EDP defende que garantia de potência é "essencial para garantir abastecimento"

A EDP defende que a garantia de potência é "essencial" para assegurar "o abastecimento de energia eléctrica ao país", no dia em que o Governo anunciou a suspensão em 2018 do pagamento deste mecanismo às centrais eléctricas.

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Rui Gaudencio

Questionada sobre a decisão do Governo de suspender em 2018 a garantia de potência paga às centrais eléctricas para estarem sempre disponíveis para produzir, a empresa liderada por António Mexia não comenta o anúncio do Governo, reagindo ao adiamento do leilão publicado hoje em Diário da República.

“A portaria hoje publicada em Diário da República vem formalizar apenas o adiamento do leilão para o ano de 2018, que estava previsto realizar-se em Maio de 2017", considera a EDP numa nota escrita, referindo que aguarda "os resultados da avaliação que está a ser efectuada pela Comissão Europeia a este mecanismo de remuneração da capacidade de produção eléctrica, que é essencial para garantir o abastecimento de energia eléctrica ao país e estratégico para a segurança nacional".

Em declarações à Lusa, o secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches, explicou hoje que "não faz sentido" no actual quadro da capacidade do sistema eléctrico nacional manter "o subsídio" que era dado às centrais eléctricas, o que resulta "num contributo positivo para a factura dos portugueses".

Na análise de curto prazo (para o ano 2018 e primeiro trimestre de 2019) à segurança do sistema eléctrico nacional, a que a Lusa teve acesso, na qual o Governo sustenta esta decisão, a REN - Redes Energéticas Nacionais não encontra "riscos relevantes que comprometam a segurança e garantia de abastecimento, apresentando, mesmo nos cenários extremos, uma margem de reserva de potência".

De acordo com Jorge Seguro Sanches, a suspensão da garantia de potência vigora pelo menos em 2018, referindo que no ano seguinte será feita nova avaliação, realçando o contributo cada vez mais importante das renováveis, que no mês de Março produziram o suficiente para assegurar o consumo nacional de electricidade.

O regime de incentivo à garantia de potência em vigor em Portugal, que é pago à EDP e à Endesa, teria um custo de 665 milhões de euros até 2032, segundo estimativas da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), mas este valor incorpora também o incentivo ao investimento, que totalizava cerca de 356 milhões de euros.

Com esta suspensão o que está em causa é o incentivo à disponibilidade, que vale cerca de 309 milhões de euros até 2032.

Na avaliação sobre a segurança de abastecimento enviada ao Governo em 14 de Março, a REN considera que "o actual parque electroprodutor se encontra disponível dentro do quadro regulamentar vigente, sendo que a circunstância de não realização dos leilões aludidos [de garantia de potência], por si só, não elimina o recurso, por parte da REN, aos meios técnicos disponíveis para a operação do sistema, garantindo o equilíbrio entre a produção e o consumo e ainda uma margem de reserva adequada".

No documento, a gestora da rede eléctrica lembra que “o sistema eléctrico nacional dispõe […] do serviço de interruptibilidade que pode ser utilizado em emergência, consistindo na redução voluntária pelos consumidores elegíveis [um conjunto de grandes empresas] do seu consumo de electricidade”.

“A avaliação da capacidade do sistema eléctrico nacional para responder à procura de electricidade, nos casos de ‘stress’ em situações limite, considera o cenário mais baixo do lado da oferta e o cenário mais elevado do lado da procura”, realça a REN.

Também hoje foi publicada uma portaria que adia o leilão anual de atribuição de garantia de potência, referindo que o mesmo vigore "até que seja recepcionada pelo Estado português a pronúncia inequívoca da Comissão Europeia relativamente à compatibilidade do mecanismo de reserva de segurança do sistema eléctrico nacional com as disposições comunitárias relativas a auxílios do Estado no sector da Energia".

Recorde-se que Bruxelas levantou questões ao novo regime de atribuição deste apoio, que o actual Governo quis por em prática com o intuito de reduzir a factura dos consumidores, estando ainda em discussão entre o executivo português e a Comissão Europeia.

Questionado sobre a referência no diploma hoje publicado à possibilidade de ainda ocorrer um leilão em 2018, o secretário de Estado da Energia reiterou que a garantia de potência "não faz sentido", remetendo para avaliação da REN, sem mais esclarecimentos.

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