FBI desmantela empresa que vendia BlackBerry e Samsung modificados ao Cartel de Sinaloa

Presidente executivo da canadiana Phantom Secure é acusado de cumplicidade no tráfico de droga transnacional e pode ser condenado a prisão perpétua.

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Site da Phantom Secure DR

Uma operação do FBI, em conjunto com as polícias do Canadá e da Austrália, levou esta semana à acusação do líder de uma empresa canadiana que modifica telemóveis para serem usados por cartéis de droga. Vincent Ramos, presidente executivo da Phantom Secure, pode vir a ser condenado a prisão perpétua.

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Uma operação do FBI, em conjunto com as polícias do Canadá e da Austrália, levou esta semana à acusação do líder de uma empresa canadiana que modifica telemóveis para serem usados por cartéis de droga. Vincent Ramos, presidente executivo da Phantom Secure, pode vir a ser condenado a prisão perpétua.

Esta não é a primeira operação do FBI contra empresas que modificam smartphones para os tornarem ainda mais seguros, mas é a primeira vez que uma delas – e uma das mais importantes – é acusada de o fazer com o objectivo de facilitar as comunicações entre criminosos.

E essa é a primeira grande diferença entre o caso da canadiana Phantom Secure e os de outras empresas que costumam estar a braços com as autoridades, como a norte-americana Apple, por exemplo.

Em 2015, depois de Syed Rizwan Farook e Tashfeen Malik terem matado 14 pessoas num ataque em San Bernardino, na Califórnia, o FBI tentou forçar a Apple a derrubar os seus próprios sistemas de segurança no iPhone de um dos atacantes, mas a empresa norte-americana resistiu publicamente a essa ofensiva das autoridades – em causa, segundo o presidente da Apple, Tim Cook, estava um sistema de segurança que existe em todos os iPhones e que tem como objectivo salvaguardar a privacidade dos utilizadores contra possíveis ataques informáticos, roubo de informação ou vigilância ilegal. Para além disso, a Apple afirma que o sistema está desenvolvido de uma forma que impede a própria empresa de o derrubar.

No caso da operação que levou à acusação do presidente executivo da Phantom Secure a questão é outra: segundo o Departamento de Justiça norte-americano, "a Phantom Secure foi pensada para lucrar com a criminalidade realizada por organizações transnacionais em todo o mundo".

Empresas como a Phantom Secure não se limitam a revender smartphones um pouco mais seguros; compram smartphones de várias marcas (no caso da Phantom Secure, as marcas preferidas eram a canadiana BlackBerry e a sul-coreana Samsung), tiram-lhes câmara, GPS, microfone e aplicações de mensagens, e injectam um programa chamado Pretty Good Privacy que reforça a segurança dos e-mails – na prática, o smartphone que é depois vendido serve apenas para enviar e receber e-mails, mas altamente seguros e enviados para servidores localizados em países que não costumam colaborar com as autoridades, como o Panamá ou Hong Kong. Para além disso, a Phantom Secure garantia também que podia apagar toda a informação contida num dos seus smartphones modificados a pedido dos clientes – uma garantia que tranquilizava os traficantes de droga cujos telemóveis fosse apreendidos pela polícia.

O serviço vendido pela Phantom Secure custava entre dois mil e três mil dólares (entre 1600 e 2400 euros) por seis meses e só podia ser activado após a recomendação de um cliente. Segundo a acusação, há no mercado entre dez mil e 20 mil smartphones modificados pela Phantom Secure, a maioria na Austrália – as autoridades australianas apreenderam cerca de mil numa operação que levou também ao congelamento de contas bancárias da Phantom Secure.

"A acusação de Vincent Ramos e dos seus colaboradores é um marco contra o crime transnacional", disse o director do FBI, Christopher Wray, num comunicado publicano no site do Departamento de Justiça norte-americano. "A Phantom Secure fornecia um serviço desenhado para permitir a criminosos em todo o mundo escaparem às polícias para traficarem droga e cometerem actos de violência. Ramos e a sua empresa fizeram milhões com esta actividade criminosa, e a nossa operação envia uma mensagem séria a quem se aproveita da encriptação para fugir às autoridades", disse o mesmo responsável.

Vincent Ramos foi detido em Seattle, nos Estados Unidos, perto da fronteira com o Canadá. Durante um ano, vários agentes da Polícia Montada do Canadá actuaram como se fossem traficantes de droga para levarem Ramos a dizer que a sua empresa tinha mesmo como finalidade facilitar o trabalho de criminosos.

Num dos encontros, os agentes perguntaram se seria seguro "enviar MDMA [ecstasy] para Montreal", tendo o presidente executivo da Phantom Secure respondido: "Sem problemas." Numa outra situação, segundo a acusação, Vincent Ramos diz mesmo que o serviço da sua empresa está feito "também especificamente para isso", no seguimento de uma conversa sobre tráfico de droga.