Como respiram as uvas?

A escassez de oxigénio nas uvas está directamente relacionada com a sua morte celular, concluiu-se agora.

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Sonda a medir o oxigénio numa uva Universidade de Adelaide

Uma equipa de cientistas da Austrália observou como três castas de uvas respiram e concluiu que a escassez de oxigénio pode levar à sua morte celular. A descoberta publicada na revista científica Journal of Experimental Botany pode ter impacto na qualidade e no sabor do vinho, assim como levar a novas formas de selecção das castas de uvas nos climas mais quentes.

Desde 2008 que os cientistas sabiam que ocorre morte celular nas uvas e que isso pode acontecer quando há problemas no amadurecimento. Agora, uma equipa coordenada por Stephen Tyerman, da Universidade de Adelaide (Austrália), verificou que isso ocorre quando há falta de oxigénio no interior das uvas durante o amadurecimento e descreve esse processo. 

Para tal, tiveram de “entrar nas uvas”: através de uma sonda minúscula mediram o oxigénio em uvas de duas castas de vinho, a Chardonnay e a Syrah, e de uma casta de mesa e sem grainhas, a Ruby Seedless. Depois, compararam-se os perfis de oxigénio dessas três castas.

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As uvas estudadas também foram submetidas a raios X Universidade de Adelaide

“Ao manipularmos o fornecimento de oxigénio, descobrimos que os pequenos poros na superfície do pedúnculo são vitais para esse fornecimento e que se forem bloqueados causam o aumento da morte celular dentro do bago da Chardonnay, o que basicamente sufoca o bago”, explica Zeyu Xiao, também da Universidade de Adelaide e principal autor do trabalho, em comunicado desta instituição. “A Syrah tem uma área muito mais pequena desses pequenos poros de oxigénio no pedúnculo, o que provavelmente explica a sua maior sensibilidade à temperatura e elevado nível de morte celular dentro do bago.”

Os cientistas concluíram então que o nível de escassez de oxigénio nas uvas está estreitamente relacionado com a sua morte celular. “As medições da respiração indicam que isto pode ficar pior com as elevadas temperaturas durante o amadurecimento – e espera-se que isso seja mais frequente com o aquecimento global”, lê-se no comunicado. Mas como só se estudaram três castas e este trabalho ainda é o início de uma investigação maior, avisam os cientistas no artigo: “Estes dados são uma base para mais investigações sobre o papel da troca de gases na qualidade do bago e da selecção de variedades para adaptar a viticultura a um clima quente.”

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