Rio desafiado a ir para o terreno e a fazer oposição ao Governo

Críticos estiveram em silêncio na primeira reunião do conselho nacional da nova liderança, que marcou a reunião para o Porto.

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José Silvano foi eleito com 78% dos votos Pulo Pimenta

Sem vozes críticas e com uma votação generosa na eleição do novo secretário-geral do PSD, o primeiro Conselho Nacional de Rui Rio foi um passeio para o líder social-democrata. Só a voz do eurodeputado Paulo Rangel fez eco de um desafio que já lhe tinha sido lançado na reunião com as distritais: diferenciar o PSD, ir para o terreno e fazer uma oposição combativa ao Governo.

Os ânimos exaltados das últimas semanas no partido deram lugar a uma reunião mais pacificada. Só 16 conselheiros intervieram, o que pode ser entendido como uma forma de “passar a bola” à liderança do partido. Há também quem receie que as críticas, ainda que em tom construtivo, sejam mal interpretadas e considere que isso pode justificar o silêncio de terça-feira à noite. Quando um dos conselheiros assumiu que não hesitaria em criticar a direcção do partido, se fosse necessário, Rio franziu o sobrolho, segundo relatos feitos ao PÚBLICO sobre a última reunião do Conselho Nacional, no Porto.

A reunião decorreu numa sala de um hotel que dividiu fisicamente, com baias, os conselheiros nacionais entre os participantes (com direito a voto) e os observadores (sem direito a voto, como é o caso dos deputados). Não há memória de um Conselho Nacional organizado desta forma.

As críticas, essas, continuaram a fazer-se em surdina, seja sobre os nomes que estão a ser avançados para o governo-sombra do partido ou sobre a estratégia de oposição. Muitas apontam para um dos argumentos que têm sido usados por Rui Rio em várias intervenções e que repetiu na terça-feira à noite: as eleições perdem-se, não se ganham. Ou seja, é o PS que tem de perder as eleições para o PSD as poder ganhar.

A perspectiva é pouco consensual entre os sociais-democratas, por ser vista como eleitoralmente pouco ambiciosa. O PSD, defendem, tem de se assumir como alternativa. Paulo Rangel, eurodeputado e número dois do Conselho Nacional, pediu que a oposição ao Governo fosse permanente e combativa. Rangel deixou ainda o alerta de que o Governo se prepara para bater o pé à Europa, a propósito do Programa de Estabilidade, que a líder do CDS já anunciou querer forçar a votação na Assembleia da República.

Uma oposição mais visível e mais forte tinha sido pedida na reunião com os dirigentes das distritais na passada semana: Rui Rio tem de ir ao terreno ouvir as pessoas. Não basta marcar uma visita, como aconteceu há duas semanas, a Arganil e ter encontros com representantes de instituições fechado em salas, apontaram.

Sem críticas explícitas à direcção do partido foi a vez de dirigentes nacionais – como Manuel Castro Almeida, vice-presidente do PSD, e negociador da pasta dos fundos europeus com o Governo, e Álvaro Amaro, responsável pelo programa de descentralização - fazerem a defesa dos seus dossiers. O novo secretário-geral, José Silvano, que seria eleito com 78% de votos favoráveis, voltou a fazer um discurso mobilizador para o próximo ciclo eleitoral.

Rio só fez um discurso inicial de 45 minutos e deixou a conclusão política para o presidente da mesa, Paulo Mota Pinto. O líder do PSD voltou a falar de Feliciano Barreiras Duarte, o secretário-geral que se demitiu um mês depois do congresso em que foi eleito, por causa de problemas no seu currículo e de subsídios recebidos pelo Parlamento. Rio repetiu que foi “desproporcional” a repercussão mediática do caso. Defendeu que teria sido mais fácil demitir Barreiras Duarte mais cedo – só saiu mais de uma semana depois da primeira notícia –, mas que se escusou a usar a fragilidade de outros para ganhar popularidade. Foi uma das vezes em que foi aplaudido, segundo fontes sociais-democratas.

Depois de um caso ultrapassado, Rio não se furtou a falar de outro – aliás, foi o único, já que nenhum dos conselheiros o abordou – que tem sido notícia nos últimos dias: o investimento da Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP) no Montepio. O líder do PSD assegurou que não serão as notícias que o levarão a desistir de usar o Montepio para fazer oposição. Com o partido inquieto à espera de ver um PSD mais combativo, Rio parece apostado na criação do gabinete-sombra como peça fundamental do seu trabalho. Há quem duvide que seja possível olear uma estrutura como esta em oito meses. E há quem aposte que a falta de tempo será mesmo o maior problema que Rui Rio tem pela frente.

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