O provincianismo

O provincianismo é a noção (e a vaidade) desse equilíbrio sadio e moderno entre o que é provinciano e o que é cosmopolita.

O provincianismo é a doença em que se confunde o lugar onde se vive com o centro do mundo. O provincianismo é achar que o mundo tem um centro. O provincianismo é pensar que este centro pode ser visitado. O provincianismo é pensar que basta passar lá uma vez por ano para se estar a par das coisas importantes que se passam por lá.

É fácil detectar o provincianismo porque esforça-se sempre muito para se dissociar daqueles que considera provincianos. O terror de ser provinciano define o provincianismo. O provincianismo é uma maneira de saber subir por um escadote em que o degrau anterior é visto, com alívio, como provinciano e o próximo é visto, salvificamente, como cosmopolita. O degrau onde se está é sempre angustiantemente incerto: é ao mesmo tempo um ponto de fuga e um trampolim.

O provincianismo não aceita a oposição do cosmopolitismo. Acha que se podem conjugar e que basta saber julgar as medidas certas de um e de outro para obter um desejável equilíbrio. Durante a consoada em Cinfães, quando está em família, o provinciano admite corajosamente que é provinciano. Mas mal começam a falar de política internacional assume-se como cosmopolita porque "não estamos propriamente a falar do sino da nossa igreja".

Da mesma maneira acha que se pode ser excessivamente cosmopolita: abstracto e desenraizado, sem eira nem beira, uma versão Monocle do judeu errante.

O provincianismo é a noção (e a vaidade) desse equilíbrio sadio e moderno entre o que é provinciano e o que é cosmopolita.

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