O Curdistão chega a Lisboa

Mostra de filmes, exposições e música em diversos espaços da cidade, com o cinema São Jorge como centro. Uma organização que quer resgatar uma cultura, uma memória colectiva.

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My Mother’s Song, de Erol Mintas: refugiados curdos numa Istambul moderna

Realiza-se já este mês a primeira edição do Festival de Cinema e Artes Curdas, de 21 a 27 de Março: mostra de filmes, exposições e música nos diversos espaços albergados pelo evento, com o cinema São Jorge como centro. Após a criação da organização sem fins lucrativos Jîyan – “vida” em português –, por parte de um grupo de voluntários que se juntou em Lisboa (curdos, dinamarqueses, italianos e, na sua maioria, portugueses), esta entidade cultural decidiu unir forças e trazer para Portugal um festival que se vai espalhando por outras cidades europeias. Ilyas Kirkan, um dos responsáveis pelo projecto e espectador de festivais de cinema curdo em Londres, onde viveu anteriormente, notou na sua chegada a Lisboa a falta de iniciativas que se propõem promover e difundir a cultura de um povo deslocado, desenraizado. Eis o “quando”, o “onde” e o “como”.

Jîyan, associação que se intitula como apolítica, não-religiosa, independente, e que se identifica com o multiculturalismo, a igualdade de género, a disseminação e preservação da cultura curda, propõe-se criar um evento que privilegie uma herança de tradições, salvaguardadas pela figura feminina. Enfatizará o papel da mãe, da mulher como símbolo da origem da vida, da necessidade de proteger, de preservar uma cultura – a figura que unifica um território estilhaçado.

Resgate de uma memória colectiva – a Jîyan esforça-se para contornar os obstáculos que se apresentam aos artistas curdos – o festival dedica-se também ao aprofundamento de laços entre a comunidade portuguesa e curda, trazendo a Lisboa uma história, língua e cultura. Funciona, sintetiza Ilyas, como “um guarda-chuva para a cultura curda.” 

A programação já foi revelada. Lugar marcado no São Jorge, que de 23 a 25 de Março é o ecrã de uma mostra de filmes. Na primeira sexta-feira, 23, será exibido ZER, viagem de um homem às suas raízes curdas numa aldeia afastada da História. Vindo de Istambul, o realizador Kazim Öz estará presente. Ainda nesse primeiro dia poderemos visitar uma exposição de fotografia, sob o tema dos refugiados, numa das salas do São Jorge, da artista turca Sinem Tas. A 24, o documentário DIL LEYLA, trabalho biográfico sobre a vida de Leyla Imret, a mais jovem mulher a exercer o cargo de Presidente da Câmara de Cizre, a sua cidade natal na Turquia – Leyla Imret estará num painel de discussão após a sessão. Segue-se House Without a Roof, de Soleen Yusef. Por fim, a 25, o documentário Radio Kobanî, de Reber Dosky, sobre uma jovem repórter em território alvo de massacres. A encerrar, o o drama familiar, realizado por Erol Mintas, My Mother’s Song, sobre refugiados curdos numa Istambul moderna.

Para além desta mostra de filmes, haverá ainda uma exposição, Newroz // A Kurdish Delight, colectiva de artistas não-curdos, na Galeria Foco em Lisboa (de 22 a 31). O Festival conta ainda com uma performance musical levada a cabo pela cantora e jornalista curda Suna Alan. O evento tem o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, da EGEAC e do São Jorge.

 

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