Os senhores da guerra

Se o nomeado para a CIA é o ideal para satisfazer a sede nacional-populista do Presidente, o homem que agora segreda ao ouvido do Presidente é perfeito para fomentar acções militares.

Já não há dúvidas sobre a estratégia: Donald Trump quer ir para a guerra. A nomeação de John Bolton para conselheiro de Segurança Nacional é a confirmação de que a ideia de um conflito militar agrada ao Presidente. Bolton quer bombardear o Irão, atacar a Coreia do Norte e esvaziar as Nações Unidas de competências e fundos.

Os “falcões” tradicionais da política externa gostam de usar a força, mas por regra recorrem a ela como um recurso para algo: para conseguir sentar à mesa de negociações um adversário, para ganhar poder negocial visando uma estratégia de longo prazo ou para assustar potenciais inimigos. Bolton não. Bolton quer apenas que a América ponha o mundo a arder — porque pode. O conceito de diplomacia sem bombas é algo que o novo conselheiro de Segurança Nacional desconhece e se mostra repetidamente incapaz de entender.

E é este homem que vai agora sentar-se numa Administração que está cercada e que cada vez tem menos margem de manobra. É cada vez mais expectável que, quando a situação apertar, Trump opte por iniciar um conflito que desvie as atenções do processo judicial. Agora tem na equipa o homem ideal para liderar esse processo: John Bolton. Se o nomeado para a CIA é o ideal para satisfazer a sede nacional-populista do Presidente, o homem que agora segreda ao ouvido do Presidente é perfeito para fomentar acções militares. Este movimento é o sinal do isolacionismo que vai colocar os EUA longe dos aliados e distante das instituições internacionais. Um conflito com o Irão ou a Coreia do Norte, os alvos preferenciais de Bolton, será uma desgraça para o planeta e irá isolar ainda mais os EUA. Mas é o cenário cada vez mais provável.

Como uma guerra com a China seria inviável, Trump tomou a única opção possível para atacar Pequim: lançou tarifas sobre a importação de alumínio e o aço, isentando todos os grandes produtores, excepto o gigante asiático; ao mesmo tempo colocou obstáculos ao investimento de empresas tecnológicas chinesas num montante que pode chegar a 50 mil milhões de dólares. A China poderá responder com a imposição de tarifas na agricultura e na indústria, garantindo como consequência um aumento do desemprego, que irá afectar o eleitorado tradicional de Trump. Esta permanente instabilidade é a modalidade preferida de uma Casa Branca que não gosta do mundo actual e que quer mudá-lo através do reforço do Estado-nação. Daí as guerras.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários