Achados arqueológicos atrasam reparação do trajecto do eléctrico 28

O abatimento na Rua das Escolas Gerais levou à descoberta de silos datados do século XVI. A retoma do normal percurso do eléctrico 28 está prevista para Maio.

Fotogaleria
Sebastião Almeida
Fotogaleria
Sebastião Almeida
Fotogaleria
Sebastião Almeida

É segunda-feira na Rua das Escolas Gerais e isso significa mais um dia de trabalho na obra forçosamente iniciada em Janeiro, na sequência do abatimento do piso após a ruptura de um colector. No entanto, em vez de ser regra, o dia é excepcional pois finalmente se sabe a resposta para a demora da reparação da rua habitualmente frequentada pelo famoso eléctrico 28: afinal, havia silos.

Quem o diz é o arqueólogo Dr. Jorge Pinho, um dos profissionais destacados para a obra pela Câmara Municipal de Lisboa (responsável pela mesma) para averiguar a proveniência dos achados na Travessa de São Tomé, descobertos na altura em que tiveram inicio as escavações para reparação do colector.

“No local foram identificados cinco silos, datando aproximadamente do século XVI, que basicamente são aberturas subterrâneas escavadas na rocha com o intuito de armazenar alimentos ou mesmo criar lixeiras”, afirma o arqueólogo.

Segundo Jorge Pinho, esta era a estratégia que as populações que habitavam na zona do castelo utilizavam para armazenar comida e cereais – o equivalente das arcas frigoríficas actuais - e algo bastante comum nas encostas lisboetas. O mesmo dá ainda conta que já no ano passado, terão sido descobertos no início da mesma rua um conjunto de fósseis e silos.

O procedimento para estes casos, explica o profissional, é sempre semelhante: primeiramente retira-se todo o sedimento do silo - quer a estrutura tenha dois ou cinco metros de profundidade - e depois são recolhidos os materiais que se encontram dentro das estruturas. Na análise do material, em que se tenta datar os achados (sejam eles azulejos, cerâmica ou vestígios de sementes) é também averiguada qualquer outra informação acerca dos detentores dos silos.

Na Rua das Escolas Gerais, e na parte já explorada da escavação, encontram-se dois silos lado a lado atravessados pelo colector de esgoto, que se encontrariam separados por uma portinhola de madeira – algo que terá desaparecido com o tempo por ser perecível.

Até ao momento foi feito o levantamento de azulejos e pedaços de panelas que se pensam ser do século XVII bem como algumas outras cerâmicas de “de natureza grosseira” ou seja, loiça do dia-a-dia indicativa de pertencer a população com poucos recursos.

A obra, que se situa no local de passagem de uma das mais populares carreiras de eléctrico de Lisboa, levou a Carris a fazer vários ajustes nos serviços oferecidos e os seus frequentadores a alterar o seu percurso habitual, utilizando um dos trajectos alternativos oferecidos pela empresa.

Passados três meses do abatimento - e depois de alguns atrasos adicionais devido ao mau tempo - prevê-se que a reparação demore mais um mês a ser concluída já que os trabalhos de arqueologia podem agora decorrer em simultâneo com o restabelecimento do colector.

“A partir do momento em que se faz todo o levantamento do local, da obra e a sua georreferencia” algo que Jorge Pinho garante que costuma ser rápido “a obra pode prosseguir com normalidade”, conclui.

A retoma do normal percurso do eléctrico 28 está prevista para Maio já que em Março, fonte da Carris deu conta que o mesmo seria reposto logo que a câmara concluísse a obra.

Sugerir correcção
Comentar