Dom Quixote: o filme maldito de Terry Gilliam já tem trailer mas justiça não o deixa ter data de estreia

Quimera cinematográfica do Monty Python, que tenta filmar esta história há 20 anos, tem pela primeira vez um trailer, com Adam Driver e Jonathan Pryce, mas também está em plena disputa judicial com Paulo Branco para se poder estrear.

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Terry Gilliam esta semana em Paris após a audiência judicial ETIENNE LAURENT
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Paulo Branco esta semana em Paris após a audiência judicial ETIENNE LAURENT

O filme O Homem que Matou Dom Quixote, projecto que o realizador Terry Gilliam tenta levar a cabo há mais de 20 anos, tem pela primeira vez, e depois de oito rodagens falhadas, um trailer. O tom é de comédia, farsa até, e parece vislumbrar-se a polémica fogueira acendida para uma cena no Convento de Cristo em Tomar. Adam Driver e Jonathan Pryce estão ao centro como Quixote e Sancho Pança, e o filme chegará “brevemente”, dizem as imagens reveladas na noite de quinta-feira. Mas ainda esta semana o caso que opõe o realizador e os seus actuais produtores ao produtor Paulo Branco continuou a ser dirimido na justiça francesa.

Terry Gilliam e Paulo Branco digladiam-se há mais de um ano para que o realizador veja anulado o seu contrato com o produtor ou para que o português seja compensado por não ter sido o seu produtor. É um capítulo do último trecho de uma longa história de dificuldades de O Homem que Matou Dom Quixote.

Em 2016, foi anunciado no Festival de Cannes que o Monty Python voltaria ao seu teimoso projecto, que tentou escrever e filmar com diferentes elencos e produtores ao longo de duas décadas, desta feita com produção do português Paulo Branco. Mas perante atrasos no início das filmagens, em Outubro do mesmo ano Terry Gilliam queixava-se de problemas de financiamento que impediam a rodagem e tornava-se pública a ruptura entre as partes. Na altura, no Facebook, Gilliam colocava numa fotomontagem em jeito de anúncio com o rosto de Paulo Branco sobre o leão da MGM: “Todos os nossos contratos são feitos para serem quebrados”. O realizador encontrou novos produtores na espanhola Tornasol, na belga Entre chien et Loup, na francesa Kinology e na portuguesa Ukbar Filmes.

As filmagens decorreram em 2017, passando por Espanha ou pelo Convento de Cristo, em Tomar, onde numa estadia autorizada foram causados danos que geraram indignação na opinião pública portuguesa. Nesses dias de Junho e Julho, a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) vinha a terreiro falar em exageros nas notícias sem "rigor” e que “revelam desconhecimento científico" e a produção garantia que se tinha verificado “a quebra de quatro fragmentos térreos e de seis telhas” que seriam restaurados. Foi mais um capítulo na história atribulada de O Homem que Matou Dom Quixote, um projecto que até por inundações já viu as suas filmagens interrompidas.

Entretanto, Paulo Branco continuava a clamar direito sobre o filme e dizia ao PÚBLICO em Maio de 2017 que as filmagens já então em curso decorriam “de uma forma absolutamente clandestina e ilegal". Pandora Cunha Telles, da Ukbar Filmes que co-produz O Homem que Matou Dom Quixote, reiterava que Branco "não tem direitos sobre Dom Quixote. Na quarta-feira, o Tribunal de Recurso em Paris recebeu uma audiência no caso em que as partes se opõem sobre se Paulo Branco receberá ou não uma indemnização quanto aos direitos do filme. Ao Le Monde, Paulo Branco disse que Gilliam tem “um ódio profundo por produtores”; já Gilliam disse à AFP que “as suas exigências são ridículas, tão absurdas que ele tenta ganhar tanto dinheiro quanto possível com o filme que não produziu”.

A polémica em torno do filme e o facto de esta decisão, por exemplo, só ser conhecida a 15 de Junho, não impediu o lançamento do primeiro trailer do aguardado filme, que tem argumento de Gilliam e que além de Adam Driver e Jonathan Pryce conta com Olga Kurylenko e a portuguesa Joana Ribeiro numa história que oscila entre o século XVII e a actualidade. Mas levanta questões sobre se o filme poderá atingir um dos seus grandes objectivos, que é a estreia no Festival de Cannes, em Maio deste ano. A produtora Ukbar Filmes disse esta semana à Lusa que “não há nada que inviabilize” a antestreia no mais conceituado festival de cinema do mundo (que só poderá acontecer se o filme for seleccionado pela organização), dado que não será uma exibição comercial.

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