Há um novo colectivo no Porto para abanar a fotografia

Juntaram-se para marcar a agenda da fotografia e de vídeo no Grande Porto. Chamam-se Fórum Fotografia/Filme Porto porque querem abrir a discussão — estas nove estruturas formam agora um colectivo

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Fernando Veludo/nFactos

E se em vez de sobreviverem sozinhas, as estruturas no Grande Porto com fotografia e filme no seu ADN pudessem funcionar em simbiose? Colaboravam, optimizavam recursos, proporcionavam actividades abertas à cidade, expandiam a discussão — e, em simultâneo, mantinham-se células com perfis singulares e curadoria própria.

É essa a proposta do Fórum Fotografia/Filme Porto, um colectivo de nove entidades e galerias apresentado ao público esta sexta-feira no salão de bilhares do Café Ceuta. “Chamamos-lhe fórum para enfatizar a ideia de abertura e debate”, explica ao P3 Manuela Matos Monteiro, fundadora e directora do Espaço Mira e do Mira Fórum, em Campanhã.

Foi esse projecto cultural que começou a tecer a rede que a partir de agora liga as galerias Adorna Corações e Oppia, a plataforma Archivo Studio, o espaço Espiga, o Instituto de Produção Cultural e Imagem (IPCI), o Festival Internacional de Fotografia de Avintes (iNstantes), a associação cultural Manifesto e a loja de equipamento fotográfico Máquinas de Outros Tempos. A ideia já estava semeada “há muito tempo”, mantinham “contactos regulares” e estava na altura de pensarem “maior”. O que, para Manuela Matos Monteiro, significa “pensar com mais gente”.

Para já está definida a criação do mês da fotografia no Grande Porto. Começará a 17 de Novembro, altura em que todos os espaços terão inaugurações simultâneas e “vai decorrer até à altura do Natal”. Mas antes já estão a ser pensadas outras actividades como oficinas, passeios fotográficos, conferências com oradores internacionais, debates, tertúlias ou conversas com fotógrafos.

Todos diferentes, pelo mesmo Fórum

O primeiro passo, explica Manuela Matos Monteiro, é que cada uma das estruturas envolvidas, dispersas pelo Porto, Matosinhos e Vila Nova de Gaia, dê a conhecer o trabalho das outras e, assim, “cruze públicos”. Ter uma “curadoria comum” nunca esteve em cima da mesa até porque a escolha deste núcleo “resulta porque todos têm características muito particulares”.

Basta olhar para a lista de intervenientes. Estefânia R. de Almeida gere a Adorna Corações, um espaço misto de fotografia e joalharia contemporânea, no Centro Comercial Miguel Bombarda. Ana Catarina Pinho fundou a Archivo Studio, uma plataforma que, até 2020, está focada na investigação da fotografia, arquivo e documentário. Inês Viseu e Hugo Moura têm em mãos um “projecto volátil”, o Espiga, que assenta numa galeria-café por onde passam concertos, exposições, workshops e histórias de viagens.

Há ainda uma escola de fotografia, produção cultural e cinema documental (o IPCI), uma casa que revisita o passado da fotografia e do cinema (a Oporto Picture Academy, ou Oppia), um festival de fotografia, em cena em Avintes desde 2014, e o Manifesto, em Matosinhos, um quiosque de publicações independentes focado na reportagem, design, narrativa lenta e viagem. Acresce ainda a loja Máquina de Outros Tempos, que Pedro Viterbo fundou em 2011 com o objectivo de “trazer o bichinho de fotografar de volta ao cidadão”, e o próprio Mira.

Na agenda que agora partilham está o desenvolvimento de acções junto da comunidade, mas isso “vai depender dos apoios” que o grupo ainda não tem. O plano é solidificarem a parceria e, aí sim, irem à procura deles, nomeadamente na Câmara Municipal do Porto. “Não queremos estar fechados no grupo dos fotógrafos profissionais e amadores”, diz. “Um dos objectivos é encontrar o lugar da fotografia e do vídeo na sociedade, fora do contexto da produção e exposição artística.”

E não é preciso procurar muito: “Cada vez há mais pessoas a gostar de fotografar”, defende Manuela. “Estas expressões estão agora mais popularizadas e democratizadas” e já não se faz “a selecção natural pela capacidade económica de comprar uma máquina”.

Todo o Fórum (mais uma vez a razão do nome) “vai querer ouvir as pessoas”, privilegiar a “reflexão e a discussão” e “diversificar os olhares”. “É bom para todos juntarmo-nos. Estamos no meio de forma colaborativa, não competitiva”, atira Manuela Matos Monteiro. E isso, numa palavra, é “inspirador”.

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