Um problema chamado bancada parlamentar

Deputados têm dado sinais de descontentamento face à liderança de Rio

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Fernando Negrão, Salvador Malheiro e Rui Rio, no congresso de há um mês Paulo Pimenta

Com uma maioria de apoiantes de Santana Lopes (que vieram do passismo) na campanha interna para a liderança do PSD, a bancada parlamentar do partido tem sido a expressão mais viva do descontentamento sentido no congresso face às escolhas de Rui Rio. Deu apenas à lista liderada por Fernando Negrão para líder parlamentar um mínimo de votos de subsistência – 39% - e não se tem calado nas críticas ao novo líder do PSD. Já ninguém nega que a bancada é uma das maiores dores de cabeça do novo líder do PSD.

Mesmo antes do congresso, já se adivinhava que bancada parlamentar não seria muito colaborante com Rui Rio. Para começar, os deputados eram, na sua maioria, apoiantes de Passos Coelho (e escolhidos com o aval da sua direcção para as listas em 2015) que era visto como um provável adversário de Rui Rio nas directas deste ano. Mas Passos saiu de cena, Rio confirmou-se como candidato e acabou por ser Santana Lopes a conquistar boa parte da bancada (em muitos casos com telefonemas pessoais, ao contrário do que fez o ex-autarca do Porto).

Por outro lado, nas filas da bancada social-democrata sentam-se o ex-líder parlamentar Luís Montenegro, visto como um futuro (não muito distante) candidato à liderança do PSD, assim como Hugo Soares, seu sucessor na bancada. Hugo Soares, eleito apenas há oito meses, acabou por ser dispensado por Rui Rio, que disse preferir uma nova direcção, num processo que foi mal recebido pelos deputados.

Depois do congresso, o problema agravou-se: muitos dos descontentes com as escolhas de Rui Rio para os lugares no partido são deputados e fizeram sentir a sua insatisfação no momento da eleição de Fernando Negrão para líder parlamentar. Fora do Parlamento, vozes mais ou menos anónimas do PSD de Rio fizeram-se ouvir: quem não está bem que saia da Assembleia da República. A sugestão gerou mais uma onda de turbulência – que é visível desde a eleição de Rio em Janeiro passado – no grupo parlamentar. O mandato dos deputados é do povo, não do líder do partido, contra-atacaram alguns dos visados.

Fernando Negrão começou a primeira reunião com os deputados a pedir desculpa por excessos de linguagem. Mas isso não chegou. Rui Rio – que não é deputado – participou na segunda reunião da bancada e ouviu fortes críticas de deputados como Luís Montenegro, Carlos Abreu Amorim e Teresa Morais. Ouviu, mas não as admitiu como tal. Desvalorizou, dizendo que são “três ou quatro” vozes dissonantes que já estão alinhadas “daqui por 15 dias”.

Com o caso das dúvidas em torno do currículo de Feliciano Barreiras Duarte, secretário-geral do partido, o mal-estar avolumou-se na bancada social-democrata já que o deputado é também presidente da comissão parlamentar de Segurança Social.

Nem só a bancada dá dores de cabeça a Rui Rio. Logo no congresso, a escolha de Elina Fraga, ex-bastonária da Ordem dos Advogados, para vice-presidente foi vaiada. A estreia de Rui Rio em conferência de imprensa após a primeira reunião da comissão política nacional foi marcada por perguntas sobre Elina Fraga. Nesse mesmo dia, o púlpito do PSD na sala de conferências de imprensa da sede nacional foi cedido à própria ex-bastonária para dar explicações sobre a investigação à sua gestão na Ordem, o que resultou numa imagem que muitos sociais-democratas não gostaram de ver na televisão.

Ainda antes do congresso e da escolha para vice-presidente já era noticiado a abertura de um inquérito ao seu então director de campanha Salvador Malheiro, enquanto presidente da Câmara de Ovar, por causa de adjudicações de relvados sintéticos.

Logo na primeira conferência de imprensa, e já com dois inquéritos no Ministério Público abertos a dois dos seus "vices", Rui Rio deixou o aviso de que esperava “mais histórias” e que funcionava melhor “em tensão”. Surgiram, entretanto, as dúvidas em torno do currículo académico de Feliciano Barreiras Duarte, que o líder do PSD só comentou, no passado domingo, ainda antes de ser conhecida a abertura de um inquérito pelo Ministério Público. Depois manteve-se em silêncio. Até quando?

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