Zuckerberg admite que corrigir o Facebook “deve demorar anos”

Afinal, a rede social deixou dados de 87 milhões de utilizadores serem utilizados para influenciar eleições em vários países.

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“Vive-se a errar e a continuar em frente”, frisa Zuckerberg Reuters/Stephen Lam

O fundador do Facebook diz que a decisão difícil nunca é entre as pessoas e o que dá dinheiro, mas entre que pessoas valorizar. Numa conferência por telefone com vários órgãos da imprensa internacional, em que o PÚBLICO foi convidado a participar, Mark Zuckerberg aceitou responder às perguntas dos jornalistas sobre os problemas de segurança que têm afectado a rede social nos últimos meses.

“É nossa responsabilidade garantir que as nossas ferramentas são bem utilizadas e falar sobre elas”, frisou no início da sessão. Esta quarta-feira, a rede social admitiu que a consultora Cambridge Analytica utilizou dados de 87 milhões de utilizadores da rede social para influenciar campanhas políticas em todo o mundo. É um número bem superior aos 50 milhões inicialmente reportados, e representa mais de metade do número de eleitores registados nos EUA. Questionado sobre se tinha despedido os responsáveis, Zuckerberg disse apenas que ia continuar a liderar a equipa.

“Eu ainda não fui despedido. E em última instância a responsabilidade é minha. Fui eu que comecei este lugar, sou eu que o lidero, sou eu o responsável. E vou continuar a ser no futuro. Não quero ser eu a atirá-lo para debaixo do autocarro”, diz Zuckerberg. Foi questionado sobre se ia deixar a direcção (pelo conselho de administração, por decisão própria, para dar ar fresco à equipa) várias vezes ao longo da chamada.

“Nunca dissemos que o número de utilizadores afectados era de 50 milhões. Isso veio de outras fontes. E agora nós preferimos dar o pior cenário possível”, acrescenta o fundador do Facebook. Diz que a campanha para convencer os utilizadores a apagarem a rede social (#DeleteFacebook) “não teve qualquer impacto significativo”, mas apressa-se a acrescentar – depois de uma pausa – que “a situação não é boa”.

“Vive-se a errar e a continuar em frente”, frisa Zuckerberg. “É a primeira vez que existe algo como o Facebook e se não tivéssemos errado com a Cambridge Analytica estaríamos a errar noutra coisa qualquer. Apenas podemos admitir os nossos erros e melhorar.”

Quando questionado sobre os casos em que se arrepende de escolher o dinheiro em detrimento das pessoas, Zuckerberg garante que não o faz. “Isso não faz sentido do ponto de vista do próprio negócio. No longo prazo manter as pessoas satisfeitas é melhor para o negócio”, clarifica o director executivo do Facebook. “E a escolha difícil não é entre o negócio e as pessoas, mas entre pessoas diferentes.”

Dá o exemplo de quando se tem de escolher entre a liberdade de expressão de alguém e a segurança de outros. “E depois, temos de fazer isto num ambiente que está constantemente a mudar. Há diferentes leis em diferentes países. E temos de escolher sempre grupos de pessoas. E isso é que é a escolha difícil."

Explicar o que o Facebook faz também é complicado. “Há muitas coisas que não esclarecemos ao longo dos anos”, diz o fundador. “Não temos conseguido afastar a teoria de que vendemos os dados dos utilizadores aos anunciantes. Não fazemos isso”, diz Zuckerberg. “São as pessoas que partilham a informação no Facebook.”

Numa tentativa de esclarecer os utilizadores, a rede social tem actualizado, repetidamente, a sua política de privacidade para a tornar mais clara. Apesar de continuar a acreditar no potencial da sua rede social para “unir as pessoas e o mundo”, sabe que “não pode estalar os dedos” e arranjar os problemas em meses. Para Zuckerberg, "deve demorar anos".

Uma coisa é certa, a empresa está a tentar ser mais aberta a perguntas dos utilizadores e da comunicação social. Desde o eclodir do escândalo com a Cambridge Analytica, o fundador do Facebook aceitou várias entrevistas com jornalistas. “Este ano vai ser importante para garantir a integridade das eleições em todo o mundo”, diz Zuckerberg, perto do final da conversa. “Temos os spammers que só querem dinheiro, temos as pessoas que querem interferir, e depois há pessoas que querem genuinamente pôr a informação em que acreditam lá fora.”

Em 2016, Zuckerberg tinha dito que a rede social não podia influenciar a política. Hoje, sabe que foi ingénuo. “Não estávamos preparados. E isso foi uma grande falha. É algo que não queremos voltar a fazer.”

Já há 15 mil pessoas empregadas na segurança da rede social, mas o objectivo é existirem 20 mil até ao final do ano. “É claro que as medidas que vamos implementar no futuro não vão ser perfeitas. Nunca quero prometer que vamos encontrar todos os problemas, ou espancar os inimigos até à submissão”, diz Zuckerberg. “É impossível resolver completamente este tipo de problemas.”

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