Pensionistas na rua para protestar contra aumento dos impostos de Macron

Reformados foram o sector da população que mais votou no Presidente francês. Mas estão descontentes com a forma como estão a ser tratados.

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Macron é visto como "é arrogante e desdenhoso" YOAN VALAT/EPA

Os reformados franceses saem à rua esta quinta-feira para protestar contra o aumento dos impostos sobre as pensões que entrou em vigor em Janeiro. “Para pensionistas como eu, é uma verdadeira catástrofe. Esta medida tem sido apresentada como ‘apenas justa’, mas é uma injustiça, pura e simples”, disse Ivan Mary, um pensionista de 71 anos que a Reuters encontrou à entrada de uma padaria na praça central de Pontoise, 30 quilómetros a Noroeste de Paris.

“Há um sentimento de traição. Não era disto que as pessoas estavam à espera, incluindo as que votaram em Macron”, afirmou Ivan Mary. Emmanuel Macron foi o candidato que teve o melhor resultado nas presidenciais do ano passado entre os maiores e 65 anos: na segunda volta, 76% deste sector do eleitorado votou nele.

Em causa estão as pensões superiores a 1289 euros, que sofrem um aumento de 1,7% da contribuição social generalizada (CSG), que passa de 6,6% para 8,3%, sem que muitos dos reformados recebam uma compensação através de outras obrigações para com o Estado, ao contrário do que acontece com os trabalhadores activos e os funcionários públicos, diz o Le Monde. “Não tratar os reformados como os outros é uma provocação”, afirma Christian Bourreau, da Confederação Francesa dos Pensionistas.

O resultado é que a manifestação deste 15 de Março foi convocada por nove sindicatos, solidários com a indignação dos pensionistas. Além disso, o protesto serve de toque de alvorada para uma nova “Primavera do Descontentamento”: há já greves nacionais marcadas para 22 de Março, em protesto contra os planos de reforma do Governo nos caminhos-de-ferro.

Mas o Presidente Macron não tem facilitado a sua vida, com a forma como tem enfrentado as críticas do aumento dos impostos sobre as pensões, embora seja frequentemente interpelado por reformados. “Não pertence a uma geração sacrificada”, respondeu a um pensionista em Agen. Exortou outro a “ter paciência". “Sei que estou a pedir um esforço aos mais velhos, que alguns se queixam, que isto não me torna popular, mas assumo-o”, afirmou o jovem Presidente.

Para além dos pensionistas, as reformas que Macron está a impor em França estão a alienar os eleitores de esquerda que votaram nele. Só cerca de um terço dos simpatizantes de esquerda apoiam agora o Presidente, e 43% dos que votam à direita permanecem com ele, diz uma sondagem Ifop-Fiducial deste mês.

“Tem a ver com as suas escolhas políticas – mas também com o estilo do Presidente”, comentou Bruno Cautrés, sociólogo na Universidade Sciences Po, em Paris, que recentemente fez um estudo sobre a forma como Macron é percepcionado. “Algumas das palavras que usa são percepcionadas de forma particularmente negativa, até mesmo pelos que votaram nele: é arrogante, desdenhoso, gosta de se exibir em conferências internacionais”, resumiu.

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