Deep State, uma viagem ao mundo da espionagem

A primeira produção dramática da divisão europeia e africana da Fox foi rodada em parte em Londres, onde fomos visitar a rodagem. Com Mark Strong à frente de um elenco que inclui também Joe Dempsie, de A Guerra dos Tronos, é uma história sobre espiões.

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Mark Strong em Deep State Fox Networks Group (UK)
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É Agosto e faz algum frio em Londres. Num dia de rodagens da série Deep State, jornalistas de todo o mundo podem ver duas cenas a serem rodadas. Uma decorre na rua e dentro de um carro, a outra acontece num café. Nenhuma delas tem muito movimento, nem é particularmente excitante. A do café, então, envolve um close-up gigante que é suposto passar-se em Washington.

A falta de acção é estranha, tendo em conta que a série, a primeira produção dramática do Fox Networks Group Europe & Africa, conta uma história internacional de espiões que se desenrola no Bahrein, em França, em Teerão, no Reino Unido e em Washington, apesar de ter sido gravada em Marrocos, que fez de Médio Oriente e de França, e em Londres, que era ela própria e os Estados Unidos.

Uma criação de Simon Maxwell e Matthew Parkhill, Deep State estreia-se na Fox a 23 de Abril, com um episódio duplo – serão ao todo oito. A série gira à volta de Max Easton, um espião reformado do MI6, os serviços secretos britânicos, que volta ao activo para um último trabalho que envolve uma crise de mísseis no Irão e o seu próprio filho, Harry Clarke, que seguiu a mesma profissão que o pai e terá, quando a história começa, morrido em combate.

Joe Dempsie, o actor que faz de Harry, está a promover a série, apesar de a sua personagem estar morta. Como é que isso acontece? O argumento foi construído com “duas linhas temporais separadas, que correm em paralelo e que se juntam a dada altura”, explica o britânico ao PÚBLICO e a outros jornais num dos intervalos da rodagem. “O pai de Harry desapareceu quando ele tinha 15 anos e, quando o vemos pela primeira vez na série, ele está em Teerão, onde há um pequeno grupo de agentes que têm como missão assassinar cinco cientistas nucleares iranianos, porque existem informações que sugerem que o Irão está prestes a renunciar ao acordo nuclear.” Joe Dempsie descreve assim o seu papel nesta história e os jornalistas aproveitam para lhe perguntar sobre o facto de, na noite anterior, Gendry, a personagem pela qual é reconhecido em A Guerra dos Tronos, ter voltado a aparecer na série após anos arredada do ecrã.

Num intervalo durante a rodagem da cena do carro, Mark Strong, que tem o papel do espião reformado Max Easton, fala com jornalistas sobre as oportunidades que a televisão lhe dá – o actor durão britânico já não tinha um papel regular em televisão desde 2013, quando fez Low Winter Sun, do AMC, um remake de um original inglês que já contava com ele. Refere que, por oposição a um filme, uma série dá para, “ao longo de oito ou dez horas, explorar personagens e contar histórias mais complicadas”. Ainda assim, este actor continua a ter uma carreira forte no cinema – este ano tem três filmes novos a sair.

Karima McAdams, que faz de Leyla, uma colega de Harry que é meio marroquina e meio britânica, assegura a complexidade de Deep State, que tece uma teia “onde não há buracos” e se cruza com muita “informação factual”. Mas a série não é, avisa Dempsie, um despejar “constante de gíria de espionagem e de cenas aceleradas, há nela “várias relações pessoais cheias de subtilezas”.

Uma série que não quer ser como as outras

Matthew Parkhill explica que uma das inspirações por detrás da série é Syriana, o filme de 2005: “É complexo e fascinante. Tens de ver cinco vezes para perceber tudo (eu precisei de ver seis).” Aquilo que retém do filme de Stephen Gaghan é o quão realista tudo é: “É um thriller de conspiração internacional com um enredo muito emocional, mas nunca deixa de ser real.”

A busca pelo realismo nesta série vê-se na tentativa de reflectir aquilo que se está a passar no mundo real. “Escrevi um final de temporada diferente do que teria feito se o mundo não estivesse como está”, alega Parkhill. Antes, afirma, era só sobre o acordo nuclear com o Irão, mas a eleição de Trump fez com que “crescesse em várias direcções interessantes”. Para a verosimilhança, foram consultados ex-espiões, analistas e outros especialistas em serviços secretos. “Há bastante liberdade poética, mas quisemos garantir que tudo o que imaginamos poderia acontecer”, assume Tom Nash, um dos produtores de Deep State.

Alistair Petrie, um actor descontraído que não tinha cenas para rodar, mas resolveu passar pelas filmagens naquele dia para conversar com os jornalistas, corrobora isso: “Tenho dois amigos que estiveram no MI5. Quando falas com pessoas nos serviços de segurança... há sempre uma pausa antes de confirmarem que o que acontece é possível.”

Essa busca pela verdade traduz-se também na forma como as personagens femininas são tratadas. Tom Nash afirma que estas são mais bem exploradas do que noutras séries do género, algo que actrizes como Lyne Renée, que faz da nova mulher francesa de Max, confirmam. “Estou muito orgulhoso das minhas personagens femininas”, declara Parkhill. Assegura tentar certificar-se sempre de que os diálogos das mulheres não são só sobre os homens na vida delas. “São personagens fortes e tento sempre não as sexualizar nem as encher de maquilhagem”, prossegue. Até porque, reitera, muitas vezes vê séries generalistas em que as personagens estão sempre impecáveis e perfeitas e isso não o satisfaz. “Quero que isto seja realista”, esclarece o autor.

Outra falha de séries destas costuma ser a pouca atenção dada à cultura local. Hilary Bevan Jones, uma das produtoras da série, e uma veterana com quase 40 anos de experiência, sublinha que queriam ser “culturalmente atentos” e, quando passaram por Marrocos, tentaram usar o máximo possível de técnicos locais. Nash adiciona: “Não temos propriamente bons e maus. Se houver vilões, estes são ingleses e americanos. Seguimos o dinheiro e o poder. E há personagens do Médio Oriente muito fortes, com as suas próprias motivações.”

Parkhill concorda: “Filmámos três meses em Marrocos, um país muito muçulmano. Numa altura em que o mundo muçulmano é frequentemente visto por olhos muito simplistas, muito assente em dizer ‘nós’ ou ‘eles’, esta série não quer ser assim. Tentámos subverter estereótipos e incluir elementos da identidade dos actores nas personagens. Acertar nesses pormenores é algo que importa muito para mim. Espero ter acertado, mas de certeza que lixei alguma coisa.”

O PÚBLICO viajou a convite da Fox

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