Donatella Versace não quer usar pêlo. A crueldade animal tem os dias contados?

A criadora disse em entrevista que não quer matar animais por causa da moda. A Versace poderá juntar-se a uma lista crescente de grandes marcas internacionais que estão a banir o pêlo.

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REUTERS/Gonzalo Fuentes

Segundo Donatella Versace, a marca de roupa italiana poderá deixar de usar pêlo animal nas suas futuras colecções. Apesar de ainda existirem produtos deste tipo à venda, a criadora deu a entender que isso deixará de acontecer, sem adiantar detalhes.

"Pêlo? Estou fora disso. Não quero matar animais para fazer moda. Não me parece correcto", disse em entrevista à revista 1843, do The Economist. A decisão foi de tal forma um volte-face, caracteriza a revista, que à data em que era escrito o artigo – publicado online na quarta-feira – o site da Versace ainda estimulava os clientes a considerarem "casacos enfeitados de pêlo que fazem virar cabeças". Uma porta-voz da marca disse à WWD que, sobre este tema, não têm mais comentários a acrescentar.

Se a visão da criadora for aplicada, a marca juntar-se-á a um número crescente de outras que baniram o pêlo das suas colecções, como a Calvin Klein, Vivienne Westwood, Armani, Hugo Boss, Michael Kors, Ralph Lauren e Tommy Hilfiger. Ainda esta semana, a Furla anunciou à WWD  que vai passar a ser "fur-free", a partir da colecção que chega às lojas em Novembro; no final do ano passado, a Gucci – uma marca que vive actualmente uma fase de renascimento, com enorme popularidade – decidiu também acabar com o pêlo, a partir da colecção Primavera/Verão 2018.

"Acham que usar pêlo ainda é moderno? Eu não acho e essa é a razão pela qual decidimos não o fazer. Está um bocado ultrapassado", disse na altura o CEO e presidente da Gucci, Marco Bizzarri. Giorgio Armani justificou a decisão, apontando, citado pelo Guardian, que "as novas tecnologias tornam o uso de práticas cruéis [para os animais] desnecessárias".

Nem pêlo, nem pele

É de notar, no entanto, que, ao contrário de Stella McCartney – que desde o início se distinguiu pela sua abordagem ética à moda, sem sacrificar de forma alguma o estilo –, a maioria das marcas internacionais continua a usar pele, sobretudo nos acessórios. Um dos modelos mais icónicas da designer britânica, a mala Falabella, prova que é possível uma peça de luxo sem materiais de origem animal apelar ao grande público, não apenas a pessoas com preocupações éticas. A última apresentação da marca, na semana passada, colocava as questões da sustentabilidade no centro da colecção. "É fazível. Estou aqui para mostrar a todos que conseguimos mesmo fazê-lo e, com esperança, sem qualquer cedência. Essa é a mentalidade que precisamos de espalhar. Que conseguimos mesmo ter tudo", comenta a criadora, citada pelo Guardian.

Tanto a PETA como a Humane Society  International (HSI), aplaudiram as declarações de Donatella Versace, notando que outros criadores deveriam seguir o seu exemplo. "A Versace é uma marca de luxo internacional imensamente influente que simboliza o excesso e o glamour, por isso a sua decisão de parar de usar pêlo mostra que a moda de compaixão nunca foi maior tendência", comenta Claire Bass, directora da USI do Reino Unido, em comunicado, no site. Mas também houve reacções do lado da International Fur Federation, o CEO Mark Oaten está "muito desiludido" porque a Versace disse que vai deixar de usar pêlo verdadeiro – a sua preocupação passa por questões ambientais, se não usa pelo, passará a utilizar materiais à base de plástico, calcula, segundo o The Mirror.

Há muito que o pêlo sintético deixou de ser visto como uma alternativa barata e de menor qualidade aos sumptuosos casacos de vison ou raposa. A evolução no fabrico destes materiais, a par da ascensão de marcas de culto, como a Shrimps – fundada em 2013 e adorada por inúmeras fashionistas, desde Alexa Chung a Kate Moss – e da crescente procura de escolhas éticas por parte dos consumidores, tem conduzido à mudança. O Culto juntou uma fotogaleria com opções amigas dos animais.

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