Morte súbita nos bebés pode ser causada por mutações genéticas nos músculos respiratórios

As causas mais apontadas em estudos anteriores falavam de possíveis insuficiências cardíacas.

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Período de maior risco acontece entre os dois e quatro meses de idade JUMANA EL HELOUEH/Reuters

A morte súbita de bebés é a causa mais comum de óbitos de crianças nos países economicamente mais desenvolvidos. As razões pela qual ela acontece permanecem uma incógnita, apesar de serem conhecidos alguns factores determinantes que conduzem à morte de lactentes. Um novo estudo divulgado na última edição da revista cientifica médica The Lancet aponta uma potencial explicação que pode ajudar a compreender os casos de morte súbita. Em causa estão mutações genéticas de músculos ligados ao sistema respiratório.

A morte de lactentes sem qualquer aparente problema de saúde ocorre com maior frequência entre os dois e quatro meses de idade e é mais provável em bebés do sexo masculino e prematuros. Um dos avisos mais repetidos aos pais para tentar diminuir o risco de morte súbita é ter o cuidado de deitar os bebés de costas e não os deixar dormir com a barriga para baixo ou partilharem cama. A influência da posição do bebé durante o sono foi objecto de estudo há cerca de duas décadas e desde então houve um registo do número de mortes. No entanto, existe uma variedade de outras causas que continuam a ser objecto de indagação científica.

Até agora a maioria dos estudos concentrava-se nas anomalias relacionadas com potenciais insuficiências cardíacas, mas estudo agora publicado pela The Lancet olha para as mutações do SNC4A, o gene responsável pelos canais de sódio nos músculos usados para concretizar movimentos, através da contracção e relaxamento. Os cientistas acreditam que estas mutações podem deixar os bebés com os músculos respiratórios mais fracos e vulneráveis, especialmente se estiverem a dormir na posição errada ou fiquem presos na roupa de cama.

Com as mutações detectadas a função respiratória pode estar normal, mas a capacidade de os músculos manterem o ritmo de funcionamento conduz à falta de oxigénio.

As mutações genéticas foram encontradas em quatro dos casos estudados na amostra de 278 casos de morte súbita investigados, ou seja, em 1,4%. Num primeiro olhar, os números podem não parecer significativos, no entanto, estas são mutações genéticas que apenas são encontradas em cinco em cada 100 mil pessoas.

A estes 278 casos foram comparadas 729 crianças sem qualquer historial de problemas respiratórios, cardiovasculares ou neurológicos. Em nenhuma delas foi detectada esta mutação genética.

O estudo esclarece que estas mutações são especialmente detectadas durante um período crítico de vulnerabilidade, associado aos primeiros anos de vida de uma criança.

Os cientistas que conduziram o estudo, que tem como principal autor Roope Männikkö (do University College de Londres), argumentam que estes novos resultados podem ajudar a conduzir novas investigações e desenvolver formas de prevenir estas mortes. No entanto, os investigadores ressalvam que até lá serão necessários mais estudos que permitam estabelecer ligações às mutações encontradas e a potenciais tratamentos.

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