Família e advogado têm dúvidas quanto à autoria da carta de jovem adoptada pela IURD

Mãe transmitiu aos deputados receio de que jovem estivesse em perigo. Vera alegadamente respondeu, escrevendo também aos deputados para dizer que não existem motivos para preocupação.

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Alegada carta de Vera Andrade deu entrada nesta quarta-feira no Parlamento LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

O advogado Garcia Pereira, que é mandatário de uma das mães cujos filhos foram adoptados por responsáveis da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), afirmou nesta quarta-feira ao PÚBLICO que têm “as maiores dúvidas quanto à autoria real da carta” que foi divulgada nesta terça-feira pelo Expresso. A autoria desta missiva foi atribuída a Vera Andrade, um dos três filhos de Maria, o nome fictício escolhido pela mãe, que na década de 90 foram adoptados por bispos da IURD.

Segundo o PÚBLICO apurou junto dos serviços do Parlamento, a carta deu entrada nesta quarta-feira na Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, onde este caso foi abordado na semana passada no âmbito da análise de uma petição pública, com cerca de seis mil assinaturas, onde se solicita a abertura de um inquérito parlamentar às alegadas adopções ilegais por parte da IURD.

Alegadamente Vera Andrade afirma, nesta carta, que foi “surpreendida na comunicação social com a preocupação dos senhores deputados que temiam que estivesse em perigo por ter deixado de utilizar as redes sociais”. “Não conheço as pessoas que vos deram as informações, mas posso garantir que estou muito bem e não há nenhum motivo para preocupação”, acrescentou.

O receio de que a Vera pudesse estar em perigo foi apresentado aos deputados pela sua mãe biológica numa audição à porta fechada realizada na semana passada, que se prolongou por três horas. Na sequência deste testemunho, a Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias decidiu enviar as informações recolhidas para o Ministério Público por considerar que tinham sido relatados “factos graves, ocorridos recentemente, que eventualmente terão relevância criminal”.

O Ministério Público (MP) abriu um inquérito às adopções por parte da IURD na sequência da investigação divulgada em Dezembro pela TVI. Garcia Pereira alerta agora que é preciso “estar muito atento ao que o Ministério Público está a fazer e mais ainda ao que não está a fazer” no âmbito deste processo, adiantando que neste caso o segredo de justiça poderá estar a ser sobretudo utilizado “para não permitir que as partes queixosas verifiquem quais as diligências que estão a ser feitas pelo MP”.

O advogado defende também, por outro lado, que só um inquérito parlamentar poderá garantir que se “adoptem medidas para impedir que volte a acontecer” o que aconteceu na década de 90, quando pelo menos 10 crianças, segundo a TVI, terão sidas tiradas às famílias biológicas e entregues posteriormente para adopção a responsáveis da IURD.

A abertura de uma comissão de inquérito parlamentar só pode ser decidida se for proposta por um grupo parlamentar ou por um quinto dos deputados.  Por agora, segundo foi transmitido ao PÚBLICO pela maioria das bancadas, ainda nenhum grupo parlamentar decidiu avançar com esta iniciativa. “Decidiremos quando estiver presente e agendado para discussão o relatório na sequência da petição que está em análise no parlamento”, resumiu o líder do grupo parlamentar do PS, Carlos César.

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