Rio aposta nos acordos com PS para se credibilizar como candidato a primeiro-ministro

Direcção do PSD sabe que partido está desconfiado da aproximação aos socialistas, mas pensa que vai agradar ao eleitorado.

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Rui Rio e António Costa: aproximação estratégica? Nuno Ferreira Santos

O descontentamento interno, no PSD, não desmobiliza, mas o líder mantém-se apostado em construir uma imagem de candidato a primeiro-ministro, replicando o posicionamento da campanha eleitoral para as directas de Janeiro. E é nos acordos com o PS em matérias estruturantes que Rui Rio vai assentar essa imagem. A direcção nacional sabe que não é com essa arma que vai conquistar o partido, mas é por aí que pode atrair o eleitorado.

Assim que foi consagrado em congresso, Rui Rio não perdeu tempo e tomou a iniciativa para desencadear as conversações com o Governo sobre dois temas prioritários: a descentralização (a que Rio chama de municipalização por ser de âmbito mais restrito) e a programação dos fundos comunitários 2030. O partido tem desconfianças sobre a bondade do PS nestes processos e não as tem escondido. Mas Rui Rio está apostado nos benefícios que pode retirar desses acordos: são um pilar da imagem de candidato a chefe do Governo. Na direcção do PSD há quem lembre que foi quando Passos Coelho, em 2010, viabilizou medidas de austeridade do então Governo de José Sócrates que ganhou o estatuto de candidato a primeiro-ministro, mais do que ser apenas de líder da oposição.

O que Rio também sabe é que há momentos em que não pode ficar em silêncio. Ainda ontem, numa declaração sobre incêndios, na sede do PSD-Porto, o social-democrata disse: “Não critico o Governo por tudo e por nada (...), mas este é um ponto muito sério. Morreu muita gente”.

Os entendimentos com o PS estão programados para acontecer até ao Verão. É uma aproximação aos socialistas que, internamente, é olhada com alguma resistência sobretudo por causa da predisposição dos socialistas. Ainda esta semana houve quem notasse o apagamento do PSD na cimeira das áreas metropolitanas sobre a descentralização de competências, que teve a chancela do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do primeiro-ministro, António Costa.

A construção de uma imagem de líder credível passa também pela forma como é visto pelo exterior. É nesse prisma que também se enquadra a viagem desta semana de Rui Rio a Bruxelas, onde participou numa reunião do Partido Popular Europeu (PPE), teve um encontro privado com a chanceler Angela Merkel e se destacou por falar alemão correctamente.

Enquanto Rui Rio assumia comungar da mesma posição do que o Governo português sobre a negociação do próximo Orçamento comunitário, em Lisboa, Pedro Santana Lopes, o seu antigo adversário nas directas do PSD, pedia ao líder do partido para “inaugurar a liderança”, o que gerou equívocos de interpretação dessas declarações. Um sinal de que os sociais-democratas esperavam uma oposição mais musculada ao Governo.

Na direcção de Rui Rio, o entendimento é o de que há vantagem em manter as expectativas em baixo, embora alimentando a ideia de que as legislativas de 2019 são para ganhar. Essa foi, aliás, uma das linhas de força da mensagem deixada pelo novo secretário-geral indicado por Rui Rio, José Silvano, e também do vice-presidente Salvador Malheiro, depois de uma notícia do Expresso de há duas semanas que dava conta da intenção da direcção de menorizar as legislativas de 2019 e privilegiar as autárquicas de 2021.

O próprio Rui Rio quis contrariar essa ideia um dia depois da publicação da notícia ao sublinhar que, nas eleições de 2019, o importante é “uma vitória que possibilite alterar a forma como o país tem sido governado”. Para já, os sociais-democratas animam-se com as sondagens que, no pós-congresso, resultam numa subida do PSD. Resta saber se a tendência se mantém nos próximos meses. 

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