Helder Moutinho: “O destino é uma coisa que nós próprios traçamos”

Helder Moutinho revê o seu percurso nos fados em Escrito no Destino, que se estreia esta quinta-feira em Lisboa, no Teatro São Luiz. Em Maio estará no Porto, na Casa da Música.

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Helder Moutinho PAULIANA VALENTE PIMENTEL

O signo é o do destino, palavra indissociável do fado. Dois anos depois de lançar O Manual do Coração, disco muito aclamado pela crítica, o fadista Helder Moutinho preparou um espectáculo a que deu o nome de Escrito no Destino, que se estreia esta quinta-feira no Teatro de São Luiz, em Lisboa (às 21h) e estará no Porto a 9 de Maio, na Casa da Música (às 21h30).

O espectáculo está a ser promovido com uma alusão ao herói da BD Corto Maltese, que, por não ter nascido com a linha da vida, a traçou com uma faca na sua própria mão. Helder identifica-se, diz ele ao PÚBLICO, com essa imagem: “Acredito, tal como ele, que o destino é uma coisa que nós próprios traçamos. Com a nossa aprendizagem, o nosso crescimento e a nossa maturidade, criando estruturas para as oportunidades que vêm.” E acrescenta: “Eu sei que o que eu faço hoje é aquilo que eu pensei em fazer e que fui construindo ao longo destes anos, não foi uma coisa que me apareceu por acaso.”

Com cinco discos em nome próprio (Sete Fados e Alguns Cantos, 1999; Luz de Lisboa, 2004; Que fado é este que trago?, 2008; 1987,  2013; e O Manual do Coração, 2016), Helder aplicou esse conceito ao espectáculo: “É uma retrospectiva do que tenho vindo a fazer desde que comecei a cantar. Quis-me lembrar do que fazia, e ainda faço, quando estou na casa de fados.” E se os dois últimos discos se baseavam em conceitos (1987 foi o ano em que ele atingiu a maioridade; e o Manual assemelhava-se a um filme), o que ele leva agora a palco será uma espécie de reverso do que habitualmente faz, em disco ou ao vivo: “Gosto de fazer espectáculos conceptuais. E achei que não deixava de ser conceptual fazer uma coisa não-conceptual. Por isso decidi fazer uma coisa o mais simples possível, espontânea, pensando num repertório mais em termos musicais do que em termos poéticos e vou ver o que vai acontecer: o conceito do espectáculo é esse.” E há outra razão, que ele invoca: “Para o ano faço 50 anos de idade e já que estou a chegar a meio século porque não aproveitar agora para reflectir sobre isso tudo?”

Novo disco em 2019, 2020

Enquanto reflecte, Helder já vai pensando num novo disco, mas está “muito no início.” João Monge talvez veja ser autor único, como em O Manual do Coração, “com um ou outro convidado”, e vários compositores. “Estamos a pensar, em termos musicais, para que lado vamos. Se vamos pegar nalguns tradicionais, se vamos fazer uma mistura entre tradicionais e músicas novas, não deixando de trabalhar com alguns compositores com que trabalhámos no disco anterior, temos ali coisas muito bonitas, grandes surpresas. Mas faz sentido não esquecer os tradicionais, porque essa é também a minha praia.” Data de publicação? 2019 ou mesmo 2020.

No São Luiz ouvir-se-ão 22 ou 23 fados. “A maior parte é realmente dos últimos dois discos. Dos anteriores tenho Vielas de Alfama, Fado Bailado, O que sobrou da Mouraria. E tenho o Esmeraldinha, o Fado Isabel, são cinco ou seis fados, no máximo.”

Com Helder Moutinho (voz), estarão em palco Ricardo Parreira (guitarra portuguesa), André Ramos (viola de fado) e Ciro Bertini (baixo). Depois de Lisboa, segue logo no dia 23 para Bruges. E haverá mais palcos: Porto, Entroncamento, Évora, Sintra, Vila do Conde. “Este espectáculo vai criar uma certa dinâmica, vai crescer. Começa no São Luiz como um espectáculo puro e duro, muito simples em termos de cenários, mas durante os próximos concertos não sabemos o que poderá vir a acontecer. Eu não gosto muito de fazer coisas que paradas, fixas. Daqui a um ano, este espectáculo pode vir a repetir-se aqui, com o mesmo nome, mas diferente. Como o próprio fado em si.”

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