PSD e CDS andam juntos no sobe e desce das legislativas. Será assim em 2019?

A subida em flecha do CDS e o definhamento do PSD nas próximas legislativas é um cenário pouco ou nada provável. Tanto quanto a hipótese de os dois partidos irem juntos a votos.

Cristas foi reeleita líder do CDs em Março
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Cristas foi reeleita líder do CDs em Março Paulo Pimenta
CDS e PSD juntos após eleição de Rio
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CDS e PSD juntos após eleição de Rio LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS
No congresso, militantes de base disseram que Cristas já fez esquecer Portas
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No congresso, militantes de base disseram que Cristas já fez esquecer Portas Paulo Pimenta

Nas eleições legislativas dos últimos 16 anos, PSD e CDS partilharam a mesma tendência: Quando o PSD sobe, o CDS acompanha. Mesmo que em proporções diversas entre si. O contrário (subir um sem subir o outro) não se verifica, o que pode assombrar o sonho do CDS de Assunção Cristas – ser a “primeira e única escolha” de quem rejeita a esquerda. Entre os democratas-cristãos domina a cautela depois da euforia do congresso. No PSD, mesmo com o partido em turbulência, o cenário de um CDS a ultrapassar o PSD é visto como pouco ou nada provável. Assim como a possibilidade de haver uma aliança eleitoral nas próximas legislativas.

O tiro de partida na ambição dos centristas foi dado no congresso de 10 e 11 e Março, com a líder do CDS a assumir que é "melhor" candidata a primeira-ministra do que Rui Rio. Um pouco a fazer lembrar o "Yes, we can" (sim, conseguimos) de Barack Obama, Cristas quis pôr o partido a sonhar: é possível jogar na “primeira liga”, é possível o CDS ser a primeira e única escolha dos portugueses que rejeitam a geringonça. O PSD nunca foi referido directamente, mas a mensagem era clara: é possível crescer e crescer à custa dos sociais-democratas.

Várias vozes no PSD consideram exagerado e até ridículo o discurso de Assunção Cristas. “O CDS fez o seu congresso e elevou as expectativas, mas não é credível”, afirma ao PÚBLICO David Justino, vice-presidente social-democrata, que qualificou a estratégia dos centristas: Foi uma “via mais tradicional e politiqueira”.

Assumindo ter ficado surpreendido pelo “exagero” e considerando até “um pouco ridículo” o que se passou no congresso, David Justino defende a estratégia do líder do PSD: “O que Rio está a fazer é ganhar o desafio da credibilidade”. São estratégias em contraste: “Nós partimos de expectativas baixas e vamos ter resultados altos. O CDS parte de expectativas altas e se calhar tem resultados baixos”.

Em entrevista ao Expresso, David Justino acabou por lançar a escada ao CDS, tentando trazer o partido à realidade. "Na minha posição pessoal, a questão [de uma eventual coligação eleitoral] não está fechada", disse, acrescentando que o CDS é ao mesmo tempo amigo e adversário. "É nosso parceiro".

Mas a coligação é assunto que não passa pela cabeça dos centristas, que já assumiram o desejo de irem sozinhos a votos. "As coisas estão ditas e assumidas. Não houve evolução nenhuma", explica um dirigente do partido, sublinhando que não seria positivo para a afirmação da presidente, que está a suceder a um líder que esteve 18 anos à frente do partido, ir às urnas em coligação logo nas primeiras legislativas que tem pela frente.

Ao PÚBLICO, o eurodeputado do CDS Diogo Feio assume que esta declaração de Justino não significa que tenha havido uma evolução na decisão de não haver alianças entre os antigos parceiros de governo. "Esta declaração tem o grande efeito político de terminar uma conversa sobre o bloco central e de centrar o discurso numa alternativa ao Governo", analisa. De resto, defende Diogo Feio, é o CDS que tem sempre "falado como um partido amigo" do PSD.

Fim do voto útil

É sozinho, e apesar do histórico de resultados não ser totalmente favorável, que o CDS prosseguirá o objectivo definido por Assunção Cristas. E os valores obtidos nas últimas cinco eleições legislativas são encarados com naturalidade. “Se tivermos um resultado forte, isso significa que o PSD também tem de ter para conseguir os 116 deputados. A proporção não altera o resultado”, afirma João Almeida, porta-voz do partido. O deputado esclarece o significado da expressão “queremos ser a primeira escolha”: é a primeira escolha de “mais pessoas” e resulta do que considera ser o fim do voto útil. “Somando tudo são muitos votos”, afirmou, rejeitando a ideia de que o CDS quer crescer à custa do PSD.

