Movimento está contra “Alqueva do Ribatejo” e critica Marcelo

Projecto de 30 anos prevê investimentos globais de 4, 5 mil milhões de euros, que envolvem a construção de seis açudes entre Vila Franca de Xira e Abrantes e a construção de quatro barragens nos distritos de Castelo Branco, Portalegre e Évora.

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Ricardo Lopes

O movimento cívico proTEJO manifestou-se, nesta terça-feira, contra o projecto conhecido por “Alqueva do Ribatejo”, que deverá ser nesta quarta-feira apresentado ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Em comunicado, o movimento que representa organizações ambientalistas, autarquias e outras entidades da bacia do Tejo, critica, também, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentando que “esteja de portas abertas para um projecto que surge de forma tão pouco transparente, aceitando receber numa reunião o anúncio de um conjunto de infra-estruturas com impactes ecológicos negativos para o rio Tejo”. O proTEJO lamenta, igualmente, que o Presidente da República “não tenha tido a mesma disponibilidade para se deslocar em apoio da defesa do Tejo quando dos episódios de poluição extrema que se verificaram no mês de Janeiro deste ano causado pela indústria das celuloses”.

O chamado “Alqueva do Tejo” é um estudo desenvolvido por um grupo de especialistas liderado por Jorge Froes, engenheiro que esteve ligado aos projecto de regadio do Alqueva. Encomendado pela empresa agrícola Lagoalva, com sede em Alpiarça, foi apresentado em Fevereiro. Visa minimizar os problemas de falta de água na bacia do Tejo, criar condições para desenvolver mais áreas de regadio e recuperar as condições de navegabilidade no maior rio ibérico. Num horizonte temporal alargado de 30 anos prevê investimentos globais de 4, 5 mil milhões de euros, que envolvem a construção de seis açudes entre Vila Franca de Xira e Abrantes e a construção de quatro barragens nos distritos de Castelo Branco, Portalegre e Évora.

De acordo com os seus autores, uma vez concretizado, este projecto permitiria armazenar 2130 milhões de metros cúbicos de água e irrigar 300 mil hectares de terras ribatejanas, mas também da zona oeste até Alcobaça. Permitiria, igualmente, navegar pelo Tejo até Abrantes.

O proTejo mostra-se preocupado com estes estudos, considerando que a sua “racionalidade económica é desconhecida” e que, se vierem a avançar, “os problemas estruturais do Tejo avolumar-se-ão num momento em que a sua resolução deveria ser a prioridade”.

“A construção de barreiras, como açudes e barragens, promove a alteração da dinâmica sedimentar – as areias não recarregam a nossa linha de costa; agrava problemas de poluição da água; e ainda dificulta a migração de peixes. Todos estes problemas existem actualmente e têm sido noticiados, mas serão agravados com a construção dos novos açudes de Vila Franca de Xira até Abrantes, formando sete novos charcos de água que representarão um rio Tejo morto que deixou de ser um rio livre e com dinâmica fluvial”, alerta o movimento cívico.

O projecto em causa, “parece não seguir os passos expectáveis. A informação sobre as suas características não está disponível ao público, nem existe um processo de avaliação de impactes ambientais junto da Agência Portuguesa do Ambiente. Não está anunciado qualquer procedimento de discussão pública, nem justificadas – qualitativa e quantitativamente – as razões que justificam esta obra. Também não existe justificação para as populações do Tejo continuarem a ser ignoradas, sem acesso à informação e estarem no cerne de decisões políticas que se pautam pela falta de transparência”, conclui o proTEJO.

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