Rui Rio também é visiting leader no PSD?

Haverá alguém que não esteja a “ser investigado pelo Ministério Público” na sua equipa?

O problema não é só de Feliciano. Rui Rio escolheu a dedo de quem se rodeou... E eventualmente não escolheu sempre bem (ouvem-se risos ao fundo). Haverá alguém que não esteja a “ser investigado pelo Ministério Público” na sua equipa? (Mas, também, haverá alguém que não esteja a “ser investigado pelo Ministério Público” – esse estatuto quase um estado de espírito, em que se pode andar anos e anos, sem acusação e sem julgamento, uma espécie de doença crónica nativa, uma invalidez cívica a 5% – em Portugal?)

Dá alguma pena, especialmente porque é certo também que há um PSD (o tal que já foi “sulista, elitista e liberal” ou aquele que simplesmente não renega o humano amuado e receoso que há em todos nós) que não perdoa a Rio várias coisas, entre elas ter ganho as eleições internas ou parecer dispensar o conselho e a proximidade de quem estaria habituado a mandar – e mandar consta que é coisa de que se gosta e que se entranha. E este PSD obviamente faz-lhe a vida negra com tudo o que pode.

Mas o que o Ministério Público ou sequer o PSD acantonado não sabem é que também eu me tornei nos últimos tempos um profundo conhecedor dos trabalhos de Feliciano. E sinto-me agora levemente consternado por aquilo que era coisa meio secreta, acreditando piamente ser um guilty pleasure pós-moderno só meu, se ter tornado num desporto nacional.

Começou com uma coisinha de nada. Começou quando passei os olhos por um texto de Feliciano Barreiras Duarte no jornal Expresso há umas semanas, em que discorria sobre banalidades da vida interna do seu partido, e onde este autor colocava ao lado do seu nome a referência a ser “doutorando” em Direito. Lembro-me que achei então que seria apenas uma daquelas parolices que felizmente já se vão tornando raras.

Depois, alguém me assinalou que sobre este autor se dizia ter escrito várias dezenas de livros - e de direito. Ora eu, que tenho o dever de ofício de conhecer quem escreve tão prolixamente sobre direito, não conhecia a sua obra! Fui procurar. E descobri efectivamente o seu currículo no portal público DeGóis, onde o autor – dentro do capítulo “Produção Científica” –  colocou não menos que 832 textos em jornais ou revistas e 25 livros. Estão lá os seus títulos. Os oitocentos e tal. Pode-se portanto ler, mesmo que com alguma incredulidade, linha por linha, a sua produção titulada. E fazer aquela lista dá trabalho, note-se. Ali há grande dedicação à partilha na comunidade científica, porque aqueles títulos todos têm de ser introduzidos à mão no portal, se bem recordo a construção do meu próprio CV nesta plataforma da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

O facto de se estar numa plataforma da FCT de partilha de informação bibliográfica e curricular de investigadores em Portugal poderia levar um incauto a pensar que quando se fala de “produção científica” se encontrariam artigos científicos. Ora, Feliciano – como dizer? – no mínimo leva mais longe as fronteiras da ciência. Aos cépticos digo apenas que me chamaram a atenção, por exemplo, apesar de não ter acedido ao seu conteúdo, referências como – e  cito – “Duarte, Feliciano J. B. 05 maio 2006. "Obrigado Scolari", Revista Ripa na rapaqueca” ou “Duarte, Feliciano J. B. 17 dez. 2004. "Entrevista “Perdoo mas não esqueço”" Região de Leiria, 0 - 0”.  Para quem achasse que um visiting scholar que nunca esteve na instituição de acolhimento não era suficientemente puxado… Ou então “Ripa na Rapaqueca” está prestes a ser indexada no Scopus e estamos todos loucos.

Em todo o caso, seguramente que os investigadores do futuro que queiram estudar o nosso tempo e a nossa classe política vão ter a vida facilitada com a longa lista de referências de Feliciano. Em alternativa, simplesmente como diriam alguns dos nossos compatriotas mais coloquiais: “que ganda maluco!”. E boa sorte aos colegas da Lusófona e da Autónoma (e ao PSD): se o fizeram, agora que o aturem.

 

PS – Há notícias não confirmadas de que o até agora Secretário de Estado norte-americano Rex Tillerson abandonou o cargo por ter entregue ao Presidente Trump um currículo em que se reivindicava como visiting scholar da Escola Secundária de Torres Vedras... o que não terá sido confirmado por esta instituição, que não recorda a presença do senhor Tillerson nem encontrou qualquer registo que o ateste. Curiosamente trata-se de escola que Feliciano Barreiras Duarte frequentou como estudante (ou pelo menos como visiting student). Ele há coincidências!

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