Património ferroviário em destaque no debate sobre modernização da linha do Oeste

O receio de que a modernização da linha do Oeste destrua o património ferroviário foi um dos temas em destaque no debate organizado pela câmara de Torres Vedras

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rui Gaudencio

Num debate sobre o Estudo de Impacte Ambiental do projecto de modernização da linha do Oeste, que decorreu na segunda-feira em Torres Vedras, as maiores preocupações do público tiveram a ver com a preservação do património ferroviário e com as passagens de nível.

O debate foi organizado pelo executivo camarário, mas estranhamente o projecto foi apresentado pelo presidente da Câmara, Carlos Bernandes e pelo vereador, Hugo Lucas, pois não esteve presente nenhum representante da Infra-estruturas de Portugal.

O receio de que as obras de electrificação e modernização desta via férrea destruam parte do património edificado é justificado tendo em conta o histórico da Refer (hoje IP) nesta matéria, que tem demonstrado uma grande insensibilidade na hora de colocar postes e catenária, altear plataformas e construir edifícios técnicos. As velhas estações, cais de mercadorias, depósitos de água e pequenos edifícios de apoio, são por vezes destruídos, descaracterizados ou desfigurados por abordagens demasiado funcionais que não têm em conta o património e a sua arquitectura e azulejaria.

No caso da linha do Oeste, por ser uma das últimas do país a ter um projecto de modernização, as suas estações conservam ainda características quase seculares e são por vezes procuradas para nelas se realizarem produções cinematográficas dado o seu estado de pureza original. No seu conjunto constituem uma rota com elevado valor histórico-patrimonial.

Carlos Bernardes disse que confiava nas boas intenções da Infra-estruturas de Portugal no que diz respeito ao património, mas prometeu que iria estar atento ao projecto.

Outra das preocupações – manifestada sobretudo por presidentes de juntas de freguesia atravessadas pela via férrea – tem a ver com a manutenção de algumas passagens de nível que, apesar de virem a ser automatizadas, os autarcas de base receiam que venham a constituir um perigo. Mas, por outro lado, os viadutos previstos para substituir algumas das passagens de nível que vão ser suprimidas, são considerados excessivos, com impacto visual negativo e com acessos que poderão criar problemas no trânsito. É o caso, disseram, das passagens desniveladas a construir em Runa, Dois Portos e Outeiro da Cabeça.

A linha do Oeste tem um projecto de modernização, no valor de 107 milhões de euros, para ser electrificada entre Meleças e Caldas da Rainha. A Câmara de Torres Vedras foi a primeira a avançar para um debate.

O documento em estudo diz que o tempo de percurso em comboio entre Torres e Lisboa deverá reduzir-se dos actuais 100 minutos para 50 minutos. Mas o documento compara o incomparável porque actualmente esse trajecto é feito com comboios que parám em todas estações e apeadeiros e no futuro prevê-se uma lei de paragens mais restrita. Por outro lado, em 1986 havia comboios que faziam esse viagem em apenas 68 minutos o que faz com que a redução do tempo de percurso para 50 minutos saiba a pouco.

No entanto, é possível que após a modernização (que contempla também a duplicação de 10 quilómetros entre Meleças e Pedra Furada e de seis quilómetros entre Malveira e Sapataria) o tempo de viagem seja ainda mais curto porque a IP fez as simulações com base nas especificações de comboios eléctricos antigos e não com as composições mais performantes do século XXI.

De resto, e tal como referido por um representante da Comissão de Defesa da Linha do Oeste, a CP nunca foi ouvida pela IP na elaboração do projecto para a modernização deste corredor ferroviário. Uma informação que já tinha sido confirmada ao PÚBLICO por fonte oficial da transportadora: “não existe registo de a CP ter sido abordada sobre horários na Linha do Oeste após intervenção da Infra-estruturas de Portugal nessa linha no âmbito deste Estudo de Impacte Ambiental”.

 

 

 

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