Temer diz que há "forças obscuras" a persegui-lo na justiça

Após prisão de amigos de longa data, Presidente brasileiro sente-se limitado na decisão de se candidatar às eleições. A próxima semana será decisiva em termos eleitorais.

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Não é a primeira vez que Temer é suspeito de um caso de corrupção relacionado com o porto de Santos Ueslei Marcelino/REUTERS

Michel Temer acusou “forças obscuras” de tentarem impedi-lo de apresentar a sua candidatura à presidência brasileira, como planeava fazer na próxima semana, provavelmente tendo como vice o ministro das Finanças, Henrique Meirelles. Em causa está a prisão de dois amigos de longa data, o advogado José Yunes e o o ex-coronel da Polícia Militar João Batista Lima Filho, bem como de outros aliados políticos, investigados num caso de corrupção que coloca de novo os holofotes da suspeita em cima do Presidente.

No comunicado do Planalto falta um sujeito concreto – o palácio presidencial usa apenas o neutro “autoridades”. Mas visa a operação da Polícia Federal comandada pela Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, que acusa de usar “métodos totalitários”. O objectivo? “Tentar destruir mais uma vez a reputação” do Presidente e “criar narrativas que gerem novas acusações”.

Ao todo, foram detidas na quinta-feira 13 pessoas, no âmbito da operação Skala, uma derivação da operação Lava-Jato, que investiga um alegado esquema de corrupção em torno de contratos de empresas no porto de Santos. Há a suspeita de que Michel Temer assinou, em Maio do ano passado, um decreto que aumentou de 25 para 35 anos o prazo dos contratos de concessão e arrendamento de empresas portuárias, o que teria beneficiado a empresa Rodrimar, que opera em Santos. O proprietário desta firma, António Celso Grecco, foi também detido.

O Planalto defende que as empresas com contratos assinados antes de 1993, como a Rodrimar, não estão abrangidos por este decreto – pelo que não houve favorecimento. Mas não é a primeira vez que há suspeitas de corrupção a ligar o Presidente brasileiro ao porto de Santos – há um caso do final dos anos 1990, e o coronel Lima Filho estava implicado – “descrito como um opaco assessor”, diz a edição brasileira do El País. Este caso, no entanto, acabou por ser arquivado.

Lima Filho, amigo de Temer há mais de 30 anos, é conhecido como proprietário de uma fazenda invadida por três vezes por grupos ligados ao Movimento dos Sem Terra – como forma de pressionar Michel Temer. Localmente, a propriedade em Duartina, no interior de São Paulo, que tem 484 hectares e vale cerca de dez milhões de reais (2,4 milhões de euros), é mesmo conhecida como a “fazenda de Temer”, relata o El País.

Já o advogado José Yunes é um amigo de Temer desde os tempos da faculdade de direito. Chegou a ter uma procuração do Presidente para “celebrar quaisquer contratos, depositar e retirar dinheiro, endossar e assinar cheques, autorizar transferências electrónicas e pagamentos, tomar saques e reconhecer saldos” de Temer.

Barbosa entra em cena

Ao deter estes amigos próximos de Michel Temer, no momento em que ele está a pensar candidatar-se às eleições de Outubro, apesar de ter um fraquíssimo apoio eleitoral, a justiça está a enviar um sinal claro ao Presidente. Temer conseguiu evitar por duas vezes no ano passado que o Congresso autorizasse que ele fosse julgado por corrupção – crime pelos quais não estaria protegido como eleito. Mas a larga maioria da população acha que existem provas suficientes para que a Justiça brasileira levasse o caso até ao fim.

Esta guerra da Justiça contra uma classe política brasileira profundamente manchada pela corrupção pode ser levada à sua máxima expressão na próxima semana.

Por um lado, há o caso de Lula da Silva: no dia 4, o Supremo Tribunal Federal pronunciar-se-á sobre o pedido de habeas corpus do ex-Presidente. Se for recusado, Lula pode ter ordem de prisão imediata.

Por outro lado, o ex-presidente do Supremo Tribunal e o primeiro juiz negro desta instância superior, Joaquim Barbosa, será o candidato à presidência do Partido Socialista Brasileiro (PSB), ao qual deverá formalizar a sua adesão até à próxima sexta-feira.

“Acho que este é o momento certo para a sua candidatura. Encaixaria no desejo de ter alguém que proponha uma nova forma de fazer política. Pode ter boas hipóteses de chegar à segunda volta e ganhar”, disse à Reuters um optimista Carlos Siqueira, líder do PSB.

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