Antes de se sentar com Trump, Kim mostra que mantém o apoio da China

Xi e Kim estiveram juntos pela primeira vez em Pequim esta semana e abordaram a desnuclearização da Península Coreana.

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Os dois líderes aliados encontraram-se pela primeira vez KCNA/EPA

De forma inesperada, o líder norte-coreano Kim Jong-un deu esta semana o pontapé de saída para uma série de encontros históricos que vão culminar em Maio com uma reunião com o Presidente dos EUA, Donald Trump. A Coreia do Norte confirmou esta quarta-feira que Kim se reuniu com o Presidente chinês, Xi Jinping, em Pequim, onde reiterou a intenção de iniciar um processo de desnuclearização da Península Coreana, desde que sejam dadas garantias de segurança.

A especulação esteve a pleno vapor nos últimos dias, desde que foi visto, na segunda-feira, um comboio blindado a chegar à principal estação ferroviária de Pequim, envolto num grande aparato de segurança. Na véspera, o mesmo comboio tinha passado pela cidade de Dandong, perto da fronteira norte-coreana. Mas, tal como em ocasiões passadas, a visita do líder norte-coreano a Pequim foi apenas confirmada posteriormente pelos dois países, que definiram o encontro como “não oficial”.

O encontro entre Kim e Xi serve vários objectivos. Desde que subiu ao poder em 2011, Kim Jong-un nunca se tinha encontrado com outro chefe de Estado, nem mesmo com o líder chinês, país tradicionalmente aliado de Pyongyang, com quem partilha amplos laços económicos e diplomáticos. Por contrapartida, o pai do actual líder norte-coreano, Kim Jong-il, deslocou-se a Pequim para encontros com o homólogo chinês em sete ocasiões.

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Kim Jong-un com a sua mulher, Ri Sol-ju (à esquerda), Xi Jiping e a sua mulher, Peng Liyuan KCNA/EPA

A ausência de contactos levou muitos analistas a questionarem a solidez desta aliança. Ao mesmo tempo que parecia mostrar-se cada vez mais receosa das capacidades nucleares da Coreia do Norte, a China passou a alinhar frequentemente com as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que nos últimos anos reforçaram as sanções contra o regime.

O encontro desta semana tem o efeito imediato de reforçar os laços que ligam os dois países. “A visita, por si só, é a prova de que Pequim e Pyongyang mantiveram a sua amizade tradicional e os contactos de alto nível, apesar dos muitos rumores sobre os seus laços se terem enfraquecido”, disse ao South China Morning Post o analista Zhou Chenming.

Na base da visita está também o ambiente de desanuviamento que se vive actualmente na Península Coreana. Depois de um ano em que a ameaça de um conflito esteve quase sempre presente, os primeiros meses do ano têm sido marcados pela reaproximação entre as duas Coreias, motivada pela participação conjunta nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang. Com o restabelecimento dos canais de comunicação e a suspensão dos testes balísticos e nucleares, o caminho ficou aberto para que Kim se possa sentar à mesa com os seus interlocutores.

Trump e Moon na agenda

O líder norte-coreano tem cimeiras marcadas com o Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, no próximo mês, e com o Presidente dos EUA, Donald Trump, em Maio – a primeira entre líderes destes dois países. Em Pequim, a agenda de Kim para estes encontros também esteve em discussão.

O líder norte-coreano reafirmou a disponibilidade em aceitar a desnuclearização da Península Coreana, desde que sejam dadas garantias de segurança, tal como já tinha feito durante uma visita recente de dirigentes sul-coreanos a Pyongyang. “A questão da desnuclearização da Península Coreana pode ser resolvida se a Coreia do Sul e os Estados Unidos responderem aos nossos esforços de boa vontade, criarem uma atmosfera de paz e estabilidade, enquanto tomam medidas progressivas e sincronizadas para a concretização da paz”, afirmou Kim, citado pela agência estatal Nova China.

Trump disse ter sido informado por Xi acerca da reunião e que o Presidente chinês lhe revelou que Kim está “entusiasmado” com o encontro entre os dois. Porém, reforçou a necessidade de se manter a “pressão máxima” sobre Pyongyang. Trump tem defendido que a China deveria usar a sua influência sobre a Coreia do Norte para que o regime abandone o programa nuclear, embora Pequim diga que essa é uma imagem errada sobre as relações entre os dois países.

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Fotos oficiais dos casais presidenciais norte-coreano e chinês KCNA/REUTERS

Apesar de ter criticado a postura agressiva da Coreia do Norte e de ter apoiado as sanções económicas, a China tem defendido o diálogo entre Washington e Pyongyang, e um congelamento do programa nuclear norte-coreano a par de uma suspensão dos exercícios militares conjuntos entre os EUA e a Coreia do Sul. Pequim tem dois grandes objectivos: evitar uma guerra nas suas fronteiras, e a crise humanitária a ela associada, e impedir uma reunificação da Coreia militarmente aliada dos EUA.

A visita de Kim a Pequim também reflecte uma renovada confiança do líder norte-coreano, convicto de que o ponto em que se encontra o programa de armamento nuclear é suficiente para que Pyongyang seja tratada como uma “potência nuclear” e extrair concessões a nível internacional. “Apesar de esta ter sido a primeira viagem ao estrangeiro de Kim desde que chegou ao poder, ele mostra-se confiante, aparecendo como um actor global em igualdade com a China de Xi”, disse à Reuters Kim Yong-hyun, professor da Universidade de Dongguk, na Coreia do Sul.

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