Papa preside a cerimónias da Páscoa entre polémica sobre o Inferno

"O Inferno não existe, o que existe é o desaparecimento de almas pecaminosas", terá dito o Papa ao jornalista Eugenio Scalfari. O Vaticano desmente a afirmação: o Inferno existe mesmo.

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Procissão da Sexta-Feira Santa em frente ao Coliseu, Roma REUTERS/Stefano Rellandini

O Papa Francisco iniciou esta sexta-feira no Vaticano as cerimónias da Páscoa, que este ano estão a ser marcadas por medidas de segurança e por uma artigo polémico de um decano do jornalismo italiano em que este afirmou que líder católico negava a existência do Inferno.

O Papa tem previsto para este sábado, na basílica do Vaticano, a celebração da Paixão do Senhor, e depois a tradicional Via Sacra no Coliseu de Roma, símbolo das perseguições aos primeiros cristãos. As cerimónias inserem-se no chamado "tríduo pascal", os três dias de celebração da Páscoa comemorados pelos cristãos, e estão a ser acompanhadas por fortes medidas de segurança em Roma, após uma série de prisões de supostos extremistas islâmicos.

As comemorações solenes coincidem com uma nova controvérsia de comunicação no Vaticano sobre a afirmação do Papa de que o Inferno não existe.

"O Inferno não existe, o que existe é o desaparecimento de almas pecaminosas", terá dito o Papa em entrevista concedida a Eugenio Scalfari, fundador do jornal italiano La Repubblica. O Vaticano apressou-se a reagir às palavras atribuídas a Francisco: não negou a afirmação do Papa, mas disse que o jornalista, que fará 94 anos em Abril, reconstruiu uma conversa.

O jornalista é amigo do Papa desde 2013 e a conversa terá acontecido num encontro entre os dois, e não durante uma entrevista formal.

"Nenhuma frase colocada entre aspas [na entrevista] deve ser considerada como uma transcrição fiel das palavras do Santo Padre", declarou o Vaticano, observando que Francisco recebeu Eugenio Scalfari, mas não numa entrevista formal.

Scalfari perguntou ao Papa para onde vão as "más almas" quando morrem. Scalfari, que é conhecido por não tomar notas, relata a resposta de Francisco desta forma: "Não são punidas. As que se arrependem recebem o perdão de Deus e tomam o seu lugar entre as que o contemplam, mas que não se arrependem e não podem ser ser perdoadas desaparecem para sempre. O Inferno não existe, mas o desaparecimento das almas pecadoras existe", relata o Guardian.

O catecismo oficial da Igreja Católica, declara que o Inferno existe - o Papa Bento XVI declarou-o em 2008, contradizendo o que disse o seu antecessor, João Paulo II, segundo a qual o Céu e o Inferno não são lugares físicos. Francisco falou por diversas vezes já do Inferno.

Scalfari nunca tira notas das suas entrevistas nem as grava. No entanto, não é a primeira vez que é acusado de interpretar mal o Papa: em 2014, o Vaticano negou declarações atribuídas a Francisco a assinalar que existiam soluções para o celibato dos padres.

A amizade entre os dois tem sido alvo de críticas. Scalfari defende-se que é o Papa quem pede para se encontrar com ele, por gostar de "trocar ideias com os não crentes". 

A relação do Papa com a Cúria tem sido atribulada desde a sua eleição, há cinco anos. No início do seu pontificado, Francisco apontou críticas à Cúria e prometeu mudanças. "A Cúria tem um defeito: está centrada no Vaticano. Vê e ocupa-se dos interesses do Vaticano e esquece o mundo que o rodeia. Não partilho desta visão e farei tudo para a mudar", afirmou então.

 

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