Salvar o mundo em Portimão

O tio Trump só diz asneiras, só faz asneiras, é um perigo para a família, mas sabe divertir-se e contar umas boas anedotas, pelo que pode ser a parelha ideal para o Kim

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KCNA/Reuters

Kim Jong-un está pronto para ser nosso amigo. Sinto que o mundo não está a valorizar devidamente este acto de profunda estima pelos nossos valores e, já agora, pela nossa boa aparência. Somos pessoas jeitosas, com quem um rechonchudo norte-coreano gostaria de tirar uma selfie. Eu tiraria uma selfie com Kim Jong-un: imediatamente a seguir a um rouxinol cantar um futuro radioso e imediatamente antes de lhe dar uma “cachaçada” (no Sul, parece que se diz “calduço”).

 

Os mísseis da Coreia do Norte, podendo destruir cidades inteiras, não deixam de ser só fogo-de-artifício. É morteirada da festa da aldeia, pouco mais do que isso. Para o adorável líder norte-coreano, querer ter armas de destruição massiva é apenas para efeitos decorativos. Se analisarmos friamente, o cogumelo que se gera depois de uma explosão atómica fica bem em qualquer cidade, sobretudo se americana. Ou mesmo numa mesa de centro. É só por isso que ele investe em bombocas.

 

Precisamente por achar que ele é um tipo porreiro e que o regime dele é bastante aceitável, votando os cidadãos nos governantes que querem, dizendo livremente o que pensam e sendo os direitos humanos respeitados, eu considero que Kim Jong-un, no fundo, só precisa de amigos. Enquanto os norte-coreanos vivem sossegadinhos, com mesas fartas, não vão presos por pensarem pela sua cabeça e não sofrem tortura, nós podíamos pegar numa bola e duas raquetas e ir com o Kim até Portimão. Beber uns sumóis e apanhar um solinho.

 

E temos o tipo ideal, em termos de “porreirice” e de bom senso, para esta cavaqueira, que é o tio Trump. O tio Trump é aquele tio que, na festa de Natal, diz coisas que nos envergonham de tal maneira que nem sabemos o que é que ele está a fazer à nossa mesa. Mas a nossa tia América viu nele qualidades e decidiu contrair o matrimónio, ideia da qual se vai arrepender, sem que ainda saiba disso. O tio Trump só diz asneiras, só faz asneiras, é um perigo para a família, mas sabe divertir-se e contar umas boas anedotas, pelo que pode ser a parelha ideal para o Kim.

 

Não faltará muito para que o tio Trump leve o nosso primo Kim “às gajas”, enquanto lhe ensina frases de engate que, em 1960, eram pirosas, e que hoje são impensáveis. Vai mostrar-lhe o que é fazer coisas “à homem”, tais como coçar a genitália de forma ostensiva, cuspir para o chão e andar à porrada em bares. Com tipos que pareçam mexicanos, de preferência, que o tio Trump não vai muito à bola com eles. Pensando bem, todas essas coisas são extremamente libertadoras, sem que seja preciso endossar um engenho explosivo nuclear a nenhum país vizinho. Libertam na mesma a tensão e morre menos gente.

 

E enquanto estas duas alimárias se entendem e fortalecem os laços, temos mais uns dias para aproveitar os prazeres da vida. Podemos até pedir a um pirata informático que, em nome dos dois, envie um e-mail a Putin (ao que parece, o regime russo domina as tecnologias…) com uma foto da amena cavaqueira, a dizer “Vlad, nem sabes o que estás a perder em Portimão”. Pode ser que o czar decida interromper a invasão de países vizinhos, por duas semanitas, e venha curtir a vida, em tronco nu, como ele faz na Sibéria, com o tio Don e o primo Kim.

 

Juntávamos cá estes três indivíduos, geralmente bem acompanhados, dinamizávamos o turismo, ficávamos com as hashtags do momento, no Insta, e dávamos, em vez de “novos mundos ao mundo”, novos dias de sossego. Nada mau.

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