Não somos vítimas

Não vamos agora fingir que não sabíamos onde nos estávamos a meter. Podemos ser forretas e até otários, mas não somos inocentes – nem inteiramente estúpidos.

Brian Acton, um dos fundadores do WhatsApp, disse aos seguidores no Twitter que deveriam sair do Facebook. Em 2014 Acton e o sócio Jan Koum venderam o WhatsApp por 16 biliões de dólares. A quem? Ao Facebook. Ultimamente tem investido 50 milhões de dólares numa app de encriptação chamado Signal. O Signal é usado, entre outros clientes... pelo WhatsApp e pelo Facebook.

Acton é um bilionário que beneficiou e continua a beneficiar com o Facebook. Se agora diz que está a arranjar maneira de proteger as conversas particulares entre pessoas, estas palavras devem ser entendidas da mesma maneira que ouvimos Zuckerberg dizer que a ambição dele é pôr-nos todos a partilhar e a conversar uns com os outros.

Cuidado com todos os que aconselham a sair do Facebook para ir parar a uma empresa da concorrência. Andam todos ao mesmo. São como os partidos atrás dos nossos votos ou os bancos e as lojas e as organizações caritativas, boas ou más, atrás do nosso dinheiro. As empresas das redes sociais querem os nossos dados. São os nossos dados que elas vendem a quem nos quer vender coisas e pessoas: candeeiros e candidatos.

Nós usamos as redes sociais por forretice. Pensamos que estamos a receber serviços de comunicação de borla. Usamos o Gmail de graça, mas sabemos que a Google fica com o conteúdo de todos os mails que escrevemos e recebemos.

Não vamos agora fingir que não sabíamos onde nos estávamos a meter. Podemos ser forretas e até otários, mas não somos inocentes — nem inteiramente estúpidos.

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