Cartas ao director

Assimetrias em contexto

 

O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior defende que existe uma concentração excessiva de estudantes em Lisboa e Porto, onde estão quase metade dos que estudam no ensino superior público. O argumento é ilustrado com o exemplo da Áustria, apontado como o segundo país com maior concentração de estudantes em apenas duas cidades, Viena e Innsbruck, com 31%, e da vizinha Espanha, com 27% em Madrid e Catalunha. Concluindo, assim, pela singularidade de Portugal e consequente necessidade de rectificação. Sem mais.

 

Mas olhemos para o panorama mais global da distribuição populacional nestes três países. As províncias de Viena e Tirol, onde se situa Innsbruck, representam 30% da população austríaca. Valor semelhante se obtém para o peso da Comunidade de Madrid e da Catalunha, em Espanha. Em Portugal, as Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto acolhem cerca de 44% da população; e se somarmos ainda uma parte dos residentes nos distritos de Leiria e Santarém, que não contam com universidades públicas, não estaremos longe, ou talvez até mesmo para lá, dos 50%. Em todos estes casos, a concentração de estudantes assemelha-se à da população em geral. Sim, deste ponto de vista Portugal será o mais bipolar, em sentido literal e até figurado. Mas não me parece que a redistribuição de 1100 vagas, o valor em causa, tenha qualquer impacto neste estado de coisas.

Miguel Conceição, Aveiro

 

Fique lá para sempre

“Bandarras nunca faltaram/ Manhãs de nevoeiro também não/Quem tem faltado até aqui é o D. Sebastião.” Li esta ironia em Mafra quando por lá fiz o meu C.O.M. (leia-se curso de oficiais milicianos). Estávamos em 1962. A ironia vinha num livro de Joaquim Namorado proibido antes do 25 de Abril. Se por lá andasse já a Blimunda de O Memorial do Convento que lia o futuro quando estava em jejum, ter-nos-ia informado que o Desejado só viria daí a 54 anos. Agora que ele anda por aí, por vontade expressa da maioria dos portugueses, a abraçar todos de Roma a Meca apetece-me fazer coro com aquela senhora velhinha que há tempos lhe pedia na televisão: fique lá para sempre que os outros são todos iguais.

Américo Ponces, Coimbra

 

Hipocrisia dos EUA

Os EUA venderam armas à Arábia Saudita no valor de 12.500 milhões de dólares. É sabido que a Arábia Saudita é uma monarquia absoluta feudal. Os seus cidadãos, especialmente as mulheres, estão despojados de quaisquer direitos. Naquele reino não há eleições, não há direitos humanos básicos, tais como a liberdade de expressão, o direito à educação igual para todos, etc.. Ao longo dos tempos os EUA apresentam-se com os maiores paladinos dos direitos humanos, e (...) num momento em que a Arábia Saudita massacra o povo Iemenita, com bombardeamentos diários, provocando a morte a muitos milhares e ao risco da morte de milhões pela fome, devido ao bloqueio alimentar, pergunto: qual a moral dos EUA para criticar outros países, só porque têm uma organização política e económica diferente? Em política, por vezes, a hipocrisia não tem limites.

Mário Pires Miguel, Reboleira

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