A mesma linha é defendida pelo vice-presidente do CDS Adolfo Mesquita Nunes. “O crescimento não tem de ser necessariamente à custa de… É possível ir buscar pessoas à abstenção”, observa, vincando, no entanto, uma linha de diferença face ao PSD: “Os nossos votos não vão servir para fazer acordos com o PS”.

Sublinhando que o CDS não mudou a sua estratégia por causa do PSD, Adolfo Mesquita Nunes admite até ser “possível” que os centristas possam beneficiar de um momento menos bom do seu antigo parceiro, mas não menospreza o líder: “Ganhou três eleições [autárquicas no Porto], sabe o que está a fazer”.

Uma eventual subida do CDS em flecha e o definhamento do PSD nas legislativas de 2019 é também vista como pouco provável por Pedro Duarte, ex-deputado do PSD. “Em teoria, pode haver uma transferência de voto, mas na prática não há nada que nos leve a crer que haja uma alteração substantiva”, afirma o ex-líder da JSD, que é visto como um futuro candidato à liderança do partido. Nem mesmo o episódio de Lisboa, em que Assunção Cristas ficou à frente de Teresa Leal Coelho do PSD. “Foi um caso absolutamente pontual e excepcional e nem sequer foi conjuntural porque não aconteceu nos concelhos ao lado”, afirmou.

No momento em que os partidos já fazem contas para as eleições legislativas de 2019, Pedro Pestana Bastos, que foi membro da comissão política de Paulo Portas e Assunção Cristas, contraria a ideia de que PSD e CDS beneficiavam se fizessem listas conjuntas como defendeu o comentador Luís Marques Mendes.

O advogado defende que sempre que o PSD e o CDS concorrem em listas separados os mesmos recolhem mais votos, à excepção de 2005. Ao analisar o nosso sistema eleitoral, Pedro Pestana Bastos sustenta que “a partir de uma certa percentagem de votos – 12 ou 13% - o CDS só pode crescer à custa do PSD”. Mas isso – refere – “não é um drama para os 116 deputados, mas é um drama para o PSD”.

Referindo que a partir dos 18% de votos, os partidos são premiados pelo sistema, o democrata-cristão faz um exercício teórico com os números: um total de 44% entre dois partidos em que um partido recolhe 38% e outro recolhe 6% não é suficiente para a maioria absoluta. Mas se os mesmos 44% forem repartidos entre os dois com percentagens superiores a 20% para cada partido a maioria de 116 deputados está ao alcance do centro-direita.

Cuidado com excesso de velocidade

Teorias à parte, no PSD não faltaram vozes a ter um olhar crítico à “ambição” de Assunção Cristas. Como aconteceu com Pedro Santana Lopes. “Não acredito mesmo que o CDS possa ficar à frente do PSD”, afirmou, no rescaldo do congresso, embora ressalve que não se deve menosprezar Assunção Cristas.

Mesmo dentro do CDS, houve quem deixasse avisos entre os que estão ao lado da presidente do partido. Foi o caso de Nuno Magalhães, líder parlamentar. “O CDS deve seguir o seu caminho sem olhar para o lado ou para quem quer que seja mas sem excessos de velocidade pois quem anda em excesso de velocidade pode ser multado ou até estampar-se”, alertou na SIC, na véspera do congresso.

Depois de Lamego, o deputado Filipe Anacoreta Correia, que tem estado alinhado com Assunção Cristas, fez declarações ao jornal i em tom de prudência: “Até a história do CDS nos aconselha a alguma cautela. Se olharmos, por exemplo, para o tempo de maior euforia que tivemos desde a democracia, que foi o tempo de Francisco Lucas Pires, foi nesse tempo que fomos de 42 deputados para 30 e depois para 22. O momento de grande euforia deu depois em algo que não foi de encontro às expectativas criadas”. O deputado admitiu que “hoje o ciclo pode ser inverso”. Será mesmo? Com Sónia Sapage

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