melhorar as ligações ferroviárias aos portos, a Infra-estruturas de Portugal pretende agora “ligar a rede ferroviária nacional aos três aeroportos continentais [Faro, Lisboa e Porto]”. As palavras são do vice-presidente da Infra-estruturas de Portugal, Carlos Fernandes, que apresentou esta sexta-feira em Faro o projecto de modernização da linha do Algarve.

“Só recebemos instruções do nosso ministério para Faro, mas vamos estudar ligações ferroviárias também aos aeroportos de Lisboa e do Porto”, disse, explicando que, no caso algarvio, o problema não é financeiro, mas sim ambiental.

Fazer chegar os carris ao aeroporto poderá custar apenas cerca de 25 milhões de euros, mas a proximidade da ria traz problemas ambientais de grande complexidade que não são fáceis de resolver. Esta ligação tinha ficado omissa na apresentação que Carlos Fernandes fez do projecto de modernização da linha de Algarve, mas, na assistência, Vítor Neto, ex-secretário de Estado do Turismo do governo de Guterres, recordou a importância desse investimento tendo em conta os 8,7 milhões de passageiros anuais movimentados pelo aeroporto de Faro.

A modernização da linha do Algarve vai custar 57,9 milhões de euros e resume-se à electrificação dos troços Vila Real de Santo António – Faro e Tunes – Lagos, já que a secção central entre Faro e Tunes já está electrificada desde 2004. Carlos Fernandes diz que os projectos de execução para estes dois troços serão entregues antes de Agosto e que o lançamento das empreitadas poderá ser feito antes do fim do ano, ou seis meses depois, caso seja necessário uma autorização de impacte ambiental.

Contas feitas, a partir de 2020 ou 2021 o Algarve poderá contar com uma linha férrea totalmente electrificada com as vantagens inerentes em termos de redução dos tempos de viagem, aumento da segurança, redução de custos operacionais e menos 120 milhões de toneladas de CO2 emitidas até 2045. A taxa de rentabilidade do projecto é de 5% e o aumento da procura de passageiros devido à electrificação é, segundo a IP, de 15%.

Mas o que vai mudar para os algarvios e visitantes após a modernização? Como serão os serviços operados pela CP? A isso o administrador da transportadora pública, Abrantes Machado, não pode responder porque o mais certo é a electrificação estar concluída antes da CP ter tempo para comprar novos comboios.

O responsável disse que os procedimentos concursais para comprar material circulante e o seu fabrico demoram mais de dois ou três anos e que tem hoje algum parque eléctrico inactivo que poderá vir a ser recuperado para pôr ao serviço nas linhas electrificadas, mas não escamoteou que a empresa da CP que faz a reparação dos comboios, a EMEF, poderá ter dificuldades em fazê-lo no horizonte temporal desejável. Ou seja, há o risco de no Algarve se verificar o paradoxo de comboios a diesel virem a circular debaixo da catenária.

“Claro que haverá alterações ao serviço, que haverá maior mobilidade e um aumento das ligações para Lisboa e na ligações ao longo da linha do Algarve. Mas, neste momento, não sabemos quais porque não há um conhecimento preciso do material que será possível alocar a esta linha”, assumiu este administrador da CP.

O desejo de desviar a linha férrea do centro de Faro foi manifestado pelo vereador do município, Carlos Baía, que gostaria que o caminho-de-ferro passasse a norte da cidade. Mas Abrantes Machado disse que era necessário ter em conta os legítimos interesses dos munícipes de Faro, mas também os igualmente legítimos interesses das pessoas que escolhem o comboio nas suas deslocações por aquela linha.

“Há interesses mais largos do que o dos munícipes de Faro”, disse, tendo sido secundado pelo administrador da Infra-estruturas de Portugal, que insistiu ainda que “não há verbas neste quadro comunitário” para tal investimento e que é preferível encontrar soluções para minorar o impacto da via-férrea junto à cidade. Mas quanto a retirar a linha e fazer uma variante, disse: “isso é um outro nível, é outra dimensão”.

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