Wendel: do castigo no Fluminense à estreia pelo Sporting

O médio brasileiro jogou os primeiros minutos com a camisola “leonina” anteontem, frente ao Rio Ave. No Brasil teve uma ascensão meteórica. Em Portugal está a ter um arranque cauteloso

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Wendel quando era um ídolo no Fluminense Daniel Tapia/Reuters

Comemorava-se o Dia da Criança no Brasil, a 12 de Outubro de 2017. A data é simbólica, sendo costume oferecer presentes às crianças que se comportaram bem. Nesse mesmo dia jogava-se um “Fla-Flu”, no Maracanã. Mas, para Wendel, médio que custou cerca de oito milhões de euros aos cofres do Sporting no início de Janeiro e se estreou com a camisola dos “leões” no último domingo, estava reservado um castigo. O jogador de 20 anos falhou um dos embates mais importantes do campeonato brasileiro por causa dos seus actos de indisciplina no Fluminense, que esgotaram a paciência do treinador Abel Braga.

Wendel não tinha ainda completado um ano na equipa principal do Fluminense quando os seus frequentes atrasos para os treinos foram revelados pelo próprio Abel Braga, numa conferência de imprensa no Maracanã. "Ou se enquadra ou não serve para a gente", disse o técnico, acrescentando: "A questão é de comportamento. Chega atrasado todos os dias. Fui eu que o coloquei para jogar. E fui eu que o tirei da equipa", contou Abel no fim daquele Flamengo-Fluminense.

A revelação do técnico, à frente das câmaras de televisão, foi surpreendente, porque o treinador tem fama de ser um "paizão" para os seus jogadores. Mas serviu para lapidar a jóia que renderia milhões de euros ao Fluminense alguns dias depois.

Os motivos para os actos de indisciplina de Wendel são explicados por uma ascensão meteórica, que por pouco não acabou numa queda espectacular, não fossem os conselhos de Abel. Há pouco mais de um ano, Wendel ainda estava entre os juniores que disputavam a Copa São Paulo. Em menos de um mês, chegou ao plantel principal. Tinha um salário de 4 mil reais (cerca de mil euros) e passou a ganhar 70 mil (perto de 17 mil euros). Em Maio, viu o seu contrato ser renovado até 2020. Mas, em Agosto, já surgiam rumores de que poderia haver a possibilidade de jogar com Neymar no PSG, surgindo depois também os nomes do FC Porto, do Sporting… Foi tudo muito rápido para Wendel, um menino pobre nascido no violento município de Duque de Caxias, distante dos pontos turísticos do Rio de Janeiro.

Ao castigar o futebolista, Abel, que em Portugal trabalhou no Rio Ave, Famalicão, Belenenses e Vitória de Setúbal, deixou bem claro que para ganhar o seu espaço no futebol europeu Wendel deveria ser mais responsável e profissional. Jorge Jesus demorou tempo a apostar no brasileiro – foram, concretamente, 71 dias, desde a data do anúncio da sua contratação até ao momento em que se estreou com a camisola verde-e-branca.

“[Wendel] É um jovem com 20 anos que está a adaptar-se à realidade, diferente em Portugal. Pouco a pouco tem vindo a melhorar. Hoje [domingo] demos-lhe uma oportunidade, demos a conhecer o Wendel. Acreditamos muito no trabalho e talento dele, está mais integrado com os processos da equipa, na forma de pensar, com o estatuto do Sporting…”, analisou Jorge Jesus no final da partida entre os “leões” e o Rio Ave, domingo, e na qual Wendel entrou ao minuto… 89.

Já o médio manifestou a sua satisfação pelos primeiros minutos ao serviço do Sporting: "Estou muito feliz pela estreia, e obrigado a todos os adeptos do Sporting pelo carinho", escreveu na rede social Twitter. Isto depois do seu empresário, Cláudio Moisés dos Santos, ter manifestado publicamente o descontentamento com a pouca utilização do atleta. “Se fosse só para treinar ele ficava no Brasil. O Wendel sabe que está num clube grande, respeita as decisões, mas estamos falando de um grande investimento que não está sendo aproveitado”, declarou o agente do futebolista há cerca de um mês.

Apesar do episódio de indisciplina que viveu no Fluminense, Wendel sempre foi muito querido pelos adeptos do “Flu”, que viam no relvado do Maracanã um médio disciplinado tacticamente e aplicado nas tarefas defensivas, que sabe jogar de cabeça levantada e é habilidoso com a bola nos pés, tendo marcado sete golos em 56 jogos. 

Criado nas divisões inferiores do “tricolor”, em Xerém, um moderno centro de treinos dos "cariocas", Wendel desenvolveu muito cedo o amor pelo Fluminense. Chegou a jogar sem as condições físicas ideais para ajudar a equipa quando ela corria o risco de ser despromovida. Em Alvalade, os adeptos do Sporting esperam o mesmo empenho. Basta não se atrasar para os treinos.

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