R Kelly acusado de “formar” adolescente para ser seu “animal de estimação” sexual

As novas acusações são feitas por Kitty Jones, ex-namorada que o ano passado denunciara o cantor por violência sexual, física e psicológica, num documentário que será exibido esta quarta-feira na BBC3.

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As primeiras acusações de abusos sexuais a R Kelly datam da década de 1990 Andrew Steinmetz

Não é a primeira vez e, dada a cadência com que as acusações vão surgindo desde o início da década passada, o mais provável é que não seja a última. R Kelly, novamente: num documentário que será exibido esta quarta-feira pela BBC3, a estrela de R&B é acusada por uma ex-namorada, Kitti Jones, de “treinar” uma adolescente de 14 anos para ser a sua escrava sexual.

Numa entrevista à Rolling Stone publicada em Outubro de 2017, Kitty contou como a relação de dois anos que manteve com Kelly, entre 2011 e 2013, foi marcada pela personalidade abusiva e controladora do cantor, que exerceu sobre ela violência física e psicológica – tal como em todos os casos anteriores, a voz de I believe I can fly negou todas as acusações. Meses depois, no documentário da BBC3, Kitty Jones, hoje com 34 anos, volta ao tema, relatando como foi sendo “formada” por Kelly, como foi forçada a manter relações sexuais com ele e com outras pessoas, pelo menos dez vezes, numa “masmorra de sexo”.

Na entrevista à Rolling Stone disse que, no início da relação de ambos, R Kelly lhe falara de raparigas que tinha “criado” e que lhas apresentaria um dia – “quero ter a certeza que estás mentalmente preparada para isso”, acrescentou o cantor, segundo o relatado por Kitti Jones. No documentário, a DJ dá conta de um encontro com uma dessas raparigas, “que ele me disse ter ‘treinado’ desde os 14 anos”, cita o Guardian, jornal que teve acesso ao documentário. Jones afirma que R Kelly obrigou a mulher a rastejar até ela e a estimulá-la sexualmente, dizendo: “eu treinei-a, ela é a porra do meu animal de estimação. Vai ensinar-te como tens de te comportar comigo”.

R Kelly foi acusado (e ilibado) em 2007 de pornografia infantil e de se ter filmado a manter relações sexuais com uma adolescente de 13 anos. O ano passado, pouco antes da entrevista de Kitty Jones à Rolling Stone, várias mulheres denunciaram numa reportagem da BuzzFeed que o cantor as aprisionara, privando-as de liberdade, abusando delas física, emocional e sexualmente, mantendo-as fechadas como num estranho “culto”. Algo que, segundo as acusadoras, continuava a ser uma realidade. O artigo da BuzzFeed dava voz a uma mãe que fora perdendo progressivamente o contacto com a filha depois de esta iniciar uma relação com R Kelly. Recordou assim o último encontro que tivera com ela: “Foi como se tivesse sofrido uma lavagem cerebral. Parecia uma prisioneira. Foi horrível. Abracei-a e abracei-a, mas ela só dizia que estava apaixonada, e que [R Kelly] é que toma conta dela”.

Kitty Jones, vítima dessa alegada personalidade manipuladora, viveu o encontro com a rapariga “treinada” desde os 14 anos como um despertar. “Vi que ela estava vestida como eu, que dizia as coisas que também diria e que os seus maneirismos eram como os meus. Foi aí que se fez luz e que percebi que ele me estava a formar para ser um dos seus animais de estimação. É isso que lhes chama, ‘animais de estimação’”.

R Kelly ou os seus representantes recusaram comentar as acusações, quer à BBC, quer ao Guardian. O músico, nascido Robert Sylvester Kelly em 1967 e uma das maiores estrelas do R&B do nosso tempo, tem no currículo seis álbuns no primeiro lugar do top americano, com sete outros a alcançar o top 5. No meio de todas as denúncias de abusos sexuais envolvendo homens poderosos da indústria do entretenimento que se seguiram ao eclodir do caso Harvey Weinstein, R Kelly, apesar das acusações recorrentes, tem escapado incólume e prossegue sem grandes sobressaltos a carreira iniciada na alvorada dos anos 1990. As primeiras acusações de abusos sexuais chegaram na década de 1990 — em 1996, chegou a acordo extrajudicial com Tiffany Hawkins, com quem teria iniciado uma relação quando esta tinha 15 anos.

Jerhonda Pace, que revelou à BuzzFeed, seis semanas antes de rebentar o escândalo Weinstein, a história dos alegados abusos sexuais que sofreu às mãos de R Kelly quando era menor, diz-se “frustrada e zangada”. Numa reportagem publicada dia 13 de Março naquele mesmo site, a mulher, hoje com 24 anos, mãe de três filhos, confessa ter-se sentido “lívida” ao assistir à queda de outros homens poderosos, sem que qualquer atenção recaísse sobre as acusações que ela e outras mulheres há tantos anos lançavam sobre o cantor. “E as vítimas de R Kelly? E nós? Para nós, nada aconteceu”, lamenta.

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