Em Entre-os-Rios a Páscoa começa com um “roubo” de igreja

Este ano a chuva não ajudou na celebração das Endoenças, que todos os anos atrai até às margens do rio Tâmega milhares de pessoas para assistirem ao espectáculo de 50 mil velas acesas ao longo do percurso da procissão. Apenas cerca de um terço resistiram à chuva. Ainda assim, foram muitos os que se deslocaram até aos concelhos do Marco de Canaveses e Penafiel.

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Entre-os-Rios Paulo Pimenta
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Braga Joana Gonçalves
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Há uma cruz de madeira encostada a uma das paredes de pedra da igreja do Torrão, situada no burgo da freguesia com o mesmo nome, no concelho de Marco de Canaveses. É quinta-feira Santa e dentro do templo celebra-se a Missa da Ceia do Senhor, enquanto lá fora a chuva teima em não parar de cair.

Aproximadamente duas centenas de pessoas seguem o acto litúrgico iniciado às 20h. Na entrada da igreja estão dois andores, com a imagem do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora das Dores, que não pertencem àquele lugar. Junto a uma delas está um devoto, descalço, que, trajado a rigor, encarna a personagem de Jesus Cristo. É para ele que a cruz, encharcada de água, está guardada. Irá carrega-la durante um percurso de cerca de duas horas a pé, em passo lento, até à Capela de São Sebastião, do outro lado do rio Tâmega, em Entre-os-Rios, já no concelho de Penafiel, onde termina a procissão que assinala a celebração secular das Endoenças, que anualmente reúne fiéis de vários pontos do país, na maior parte movidos pela fé, mas também para assistir ao espectáculo de luz criado pelas 50 mil velas acesas nas margens do rio e ao longo do percurso seguido pela procissão.

Em noite de chuva, foram poucas as velas que se aguentaram acesas. Nem um terço terá escapado aos vários aguaceiros fortes que acompanharam a marcha. Este ano, o espectáculo de luz não teve o lugar de destaque de outros anos, nem o público apareceu em número tão elevado como em edições anteriores. Porém, foram largas as centenas que não temeram a chuva e cumpriram aquela que para muitos é uma tradição que já vem de trás.

Por volta das 21h, no final da missa, nas imediações da igreja, às cerca de duas centenas de fieis que já lá estavam junta-se uma multidão. Prepara-se este mar de gente para seguir o percurso que simula para os não-crentes o mito das últimas horas de vida de Jesus Cristo e para os crentes os últimos passos do messias até ao calvário, três dias antes de se dar aquele que acreditam ser o milagre que sustenta e origina o cristianismo de uma forma geral e a tradição católica apostólica romana, no caso destes devotos.

Não há um caminho assinalado pela luz das velas, que apesar de dispostas no trajecto estão apagadas, mas há a chama acesa das luminárias que os devotos carregam nas mãos enquanto seguem em silêncio sepulcral os dois andores, cobertos com plástico, suportados pelos mordomos da procissão.

Tradição secular

Na verdade, estes andores vão a caminho do sítio onde estão guardados durante todo o resto do ano. Explica-nos o ministro extraordinário da comunhão daquela igreja, Gaspar Ferreira, um dos responsáveis pela organização do evento, que toda esta narrativa teve início no dia anterior, com o “roubo” das imagens ao concelho vizinho. Um “roubo” simulado com tradição iniciada há “mais de um século”.

Tanto o Senhor dos Passos, como Nossa Senhora das Dores estão na capela de São Tiago, do outro lado do rio. Na noite anterior, um grupo de mordomos parte da igreja do Torrão para “roubar” estas duas imagens à capela onde estão guardadas. Ao mesmo tempo, de Entre-os-Rios parte outro grupo para “saquear” a imagem do Senhor Morto, que está na segunda igreja, para a levar para a capela de São Sebastião, próxima da de São Tiago.

Na quinta-feira, dia das Endoenças - que de acordo com a liturgia católica trata-se de uma alusão à sexta-feira Santa, dia de indulgência na Península Ibérica - , essas imagens voltam ao lugar de origem. No sábado, antes do domingo de Páscoa, volta o Senhor Morto para o Torrão.

Diz Gaspar Ferreira, que na sua juventude - há 40 anos que participa na procissão -, as imagens eram carregadas em corrida de uma igreja para a outra. “Hoje os mordomos já têm uma idade avançada. Já não há a mesma força”, afirma.

Já no caminho, até ao calvário, há pessoas de todas as idades. Seguem algumas crianças caracterizadas de romanos e jovens e menos jovens trajados de outras personagens alusivas ao mito. Estoicamente até ao final aguenta o devoto que carrega a cruz.

Pelo caminho, encontramos fiéis que todos os anos participam na procissão. É o caso de Maria Emília, 60 anos, da freguesia de Eja, da qual faz parte o lugar de Entre-os-Rios, e Maria Sousa, 49 anos, do Torrão, na outra margem, que há mais de 20 anos segue na procissão. Há apenas um motivo que as leva a repetir: “É pela fé”.

"A chuva estragou o negócio"

Fé que os comerciantes pouco depositam na edição deste ano no que ao negócio diz respeito. Há quase uma década que Luzia Martins vende velas por esta altura. “Nunca tive um ano tão mau. A chuva estragou o negócio”, diz.

Já sem chuva, do outro lado, em Entre-os-Rios, no largo antes da igreja de São Sebastião para-se para o Sermão de Encontro entre Jesus Cristo e Nossa Senhora das Dores, ouvido por centenas de pessoas que para lá chegar, qual Via Dolorosa, subiram as ruas estreitas daquela zona central do lugar. 

É ali que para muitos termina a procissão que ainda segue até à capela de São Sebastião. “Este ano a chuva afastou muita gente e há os que já estão cansados. Mas há sempre os resistentes que aguentam até ao fim”, diz-nos o padre Daniel Quintela após o sermão.

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