Johnson acusa Putin de ter ordenado assassínio de ex-espião. Kremlin diz-se “chocado”

Kremlin considera as declarações de Johnson “chocantes e uma indesculpável violação das regras e do correcto comportamento diplomático”.

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LUSA/NEIL HALL

O conflito diplomático aberto com a tentativa de envenenamento de um antigo espião russo que vivia no Reino Unido está cada vez mais grave. Esta sexta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, acusou o Presidente russo, Vladimir Putin, de ter ordenado o assassínio de Sergei Skripal. É “altamente provável”, disse Johnson. O Kremlin respondeu imediatamente: as afirmações de Johnson são “chocantes e uma indesculpável violação das regras e do correcto comportamento diplomático”.

Skripal e a filha, Iulia, que viviam em Salisbury, estão hospitalizados em estado muito grave depois de terem sido expostos a uma arma química (actua no sistema nervoso, que faz parte da série chamada Novichok), no que foi classificado pela NATO como o primeiro ataque do género na Europa desde a II Guerra Mundial. As potências ocidentais (Reino Unido, EUA, Alemanha e França) apontaram o dedo à Rússia. Mas as afirmações de Johnson marcam a primeira vez que as acusações se dirigem directamente a Putin.

 “A nossa disputa é com o Kremlin de Putin e com a sua decisão: achamos que é altamente provável que tenha sido decisão sua o uso do agente neurotóxico nas ruas do Reino Unido, nas ruas da Europa, pela primeira vez desde a II Guerra Mundial”, afirmou Boris Johnson, citado pela comunicação social britânica. Simbolicamente, fez as declarações no bunker da Batalha de Inglaterra, a partir de onde foram controladas as operações da II Guerra Mundial. 

Theresa May anunciou na quarta-feira uma série de retaliações contra Moscovo na sequência do envenenamento do antigo agente duplo russo – que vão desde a expulsão de 23 diplomatas russos do Reino Unido ao corte de todos os contactos de alto nível entre ambos os países.

Putin ainda não reagiu publicamente ao conflito diplomático, mas reuniu-se com o seu Conselho de Segurança na quinta-feira. De acordo com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, a retaliação do Kremlin será anunciada a qualquer momento. Em Moscovo diferentes responsáveis negaram qualquer responsabilidade no ataque e desacreditaram a investigação das autoridades britânicas e as respectivas conclusões.

Nesta sexta-feira, as autoridades britânicas informaram que 131 pessoas estiveram expostas à arma química utilizada para tentar matar os Skripal. Vinte e quatro foram submetidas a tratamento médico, incluindo um polícia que se encontra ainda em estado crítico.  

A polícia britânica informou também nesta sexta-feira que abriu uma investigação por homicídio à morte do russo Nikolai Glushkov, que foi encontrado esta semana morto na sua casa em Londres. Glushkov estava exilado no Reino Unido e era parceiro de negócios do oligarca russo Boris Berezovski, encontrado morto em Março de 2013 no seu apartamento também em Londres. As causas da morte ainda são desconhecidas. As conclusões iniciais das autoridades britânicas apontavam para suicídio. Mas próximos do oligarca duvidaram desta conclusão, até porque Berezovski já tinha sido alvo de planos para o assassinar.

Uma dessas pessoas que apontavam para a hipótese de homicídio era precisamente Glushkov. Em declarações ao The Guardian nesse ano, o empresário afirmava: “Estou convencido de que Boris foi morto. Eu tenho informação bastante diferente da que tem sido publicada pela comunicação social´.”

Horas antes deste anúncio, o Comité de Investigação do Governo russo deu conta, em comunicado, de que também abria uma investigação ao que disse ser o “homicídio” de Glushkov, bem como à tentativa de assassínio da filha de Serguei Skripal, afirmando que os seus investigadores estão a trabalhar em conjunto com as autoridades britânicas.

A polícia londrina explicou, no entanto, que não há nada que ligue a morte do empresário ao envenenamento dos Skripal. As autoridades britânicas referiam que a causa da morte de Glushkov, de 68 anos, era desconhecida. Mas agora estão a tratar do caso como homicídio, tal como o Kremlin. De acordo com o comunicado da polícia londrina, citado pela Reuters, o empresário morreu devido a uma “compressão no pescoço”, sugerindo que foi estrangulado.

Glushkov trabalhou durante os anos 90 na companhia aérea estatal russa Aeroflot e na empresa de Boris Berezovski, a LogoVaz. Quando as relações entre Berezovski e Putin azedaram, Glushkov foi acusado de lavagem de dinheiro e fraude. Em 2004, foi libertado depois de ter estado cinco anos preso, tendo recebido asilo no Reino Unido, garantindo sempre que estava a ser perseguido pelo Kremlin.

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