Um breve olhar sobre a Aliança das Civilizações

A União Europeia poderá ter um papel importante a cumprir nesta caminhada da Aliança das Civilizações aumentando a sua cooperação com os países árabes e muçulmanos.

Mediante proposta do Governo de Espanha e da Turquia, apresentada em 2004 no Debate Geral da 59.ª Assembleia Geral da ONU, as Nações Unidas criaram em 2005 a Aliança das Civilizações com o objectivo de combater as crescentes divisões no seio das comunidades, com um paradigma de respeito mútuo entre os povos, com tradições culturais e religiosas diferentes e a realização de acções conjuntas com este objectivo. O seu lançamento ocorreu com a criação do chamado Grupo de Alto Nivel, composto por 12 personalidades, com o objectivo de examinar a melhor forma de se concretizar essa Aliança. Em Abril de 2007, Jorge Sampaio é designado Alto Representante para a Aliança de Civilizações. Originariamente, a Aliança foi concebida para aprofundar os laços entre o Ocidente e o mundo muçulmano, mas, com com a adoção da iniciativa pela ONU, passou a adquirir um escopo mundial.

No 1.º Forum, realizado em Madrid, em 2008, foi recomendado aos Estados a elaboração de planos de acção nacionais. Periodicamente, têm sido realizados fóruns, nos quais se têm discutido as melhores formas de conseguir os objectivos da Aliança.

Não restam dúvidas que entramos num tempo em que as diferentes civilizações terão de aprender a viver lado a lado, em reciprocidade pacífica, aprendendo umas com as outras, estudando a história uma das outras, para melhor compreensão mútua e uma sã convivência.

A adesão de mais de uma centena de Estados e de organizações internacionais à Aliança demonstra que há consciência e a intenção de encontrar meios para que as culturas se entendam e tenham um melhor conhecimento mútuo. Mas o diálogo tem as suas exigências, já que para existir tem de funcionar nos dois sentidos e é incompatível com a violência, com a intolerância, com o fanatismo e com radicalismo, precisando de mútua compreensão para nascer e para crescer.

A Aliança tem juntado líderes políticos, grupos de jovens, fundações, centros de investigação e jornalistas, bem como o secretário-geral da ONU e chefes de Estado de vários países. Os temas debatidos passaram pela migração, juventude, educação e meios de comunicação social.

Pretende-se que em vez do “choque de civilizações”, a Aliança se torne numa iniciativa importante para a melhor compreensão entre culturas e povos. Daí que iniciativas semelhantes à Aliança das Civilizações tomem lugar de reconhecida importância e actualidade na agenda mundial, com interesse e proveitoso resultado. É de sublinhar a oportunidade, a importância e a urgência de se reaprender a conviver numa harmonia com as diferenças, como hoje se impõe.

É de salientar ainda o contributo das religiões para a paz e nessa perspectiva seria importante criar nas escolas públicas uma disciplina de história comparada das religiões, contributo importante para que o multiculturalismo possa avançar como necessário, uma vez que existe muitas pessoas que ignoram as religiões dos outros. Daí a importância da colaboração entre os crentes das várias religiões e não crentes para resolver as várias questões públicas alvo da contestação religiosa. São conhecidas as limitações da liberdade religiosa em alguns países islâmicos, onde se encontra difilcultado o culto das minorias cristãs, enquanto nos países da UE existe total liberdade de religião e de culto.

Uma atitude de mútua abertura e confiança das culturas deverá corresponder de nós o máximo de capacidade, enquanto seres humanos na procura da verdade e dos valores humanistas do segundo milénio, uma vez que uma cultura só se pode compreender pela experiência de vida, no “confronto” entre o passado, o presente e o futuro. E nunca é demais repetir que tal “confronto” poderá ser equacionado do seguinte modo: procurar convergências, respeitar diferenças e atenuar divergências. De tal modo que a universalidade faça da tolerância um dever.

O Papa Francisco, em 2003, por ocasião o fim do Ramadão (8 e 9 de agosto), escreveu uma carta às comunidades muçulmanas espalhas pelo mundo, onde destacava a importância da criação de um ambiente de “respeito mútuo entre cristãos e muçulmanos” que implique “a realização do Outro, os seus ensinamentos, símbolos e valores, e em particular, os lugares de culto”, lamentando a “dor que tem causado os ataques entre as duas partes”. O Papa termina a carta desafiando cristãos e muçulmanos a serem exemplos de diálogo e cooperação e garantindo ao mesmo tempo a sua oração “para todo o povo islâmico”. 

Do teor da carta resulta que o Papa Francisco pretende seguir e aprofundar o caminho aberto pelos anteriores Papas, João Paulo II e Bento XVI que, entre outras iniciativas, reuniram com representantes de diferentes confissões com o objectivo principal de mostrar ao mundo que as religiões não podem ser sistematicamente factores de guerra, podendo contribuir decididamente para paz.

A União Europeia poderá ter um papel importante a cumprir nesta caminhada da Aliança das Civilizações aumentando a sua cooperação com os países árabes e muçulmanos, obtendo deles predisposição para o diálogo intercultural, tendo como lema: aproximar culturas para construir a paz.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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