Martins e Mortágua, as ministras virtuais

Não restam dúvidas da ambição do Bloco de Esquerda em ser Governo, mas faltam condições objetivas para que isso aconteça.

O Bloco de Esquerda está apostado em impedir a maioria absoluta do PS nas próximas eleições e, apesar das últimas sondagens não serem favoráveis aos bloquistas, estes ainda podem estragar as aspirações absolutistas de António Costa, retirando-lhe eleitorado e alimentando a hipótese de uma coligação entre ambos. Mas mantém-se a dúvida se realmente o Bloco de Esquerda se vai bater por dividir um Conselho de Ministros com o PS a partir de 2019 e qual a sua estratégia de ação.

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O Bloco de Esquerda está apostado em impedir a maioria absoluta do PS nas próximas eleições e, apesar das últimas sondagens não serem favoráveis aos bloquistas, estes ainda podem estragar as aspirações absolutistas de António Costa, retirando-lhe eleitorado e alimentando a hipótese de uma coligação entre ambos. Mas mantém-se a dúvida se realmente o Bloco de Esquerda se vai bater por dividir um Conselho de Ministros com o PS a partir de 2019 e qual a sua estratégia de ação.

Os bloquistas começaram a sua parceria com os socialistas perfilando-se como a “força mais forte do Governo de Portugal”, mas integrar um futuro Executivo implicaria para aqueles a concretização de duas premissas que, neste momento, são remotas: a primeira é aumentar a sua representatividade parlamentar porque sem um equilíbrio na relação de forças dos dois partidos, não lhes seria possível ter peso nas decisões; a segunda é a disponibilidade real do PS em enfrentar a Europa.

Ora para já, a perspetiva de alargar a sua influência junto do eleitorado é reduzida e António Costa também se afasta cada vez mais, por tacticismo político, de confrontos diretos com o status quo europeu. A própria agenda política há muito que não é influenciada por Catarina Martins e a intransigência na defesa das posições, com as quais se comprometeu perante o seu eleitorado, já conheceu melhores dias.

Estão, por isso, a diminuir drasticamente as probabilidades de se realizar o vaticínio de Francisco Louçã, de Mariana Mortágua um dia vir a ser ministra das Finanças, assim como o desejo confessado de Catarina Martins em ser titular da pasta do Trabalho, Emprego e Segurança Social. Não restam dúvidas da ambição do Bloco de Esquerda em ser Governo, mas faltam condições objetivas para que isso aconteça. As oscilações abruptas das intenções de voto neste partido, desde a sua criação em 1999 até hoje, demonstram a inconsistência da sua mensagem e da alternativa que pretenderam criar ao “socialismo real”, sendo hoje um partido onde o populismo e o discurso tribunício captam votos só em alturas de descrédito no arco da governação. O jogo político à esquerda está muito comprometido, mas ainda representa um perigo para o país, resta à direita perfilar-se já e tomar a dianteira enquanto é tempo.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico