Fotografia

Iraque: foi assim a “era dourada” de Bagdad

As imagens realizadas em Bagdad, nos anos 1950, 60 e 70 pelo fotógrafo Latif Al Ani, o "pai da fotografia iraquiana", revelam um país onde "o cosmopolitismo e a abertura cultural" dominavam. “Hoje, está tudo devastado.”

Fotogaleria

O fotógrafo Latif Al Ani, hoje considerado "o pai da fotografia iraquiana", registou o quotidiano da cidade de Bagdad durante as décadas de 50, 60 e 70 do século XX – descritas como um período de "crescente cosmopolitismo e abertura cultural" pela Hatje Cantz, a editora do fotolivro Latif Al Ani, em comunicado.

Com a publicação deste livro, o agora octogenário fotógrafo pretende “mostrar a herança [social, cultural e histórica] iraquiana e confrontá-la com o presente”. Em entrevista a Tamara Chalabi, escritora e especialista em História do Iraque pré-Hussein, o fotógrafo disse que “aquilo que temia que acontecesse acabou por acontecer", com início na revolução de 1958. Foi esse o momento em que o Iraque se libertou da ocupação britânica e se afirmou como república independente. "O medo da instabilidade foi o principal motivo pelo qual tentei documentar tudo tal e qual como estava. Tudo o que podia fazer era registar, congelar o tempo em imagens." Assim fez.

Latif Al Ani nunca imaginou que, um dia, as ruas e edifícios que conheceu, no centro histórico de Bagdad, simplesmente deixariam de existir. “Eu vivi ali, cresci ali e amava aqueles lugares”, disse à editora, em entrevista. “Hoje, está tudo devastado.” A conturbada história política do país, marcada por ocupações, golpes de estado, invasões e acção de regimes autoritários, viria a mudar para sempre a face daquela que foi considerada, um dia, um exemplo de progresso e prosperidade no Médio Oriente. Com a chegada de Saddam Hussein ao poder, entrou a proibição do acto de fotografar na via pública, o que ditou o fim da carreira fotográfica de Latif Al Ani.

O fotógrafo foi o fundador do departamento de Fotografia do então Ministério da Informação — que mais tarde passou a chamar-se Ministério da Cultura — e era o único fotógrafo no país, no início dos anos 60, que sabia revelar filme a cores. O seu trabalho foi premiado, em 2015, pela Prince Claus Fund, que considerou “extraordinariamente rico e multifacetado” o arquivo histórico que criou do “país moderno, próspero e orientado para o futuro que era o Iraque antes da Guerra do Golfo”.