Vaticano faz formação para exorcistas após "aumento exponencial" de pessoas que se dizem possuídas

Trata-se de uma "emergência pastoral", sublinha a Associação Internacional de Exorcistas, apoiada pelo Vaticano.

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O livro "Ritual do Exorcismo e Orações Para Circunstâncias Específicas" da Igreja católica é uma espécie de manual para quem quer aprender REUTERS/Alessia Pierdomenico

Em Abril, o Vaticano vai ser palco de um curso de seis dias para exorcistas, uma iniciativa que pretende responder ao "aumento exponencial" do número de pessoas que dizem ter sido possuídas pelo demónio. A notícia já tinha sido avançada pela Rádio Vaticano no final de Fevereiro mas à medida que o mundo religioso se aproxima da data do encontro, a notícia ganha nova visibilidade mediática.

"Queremos oferecer uma reflexão sobre um tema que por vezes é controverso e sobre o qual não se fala muito", declarou há um mês Benigno Palilla, aludindo ao encontro que vai ter lugar em Roma, entre 16 e 21 de Abril. Palilla é um dos organizadores desse encontro, tendo acrescentado que, anualmente, há 500 mil pessoas a necessitar de exorcismo, só em Itália. Ainda que admita que muitos dos casos em questão estejam, no fim de contas, relacionados com problemas psicológicos ou espirituais, Palilla defende que mesmo assim devem ser investigados.

Em 2017, a revista The Economist escrevia que a Igreja Católica "negligenciou o exorcismo durante muito tempo", citando palavras de Alessandra Nucci, autora de artigos sobre questões relacionadas com o catolicismo. Numa reportagem intitulada "Procura por exorcistas está a aumentar em França", a mesma revista contava que estas "consultas" estavam a ser maioritariamente asseguradas naquele país por "trabalhadores independentes", que cobravam à volta de 150 euros por hora.

Num artigo publicado na sexta-feira, o diário inglês The Guardian, cita declarações do think tank Theos, uma organização cristã, segundo o qual o exorcismo é "uma indústria em expansão" no Reino Unido. Palilla, por seu lado, diz que na Sicília, onde vive e trabalha para a Igreja de Roma, o número de casos triplicou. "Encontramo-nos numa etapa crucial da nossa história: muitos cristãos deixaram de acreditar na existência do demónio, são nomeados poucos exorcistas e não há jovens padres dispostos a aprenderem a doutrina e a prática da libertação das almas."

Chamando a atenção para os críticos que identificam a prática do exorcismo como uma forma de "abuso espiritual" – apontando o caso das pessoas LGBT e dos doentes mentais que são submetidos a exorcismos – o Guardian cita outro padre, da Irlanda, que dá conta de um aumento diário de pessoas que pedem ajuda. "Este aumento exponencial é recente, dos últimos anos. O que vejo, com desespero, são pessoas que acreditam – bem ou mal – que foram afectadas por espíritos malignos", declarou o padre Pat Collins, da igreja irlandesa. Para o Papa, que preside a cerimónias da Páscoa no meio de uma polémica sobre o Inferno, a regra é a de que um padre que dê conta de "genuínas perturbações espirituais deve encaminhar, sem hesitação, os casos para aqueles que, em cada diocese, estão encarregados com esta missão delicada, nomeadamente, exorcistas".

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