Nuno Carinhas: “Luto pelo elenco residente do S. João há muitos anos”

O director artístico do Teatro Nacional São João vê na escolha de Pedro Sobrado para presidir à administração “um bom sinal” do funcionamento da instituição. Defende que a criação de um núcleo residente de actores é indispensável. E promete uma nova encenação até ao final do seu mandato: talvez um regresso a Shakespeare.

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Nuno Carinhas João Tuna

A programação agora anunciada coincide com a entrada de Pedro Sobrado – que era já da casa – para a presidência da administração do TNSJ. Isso irá ter reflexo visível na programação futura?
Vai haver, com certeza, muito diálogo acerca das opções que se vão tomando. Mesmo não estando o Pedro na administração, já tínhamos esse diálogo. E já estamos a planear 2019. De facto, é um bom sinal termos alguém da casa à frente da administração, e um intelectual, o que nem sempre acontece. É sinal de que a casa consegue criar os seus próprios agentes. É uma pessoa com quem tenho um diálogo muito profundo e muito profícuo. É fantástico.

Na tomada de posse, falou-se novamente da criação de um elenco residente no TNSJ. Que importância teria para o futuro do teatro?
Acredito e luto pelo elenco residente há muitos anos. Não se trataria de uma estrutura completamente fixa; seria uma estrutura pontualmente residente, com contratos anuais, como já aconteceu. É importante porque, mesmo em termos de organismo, se há um director artístico, ele existe porque traz consigo uma determinada linguagem e ela só pode ser desenvolvida com os actores, [o que pressupõe] tanto uma equipa técnica como uma equipa artística. É portanto normal que haja uma certa estabilidade nessa equipa para levar o trabalho sempre mais para a frente. Isto passa por um conhecimento mútuo, por um diálogo… Além de que é bom trabalhar com alguém que tem alguma estabilidade no seu dia-a-dia. E esses actores podem desenvolver trabalho que não é só estar ali no palco, espectáculo a espectáculo. Isto é uma casa de teatro e, portanto, há imensas iniciativas que se podem desenvolver com a parceria e o empenho desses profissionais.

Quando se fala de um elenco residente no TNSJ, de quantas pessoas se fala?
Podemos começar por quatro, cinco actores. E podemos ir acrescentando e ir retirando, sendo que uma produção também não tem de ser só feita com esses quatro ou cinco. Esses são o núcleo residente e a base, que depois se pode contagiar aos outros.

O TNSJ continua, através das co-produções, como que a dar a mão às companhias da cidade e da região. É uma forma de as ajudar a sobreviver à crise?
Sim. Isso continua a ser importante, enquanto tudo isto não estiver estabilizado. Não podemos recuar nessa política; não faria sentido. Além de que há já também uma expectativa criada. Agora, quando a situação melhorar, espero que se criem mais espaços de trabalho na cidade, porque não chega ter palcos. É uma das coisas mais prioritárias.

O seu mandato termina no final do ano. Vai fazer alguma nova encenação até lá?
Sim. Mas não posso avançar mais nada, porque ainda não está certo. Quiçá outro Shakespeare. Depois do mergulho no Macbeth

Como correu?
Foi espantoso, porque fizemos 42 representações – o que já é muito raro –, e tivemos 15.500 espectadores. O importante desta experiência é que já é raro um actor viver a estreia de uma maneira e ter o privilégio de acabar 42 representações mais tarde, a perceber outras coisas sobre o seu trabalho. É que a arte do teatro está de alguma maneira inquinada pela falta desta prática e desta duração. Podemos estar na sala de ensaios muito tempo, mas é com o público que se dá o confronto. Felizmente que isto está a aliviar. Acho francamente que é preferível ter uma produção própria com esta escala, este tempo e este resultado, tanto do ponto de vista profissional como depois para o público, do que ter duas ou três produções mas [que] só [estão em cena] três ou quatro dias.

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