Parlamento britânico quer ouvir Zuckerberg sobre fuga de dados

Aperta-se mais o cerco à rede social. A Comissão Federal de Comércio dos EUA abre investigação e o Parlamento Europeu quer explicações. Fundador do Facebook em silêncio, presidente da Cambridge Analytica suspenso.

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Mark Zuckerberg não consegue ver-se livre de polémicas Reuters/STEPHEN LAM
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Alexander Nix foi suspenso Reuters/HENRY NICHOLLS
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Christopher Wylie, ex-funcionário da Cambridge Analytica e fonte das informações agora divulgadas Reuters/HENRY NICHOLLS
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LUSA/FACEBOOK / HANDOUT

O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, foi chamado nesta terça-feira a depor no Parlamento do Reino Unido. Em causa está o uso de dados dos utilizadores do Facebook para influenciar a campanha do referendo britânico sobre a permanência na União Euripeia, em 2016, e a campanha eleitoral nos Estados Unidos, em que Donald Trump fo eleito. O Parlamento Europeu também já confirmou a abertura de uma investigação ao caso, e a Comissão Federal para o Comércio dos EUA está a averiguar se o Facebook permitiu conscientemente o uso ilegal de informação pessoal.

As acusações de que a empresa britânica Cambridge Analytica usou o Facebook para recolher dados de cerca de 50 milhões de utilizadores, sem estes saberem, alastraram-se ao longo do fim-de-semana, mas o fundador da rede social mantinha, até à noite, o silêncio.

Já o presidente executivo da Cambridge Analytica, Alexander Nix, foi suspenso e surgiu o anúncio de que vai haver uma investigação interna para se saber o que se passou.

“Chegou o momento de ouvir um alto executivo do Facebook, alguém com autoridade suficiente para fornecer dados correctos sobre esta falha catastrófica”, escreveu o deputado conservador Damian Collins, presidente da Comissão de Cultura e Media da Câmara dos Comuns que dirige uma investigação sobre notícias falsas, numa carta enviada a Zuckerberg a formalizar o pedido.

No Parlamento Europeu, o presidente, Antonio Tajani, também convidou Zuckerberg a prestar esclarecimentos. “Convidámos Mark Zuckerberg para vir ao Parlamento dar explicações aos representantes de 500 milhões de europeus cujos dados pessoais não podem ser usados para manipular a democracia”, escreveu Tajani no Twitter.

Os congressistas americanos estão também desde sábado a pedir para Mark Zuckerberg depor numa comissão, o que, a acontecer, será a segunda vez em menos de um ano: o fundador do Facebook entregou ali em Outubro os cerca de três mil anúncios falsos com origem na Rússia, difundidos na rede social.

A gravidade das acusações e as investigações levaram a empresa a marcar para a tarde desta terça-feira uma reunião com os funcionários que foi dirigida por Paul Grewal, o vice-presidente do Facebook.

A atenção dada ao papel da rede social intensificara-se na noite de segunda-feira com a notícia de que Alex Stamos, o presidente da secção de segurança informática do Facebook, vai deixar o cargo em Agosto. Em causa estão desentendimentos com o empregador sobre a forma como o Facebook difunde informação falsa online.

O cerco à empresa fundada por Zuckerberg começara a apertar-se de manhã, quando a comissária do Reino Unido para a informação, Elizabeth Denham, pediu a um tribunal um mandado de busca para proceder a investigações nos escritórios e nos servidores da Cambridge Analytica, a empresa com sede em Londres que recolheu os dados usados.

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Vera Jourova, a comissária europeia da Justiça, frisou no Twitter que é “necessário uma acção a nível europeu” e quer reunir-se com a empresa Facebook e com o Governo americano para discutir o problema recorrente da ligação da rede social à política.

A Comissão para a Protecção de Dados da Irlanda (CPD), que regulamenta o Facebook na Europa, também anunciou que vai “seguir os passos” anunciados pelos EUA para garantir o controlo de utilização de dados por parte das empresas que criam aplicações.

Grande parte da informação usada pela Cambridge Analytica foi adquirida a partir de informação de amigos dos utilizadores que usaram uma aplicação de testes de personalidade desenvolvida em 2014, ou seja, muitos dos dados vieram de pessoas que nunca usaram a aplicação. É algo que o Facebook permite nas definições base sobre as aplicações, onde se lê “As pessoas que podem ver a tua informação também podem levá-la consigo quando utilizam aplicações” (altera-se isto ao aceder a definições > aplicações que outros utilizam).

Em declarações ao New York Times para um dos artigos que espoletou a controvérsia, a rede social justificou-se ao dizer que a aplicação de personalidade que recolheu os dados fazia parte de um estudo da Universidade de Cambridge realizado por Aleksandr Kogan. Em declarações ao PÚBLICO, Craig Brierley, um porta-voz da universidade, confirma que Kogan criou a aplicação inicial para a universidade, mas que a instituição não tem qualquer relação com a empresa à qual Kogan vendeu a informação. “Quando a aplicação foi reformulada para ser usada pela GSR [empresa de recolha de dados], foi lançada com uma nova marca e novos termos e condições”, escreve Brierley.

Independentemente do conhecimento da rede social — que diz que a informação dos utilizadores da aplicação foi destruída em 2015 —, foram as definições de privacidade base do Facebook que perpetuaram o incidente. Com Inês Chaíça

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