“Em nome do pão”, industriais vão passar a usar a mesma marca

Marca colectiva vai ser usada para diferenciar pão tradicional. Começará a ser usada pelas mais de 3800 indústrias de panificação que existem no Norte do país.

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Adriano Miranda

A tradição não só ainda é o que era como tem muito futuro pela frente. A Associação dos Industriais de Panificação, Pastelaria e Similares do Norte (AIPAN) acredita de tal forma nisso que, após a realização do Congresso Internacional do Pão Tradicional, que decorreu na quarta-feira na Maia, acabou por validar a sua principal convicção: a de que os consumidores sabem reconhecer, e valorizar, o pão quando ele é feito de forma tradicional e utiliza matéria-prima de qualidade. Por isso, acaba de anunciar a criação de uma marca colectiva que vai ser usada pelas cerca de 3800 unidades industriais existentes acima de Aveiro e que diariamente, ou quase diariamente, fabricam pão.

A imagem traz um forno tradicional e um pé de trigo estilizado. A logomarca, onde está inscrito “Em nome do pão”, será aposta em todos os produtos que sejam feitos “ao gosto português e de acordo com receituários ancestrais”, como explicou esta sexta-feira o presidente da AIPAN, António Fontes.

A intenção da associação, explica a associação em comunicado, é “assumir a nova marca” no Norte do país logo que seja "estabilizada a estratégia agregadora do sector” com que este ficará municiado após a conclusão do projecto da associação “O futuro da tradição”. Trata-se de um projecto ainda em curso, que é co-financiado pelo programa Norte 2020, e que, por exemplo, também financiou a própria organização do congresso.

Foi depois de ouvir as intervenções no congresso e conhecer experiências nacionais e internacionais como as que trouxeram o investigador francês em nutrição humana Christian Rémésy, o assessor técnico da Confederação Nacional da Panificação Francesa, Gérard Brochoire, os mestres padeiros Amândio Pimenta, luso-francês radicado em Clermont-Ferrand, ou o português Mário Rolando; ou mesmo Barbara Elisi Caracciolo, uma blogger e empresária italiana que tem uma “micropadaria” artesanal em Estocolmo, na Suécia. Todos eles confirmaram a ideia de que vale a pena apostar numa oferta diferenciada e que reforce o compromisso que a indústria da panificação tem com os valores históricos inerentes à importância do sector na alimentação dos portugueses: “A saúde e o bem-estar, a confiança e a qualidade e a sustentabilidade e a ética”, elenca António Fontes.

De acordo com António Fontes, a proposta de criação de uma “marca comum forte” mereceu um “eco positivo” junto do meio milhar de congressistas e das outras duas associações empresariais que apoiaram a realização do evento, a Associação do Comércio e da Indústria de Panificação, Pastelaria e Similares e a Associação dos Industriais de Panificação, Pastelaria e Similares de Lisboa.

Durante o congresso foi apresentado o projecto da Associação Portuguesa de Nutricionistas (APN) “Melhor grão, melhor pão”, pela mão da secretária-geral da associação, Helena Real, que revelou o e-book que em breve vai estar disponível no site da APN para informar os consumidores dos benefícios do pão, um “alimento a privilegiar diariamente”. 

O director do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, Pedro Graça, também presente no congresso, sublinhou que o mito de que o pão engorda está a ser “desmistificado”. “O pão é um produto da alimentação saudável”, explicou,  e os cereais que estão na base da sua produção são “fonte de quase tudo o que o corpo humano necessita para funcionar” correctamente. 

O pão tradicional, nas suas diversas variedades, pode ser fonte de energia, de fibras e de vitaminas, realçou, ajudando a saciar a fome, mas também a regular a função intestinal. Contribui igualmente para diminuir a absorção de colesterol e fornecer vitaminas essenciais para o organismo, como o magnésio, o fósforo, o selénio e o potássio, apontou Pedro Graça.

Pelas boas práticas da indústria e uma maior consciencialização dos consumidores, o sal tende a deixar de ser um problema tão grave no futuro. Para o médico Manuel de Carvalho Rodrigues, presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão, “o pão afinal é bom”. No congresso, referiu que a indústria portuguesa de panificação está a “saber lidar” com a entrada em vigor da legislação europeia que impõe a redução dos níveis de sal no pão. 

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