Piloto português embriagado detido quando se preparava para levantar voo

TAP abre inquérito interno e autoridades alemãs suspendem licença de voo a co-piloto que teve que pagar uma caução de dez mil euros. Alguns passageiros só têm voo na segunda-feira.

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Daniel Rocha/Arquivo

O co-piloto português que na sexta-feira foi detido em Estugarda (Alemanha) alcoolizado já estava no cockpit e a iniciar os preparativos para a descolagem do avião repleto com 106 passageiros rumo a Lisboa. Em manobras no cockpit num estado de “embriaguez acentuada”, segundo as autoridades locais, o português de 40 anos teve de pagar uma caução de dez mil euros para permanecer em liberdade e ficou com a licença de voo suspensa por ordem do Ministério Público de Estugarda.

Como foi possível que se chegasse a esta situação e o que vai acontecer agora ao co-piloto? Há poucas respostas por enquanto. A TAP anunciou que vai abrir um inquérito interno e, numa curta declaração, adiantou apenas que o voo TP523 foi cancelado devido a “incapacidade” do funcionário que, fez questão de salientar, trabalha para a Portugália. Esta companhia é a operadora do voo sob a marca da TAP Express e é seu o avião Embraer 190 que ficou em terra por não haver tripulação substituta.

Uma fonte aeronáutica adiantou entretanto à agência Lusa que o piloto "vai ficar suspenso até à conclusão do inquérito". E a TAP asseverou que “actuará em conformidade, tomando as medidas necessárias e consequentes”.

O co-piloto poderia mesmo ter conseguido levantar voo se um funcionário do aeroporto alemão não se tivesse apercebido de que algo de muito estranho se estava a passar e, pouco antes da partida do avião, ao constatar que ele “cambaleava e cheirava a álcool”, avisou as autoridades aeroportuárias e a polícia, que impediram que o avião descolasse, relatou a Associated Press.

Já dentro do avião, as autoridades encontraram o co-piloto no cockpit já em preparativos para a descolagem e, perante o seu evidente estado de embriaguez, submeteram o homem a um teste de sangue, informaram o Ministério Público de Estugarda e a polícia local num comunicado conjunto, em que reforçam que a viagem foi cancelada porque não havia tripulação para substituir a do voo TP523.

Em terra ficaram os mais de cem passageiros que previam chegar a Lisboa por volta das 20h50 de sexta-feira (a partida estava marcada para as 18h50, hora local). Transferidos para hotéis onde passaram a noite, neste sábado à tarde a maior parte dos passageiros já tinha sido transportada ou conseguira marcar viagens em voos da TAP e de outras companhias aéreas, apesar de alguns não terem alternativa se não a de aguardar por segunda-feira, dia em que haverá voos disponíveis, segundo adiantou uma fonte da companhia aérea.

Quanto à resposta dada no Twitter a um passageiro que se queixava da situação e tentava obter mais informações — e em que a TAP explicava que apenas haveria voos nesta segunda-feira —, esta "não é extensível a todos os passageiros", garantiu uma fonte da companhia, em resposta às críticas.

Não é a primeira vez que um piloto tenta levantar voo embriagado. A Newsweek recorda que, em 2016, dois pilotos, um no Canadá e outro na Indonésia, foram retirados dos aviões por suspeita de embriaguez. Um deles desmaiou no cockpit e o outro foi obrigado a sair pela polícia. O primeiro acabaria por ser condenado a oito meses de prisão, mais tarde.

Mas há casos mais recentes. Ainda em Janeiro deste ano, um avião da British Airways estava quase a descolar do aeroporto de Gatwick (Londres) quando a polícia entrou e deteve o piloto por suspeita de embriaguez. Desta vez, foi a tripulação que alertou as autoridades para a possibilidade de o piloto do Boeing 777 com destino às Maurícias ter ingerido álcool em excesso.

Em 2017, a Newsweek lembra que um piloto conseguiu mesmo levantar voo e aterrar um avião com um nível de álcool no sangue três vezes superior ao limite legal nos EUA. O piloto e o resto da tripulação foram detidos na aterragem e ele foi condenado a 16 anos de prisão, segundo a edição online da revista.

Nos EUA, o limite de álcool no sangue para os pilotos é de 0,04%, metade do limite legal para conduzir. Mas os pilotos não têm que fazer testes de alcoolemia antes de entrarem nos aviões.

A Federal Aviation Administration garante que é raro apanhar pilotos embriagados. Em 2015, depois de testar 13.149 pilotos, este organismo regulador diz ter encontrado dez com excesso de álcool no sangue.

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