Trump acusa Amazon de pagar “muito pouco em impostos” e usar Correios como “moço de recados”

O acordo entre o gigante do retalho online e os Correios norte-americanos fez ressurgir a “obsessão” do Presidente dos EUA com a empresa de Jeff Bezos. Não é a primeira vez que Trump questiona a legalidade do "monopólio" da Amazon.

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Trump recorreu ao Twitter para voltar a atacar a Amazon Reuters/DENIS BALIBOUSE

Trump voltou a usar a sua rede social preferida para atacar a Amazon. A desconfiança do Presidente norte-americano face à gigante retalhista já é antiga – mesmo antes de chegar à Casa Branca, Donald Trump questionava a legalidade do “monopólio” da empresa fundada pelo milionário Jeff Bezos, actual proprietário do jornal Washington Post. Agora, parece estar preocupado com o acordo entre a Amazon e os Correios norte-americanos. Uma notícia publicada pela Axios a dar conta da “obsessão” de Trump pela empresa tecnológica de Bezos provocou um tombo no valor das acções: só na quarta-feira, a cotação desvalorizou 4%.

“Ao contrário de outras empresas, eles pagam muito pouco em impostos ao estado e aos governos locais, e usam o nosso sistema postal como um moço de recados (com perdas enormes para os EUA), pondo vários retalhistas no desemprego”, escreveu Trump, no Twitter.

Não é a primeira vez que Trump põe em causa o acordo entre a retalhista e os Correios norte-americanos. Em Dezembro, pediu aos serviços postais que aumentassem o preço dos portes de envio pela Amazon. “Porque é que os Correios dos Estados Unidos, que estão a perder milhares de milhões de dólares por ano, continuam a cobrar à Amazon e a outras empresas tão pouco para entregar as suas encomendas, fazendo com que a Amazon fique mais rica e os Correios mais estúpidos e pobres?”, questionou o Presidente norte-americano. 

Escreve o Washington Post que a parceria da Amazon com os Correios é revista anualmente pela Comissão Regulatória Postal, que decide o valor dos portes a serem cobrados. De acordo com a lei norte-americana, os Correios devem cobrar valores que lhe permitam ter uma margem de lucro – o que aconteceu em 2017. De acordo com o mesmo jornal, os Correios tiveram lucros na ordem dos sete mil milhões de dólares e receitas na ordem dos 20,7 mil milhões de dólares.

Impostos não cobrados e "favores" estatais

Na quarta-feira, o site noticioso Axios publicou uma reportagem na qual descrevia que Trump era “obcecado” com o gigante retalhista, citando uma fonte próxima do Presidente. No mesmo dia, o valor das acções da Amazon caiu 4%, depois de ter estado a cair mais de 7%, recuperando na recta final da sessão.

A questão do acordo com os Correios norte-americanos é apenas mais uma do leque de críticas que Trump tem dirigido, ao longo dos últimos anos, à empresa de Jeff Bezos. Em Fevereiro, num jantar em Mar-a-Lago, em que estavam presentes Geraldo Rivera da Fox News e os filhos do Presidente, Donald Jr. e Eric, Trump defendeu (mais uma vez) que a Amazon deveria pagar mais impostos.

Trump repetia o que já tinha dito no início de Agosto de 2017, que a Amazon estava “a prejudicar retalhistas que pagam impostos”. Antes de ser eleito Presidente, tinha criticado as tendências “monopolísticas” da Amazon, acrescentando que a empresa poderia enfrentar um grande “problema antitrust” (leis que pretendem combater a captura do mercado por empresas com grande poder) porque estava "a controlar de mais”, recorda o jornal de Bezos.

De acordo com o mesmo diário, a Amazon reflecte o valor dos impostos no preço dos produtos que vende nos 45 estados que taxam as suas vendas. Os números citados pelo New York Times, com base no relatório da Comissão de Valores Mobiliários norte-americana, a empresa pagou 412 milhões de dólares em impostos. A Amazon inclui o valor dos impostos em todos os bens que constem dos inventários. A excepção são os artigos vendidos por terceiros através da plataforma, sujeitos a acordos diferentes.

Apesar de a antipatia do Presidente norte-americano poder ser motivada por interesses próprios do homem de negócios que também é, a verdade é que desde muito cedo a Amazon se mostrou capaz de aniquilar a concorrência. Viu-se quando entrou no mercado editorial, e voltou a ver-se quando comprou a cadeia de retalho alimentar Whole Foods em 2017. Actualmente, mais de metade das pesquisas de compras online são feitas directamente na Amazon, responsável por mais de 40% das vendas a retalho na Internet nos EUA, segundo dados da consultora eMarketer, citado pelo Guardian.

Este poder de mercado traz-lhe vantagens do ponto de vista político. Na busca para a localização da sua segunda sede, a Amazon pode dar-se ao luxo de optar pelo estado norte-americano que lhe oferecer maiores benefícios fiscais. O Maryland já revelou que está disposto a oferecer 5600 milhões de dólares em incentivos, já o estado de Nova Jérsia sobe a parada para os 7000 milhões. Alguns estados ponderam ir mais longe e dar à empresa a hipótese de escolher em que é que vai ser aplicado o dinheiro arrecadado em impostos – dando poder de governação a uma empresa privada.

Apesar do abanão no valor das acções, a Amazon não reagiu aos comentários de Trump. Quando contactada pelo New York Times e pelo Post, a empresa não respondeu. Segundo o Guardian, a resposta aos ataques anteriores de Trump tem sido um “revirar de olhos”, de acordo com uma fonte da empresa.

A Amazon não é a única empresa a ser atacada por Trump – a Apple, a Boeing e a General Motors são outros alvos preferenciais. Ainda assim, Trump parece ter uma antipatia especial pelas empresas detidas por Bezos: não é a primeira vez que sugere que o Washignton Post é uma “arma lobista para impedir que os políticos do Congresso não olhem para o monopólio da Amazon”. Os editores do jornal já esclareceram que Bezos não desempenha qualquer papel nas opções editoriais do Post.

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