Finlândia é o país mais feliz do mundo

Os países nórdicos voltam a estar no topo das classificações, de acordo com a ONU. Felicidade está relacionada com apoios sociais e governação por parte dos Estados.

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Top 10 dos países mais felizes do mundo. Em 1.º lugar vem a Finlândia PAULO RICCA / PUBLICO
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2.º Noruega Reuters/DOMINIC EBENBICHLER
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3.º Dinamarca Reuters/SCANPIX DENMARK
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4.º Islândia Reuters/LUCAS JACKSON
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5.º Suíça LUSA/GIAN EHRENZELLER
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6.º Holanda LUSA/EVERT ELZINGA
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7.º Canadá NFS - Nuno Ferreira Santos
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8.º Nova Zelândia Reuters
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9.º Suécia daniel rocha
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10.º Austrália Reuters/JASON REED

A Finlândia obteve a classificação mais elevada no ranking do Relatório Mundial de Felicidade de 2018 (2018 World Happiness Report), anunciou esta quarta-feira a Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU. Os países nórdicos continuam a ocupar os principais lugares nas classificações do índice de felicidade, no entanto, a novidade é que a Finlândia ultrapassou este ano a Noruega, tornando-se o país mais feliz do mundo.

Pela primeira vez, a ONU analisou também a felicidade dos imigrantes em cada país, sendo que a Finlândia obteve o melhor resultado também a este nível. “A Finlândia subiu do quinto lugar para o topo do ranking deste ano”, afirmam os autores do relatório. Os restantes três lugares do topo são ocupados pela Noruega, Dinamarca e Islândia, sendo que, juntamente com a Suíça, apresentam pontuações muito próximas.

O estudo, realizado anualmente, mostrou que todos os países nórdicos obtiveram elevadas pontuações ao nível dos rendimentos, esperança média de vida e saúde, assistência social, liberdade, confiança e generosidade. O relatório baseou-se nas pesquisas da Gallup – empresa especializada em análises de índices através de amostras com representatividade nacional – sobre o bem-estar e felicidade, tendo sido ainda analisadas as percepções de corrupção e liberdade das populações nos diversos países.

Portugal encontra-se a meio da tabela, em 77.º lugar numa amostra de 156 países.

“Nos países nórdicos, Bernie Sanders (…) é apenas senso comum”

A Finlândia, com uma população de cerca de 5,5 milhões de pessoas, tem sido classificada como o país mais estável, seguro e com a melhor governação do mundo, estando ainda entre os países com menos corrupção e maior progressão social. A população finlandesa mostra-se confiante nas autoridades e instituições financeiras, de acordo com o diário britânico The Guardian. Meik Wiking, do Instituto de Pesquisas sobre a Felicidade da Dinamarca (Happiness Research Institute), afirmou que é notável que a Finlândia tenha sido classificada como o país mais feliz do mundo, tendo em conta que o seu “PIB per capita é mais baixo do que o dos países nórdicos vizinhos e é muito inferior ao dos EUA”, acrescentando que “os finlandeses são bons a transformar a riqueza [monetária] em bem-estar”, cita o jornal britânico.

Referindo-se aos cuidados de saúde gratuitos e educação universitária, Wiking acredita que este tipo de apoios tem grande impacto na felicidade da população. “Nos países nórdicos, em geral, pagamos algumas das taxas de imposto mais altas do mundo, mas existe um amplo apoio público em relação a isso porque as pessoas vêem os impostos como investimentos na qualidade de vida para todos.” Por fim, o investigador refere-se a Bernie Sanders, democrata derrotado por Hillary Clinton nas eleições primárias presidenciais norte-americanas de 2016, afirmando que “nos países nórdicos, Bernie Sanders não é visto como progressista – ele é apenas senso comum”, segundo o The Guardian.

Os países mais infelizes do mundo

O relatório da ONU revela ainda que os países mais infelizes do mundo são o Burundi, a República Centro-Africana, o Sudão do Sul e a Tanzânia. O Burundi, país do leste de África, encontra-se no meio de uma crise política desde 2015 e tem sido notícia devido a crimes contra a humanidade, nomeadamente execuções extrajudiciais, tortura e violência sexual. Em 2017, a Comissão de Inquérito das Nações Unidas alertou para violações dos direitos humanos levadas a cabo pelo Governo e autoridades nacionais. 

A República Centro-Africana, o Sudão do Sul, a Tanzânia, o Iémen e o Ruanda apontam níveis de felicidade mais baixos do que a Síria, em guerra há precisamente sete anos, chamando a atenção de governos e organizações em todo o mundo para a extrema violência e elevado número de mortes de civis.

O estudo mostra ainda o declínio progressivo dos EUA, reservando um capítulo especial para a análise dos motivos pelos quais o país desceu nas classificações. Apesar de ser uma das maiores economias do mundo e um dos países com o rendimento per capita mais elevado, os EUA têm-se debatido com problemas como a obesidade, a toxicodependência e a depressão, tendo descido para o 18.º lugar, cinco lugares abaixo da posição que ocupavam em 2016. “O bem-estar subjectivo na América tem sido sistematicamente prejudicado por três doenças epidémicas inter-relacionadas, nomeadamente a obesidade, o abuso de substâncias (especialmente a dependência de opiáceos) e a depressão”, disse ao The Guardian Jeffrey Sachs, director do Centro para o Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia em Nova Iorque e um dos autores do relatório.

O país que registou maior progresso face a anos anteriores foi o Togo, país africano que contrariou a tendência, tendo subido 18 lugares relativamente a 2015. Letões e búlgaros mostraram também níveis mais altos de felicidade. Já a Venezuela registou a maior queda, apesar de em termos absolutos permanecer um país com um índice de felicidade médio. O relatório sugere que os países latino-americanos, no geral, obtiveram um resultado superior ao que seria de esperar tendo em conta o PIB per capita, especialmente se comparados com os países do leste asiático que se encontram em crescente desenvolvimento.

A América Latina, muito associada a casos de corrupção, elevadas taxas de violência, criminalidade e pobreza tem conseguido, no entanto, índices de felicidade relativamente elevados. Os autores do relatório acreditam que a “abundância de calor familiar e outras relações de apoio social”, aspectos frequentemente desvalorizados face à riqueza e médias de rendimento, podem justificar este facto.

O relatório da ONU analisa ainda a maior migração humana da história, em que centenas de milhões de pessoas migraram das regiões rurais chinesas para as cidades, sem que tal se manifeste de forma positiva na felicidade da população. “Até mesmo passados sete anos e meio depois de migrarem para as áreas urbanas, os migrantes das zonas rurais são em média menos felizes do que poderiam ter sido [se não tivessem migrado]”, afirmou ao The Guardian John Knight, investigador do Programa de Economia Chinesa da Universidade de Oxford e um dos autores do relatório da ONU. 

Texto editado por Maria Paula Barreiros

 

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